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sábado, 5 de novembro de 2022

COMIDA NAS COSTAS, BARRIGA VAZIA

 

 

Eis a Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes retornando da pandemia em grande estilo inundando nossos corações e mentes com seu tão bem vindo “amargo riso épico” para denunciar desta vez o mundo perverso em que vivem os motoboys, entregadores de comida para os mais favorecidos, um fazer chamado de liberal, mas que beira o trabalho escravo pelas condições em que se realiza. O título na peça é preciso ao descrever como normalmente se sentem esses trabalhadores.

A peça inicia nos dias de hoje com o atropelamento e morte de Jão, um entregador que luta pela sobrevivência como tantos outros, e em recurso épico notável a ação é deslocada para a idade média onde Pluto, o deus da riqueza e Lúcifer discutem sobre a formação de uma nova forma de relação de trabalho e de quem deveria participar desse universo: a igreja, os que mandam e detém o dinheiro e o poder e os que servem e obedecem. A partir daí desenvolve-se a saga de Jão, agora um entregador-mula de alimentos que na sua longa jornada até o entendimento (obrigado, Plínio Marcos) se encontra com um suposto líder e outros entregadores, entre eles, Joana que se destaca pela sua valentia e o modo de enfrentar os poderosos.

O texto de Alex Moletta é preciso e precioso dosando muito bem o humor e as condições dramáticas em que vivem os entregadores, seja na idade média, seja nos dias de hoje, afinal como disseram Hegel e Marx: a história sempre se repete. Luís Alberto de Abreu, fundador e colaborador da Fraternal, fez a consultoria do texto.

Ednaldo Freire, que está à frente da Fraternal há quase 30 anos (a companhia foi fundada em 1993) dirige a peça com sua habitual competência e talento, valendo-se da colaboração de Carlos Zimbher, compositor das músicas que ilustram e reforçam a ação; de Luiz Oliveira Santos que assina o cenário simples, mas eficiente e os deliciosos figurinos; de Fábio Lusvarghi nos importantes adereços;  de  Tatiane Guimarães na preparação dos atores e, é claro, do ótimo elenco que faz chegar até o público a saga de Jão.

A encenação permite excelentes momentos de cada intérprete: Mirtes Nogueira e Aiman Hammoud, presenças luminosas nas peças da Fraternal desde sua fundação; a surpresa da participação de Clóvis Gonçalves; a graça de Giovana Arruda que vai desde a entregadora Peixe até o engraçado Lúcifer; o trabalho de Luiã Borges; o crescimento da bela Maria Siqueira como atriz, dando vida à valentia e à coragem da entregadora Joana e, finalmente, o excelente Ian Noppeney,  que imprime humanidade ao Jão da história.

Na sessão a que assisti, adultos, jovens e crianças se emocionaram e com certeza vão refletir sobre o que viram em cena.

Entregadores, motoristas de aplicativos e seres humanos de um modo geral NÃO PODEM PERDER mais este lúcido trabalho da Fraternal. 

COMIDA NAS COSTAS, BARRIGA VAZIA está em cartaz no Espaço Parlapatões até 19/02/2023, mas não deixe para depois, aquilo que você pode assistir hoje! Sessões às sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 19h. 

05/11/2022

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