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quarta-feira, 5 de abril de 2023

AB CENAS PAULISTANAS

 

 

                                       Vamos almoçar, sentados na calçada

                                               Conversando sobre isso e aquilo

                                               De coisas que a gente não entende nada”

                                                         (Torresmo à Milanesa)

Quando as luzes do espaço cênico da aconchegante Casa da Gioconda se acendem, aos poucos vemos surgir aqui e ali a Pafunça; a infeliz Iracema, antes que um carro a “pinchasse” no chão; o Arnesto que deu a maior mancada com seus amigos, o Mané que foi abandonado pela Inês que saiu pra comprar pavio pro lampião e não “vortou” mais, a Gioconda, moça que deu nome à Casa; os sem teto Mato Grosso e Maloca e o Dito, que “troxe” ovo frito na “maumita”. Prestando bem atenção dá até para ver umas “mariposa” em “vorta” das “lampida”.

O universo e os personagens de Adoniran Barbosa (1910-1982) são recriados pelo dramaturgo Milton Morales Filho em pequenas cenas que são ilustradas pelas canções que lhes deram origem.

Conduzido por elenco e músicos afiados, o público passeia pelo Bixiga, pelo Viaduto Santa Efigênia, pela Vila Esperança, por Jaçanã e chega até a casa do Arnesto e dá com o nariz na porta; tudo isso sem sair da Rua Conselheiro Carrão.

        São vários os personagens em cena, mas vale destacar os sem teto vividos por Alexandre Meirelles (Maloca) e Thiago Carreira (Mato Grosso), o casal composto por Carlos Morelli (Mané) e Cy Teixeira (Inês), a Iracema de Joice Jane Teixeira e seu companheiro interpretado por Joaz Campos. João Attuy (presença forte), Frederico Mendonça e Leandro Medeiros completam o elenco.

        William Guedes assina a direção musical e a preparação vocal do elenco. Músicos: João Nepomuceno (violão), Lucas Brogiolo (percussão) e Marco Rochael (sopro)

        A denúncia à instabilidade/desigualdade social constante na obra de Adoniran também marca presença no espetáculo e tem seus momentos mais potentes nas falas de Maloca e Mato Grosso e, principalmente, na cena em que todo o grupo interpreta aquela que para este receptor é a obra prima de Adoniran: Despejo na Favela, mais atual do que nunca, haja vista a enormidade de seres vivendo nas ruas em condições sub humanas.

        O cenário composto de praticáveis que se deslocam conforme a necessidade é assinado, assim como os figurinos, pelo diretor e por Cy Teixeira.

        A meu ver, a montagem deveria ressaltar no título o nome de Adoniran Barbosa e não se limitar a um simples AB que não explicita um nome que poderia atrair público maior, uma vez que Adoniran é um querido tanto do Bixiga como de toda São Paulo.

        A peça está em cartaz na Casa da Gioconda até 15 de maio com sessões aos sábados, domingos e segundas às 19h30.

        05/04/2023

 

 

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