Eis a Fraternal
Companhia de Arte e Malas-Artes retornando da pandemia em grande estilo
inundando nossos corações e mentes com seu tão bem vindo “amargo riso épico”
para denunciar desta vez o mundo perverso em que vivem os motoboys,
entregadores de comida para os mais favorecidos, um fazer chamado de liberal,
mas que beira o trabalho escravo pelas condições em que se realiza. O título na
peça é preciso ao descrever como normalmente se sentem esses trabalhadores.
A peça inicia nos
dias de hoje com o atropelamento e morte de Jão, um entregador que luta pela
sobrevivência como tantos outros, e em recurso épico notável a ação é deslocada
para a idade média onde Pluto, o deus da riqueza e Lúcifer discutem sobre a
formação de uma nova forma de relação de trabalho e de quem deveria participar
desse universo: a igreja, os que mandam e detém o dinheiro e o poder e os que
servem e obedecem. A partir daí desenvolve-se a saga de Jão, agora um
entregador-mula de alimentos que na sua longa jornada até o entendimento
(obrigado, Plínio Marcos) se encontra com um suposto líder e outros
entregadores, entre eles, Joana que se destaca pela sua valentia e o modo de
enfrentar os poderosos.
O texto de Alex
Moletta é preciso e precioso dosando muito bem o humor e as condições
dramáticas em que vivem os entregadores, seja na idade média, seja nos dias de
hoje, afinal como disseram Hegel e Marx: a história sempre se repete. Luís
Alberto de Abreu, fundador e colaborador da Fraternal, fez a consultoria do
texto.
Ednaldo Freire, que
está à frente da Fraternal há quase 30 anos (a companhia foi fundada em 1993)
dirige a peça com sua habitual competência e talento, valendo-se da colaboração
de Carlos Zimbher, compositor das músicas que ilustram e reforçam a ação; de
Luiz Oliveira Santos que assina o cenário simples, mas eficiente e os
deliciosos figurinos; de Fábio Lusvarghi nos importantes adereços; de Tatiane
Guimarães na preparação dos atores e, é claro, do ótimo elenco que faz chegar
até o público a saga de Jão.
A encenação permite
excelentes momentos de cada intérprete: Mirtes Nogueira e Aiman Hammoud,
presenças luminosas nas peças da Fraternal desde sua fundação; a surpresa da
participação de Clóvis Gonçalves; a graça de Giovana Arruda que vai desde a
entregadora Peixe até o engraçado Lúcifer; o trabalho de Luiã Borges; o
crescimento da bela Maria Siqueira como atriz, dando vida à valentia e à
coragem da entregadora Joana e, finalmente, o excelente Ian Noppeney, que imprime humanidade ao Jão da história.
Na sessão a que
assisti, adultos, jovens e crianças se emocionaram e com certeza vão refletir
sobre o que viram em cena.
Entregadores, motoristas de aplicativos e seres humanos de um modo geral NÃO PODEM PERDER mais este lúcido trabalho da Fraternal.
COMIDA NAS COSTAS, BARRIGA VAZIA está em cartaz no Espaço Parlapatões até 19/02/2023, mas não deixe para depois, aquilo que você pode assistir hoje! Sessões às sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 19h.
05/11/2022
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