Páginas

domingo, 23 de abril de 2023

UMA CERTA NOVIÇA REBELDE

 

 

Lá se vão 58 anos. Em 1965 eu tinha 21 anos, estava no segundo ano da faculdade de engenharia e acho que ainda tinha um pensamento meio adolescente enxergando ingenuamente a ditadura que se instalara há um ano no Brasil como algo terrível, mas passageiro. Gritávamos “Abaixo a Ditadura”, cantávamos músicas de protesto e bobamente fazíamos parte da patrulha ideológica que não nos permitia gostar de certos filmes ou peças de teatro que eram considerados alienados, vergonhosamente apolíticos e dirigidos apenas a uma elite pequeno burguesa.

Contrariando meus líderes políticos fui ao antigo Cine Rivoli na Avenida São João (no quarteirão entre a Rua Dom José de Barros e a Avenida Ipiranga) assistir a um desses filmes: A Noviça Rebelde (The Sound of Music). E não contei pra ninguém, mas ADOREI o filme!

Filmado em belíssimas locações nos Alpes suíços o filme é de beleza e alegria contagiantes mostrando a história da ex-freirinha Maria junto aos sete filhos do Capitão Trapp. E que músicas!!! 

A gênese desse filme é bastante curiosa: no início dos anos 1950 a verdadeira Maria von Trapp (1906-1987) escreveu livro contando sua história.

Duas Marias: a da lenda e a real

O livro deu origem ao filme alemão A Família Trapp (1958) estrelado por Ruth Leuwerick, com relativo sucesso na época (em São Paulo ficou várias semanas em cartaz no antigo Cine Olido).

Entusiasmada com a saga da família von Trapp e vendo ali grande potencial para um musical, a Broadway reúne Howard Lindsay e Russel Crouse para escrever o libreto, Oscar Hammerstein II para criar as letras das canções e Richard Rodgers para compor a música. Nascia em 1959 um dos maiores sucessos norte-americanos: The Sound of Music, tendo Mary Martin no papel de Maria.

Finalmente em 1965 a peça é adaptada para o cinema com roteiro de Ernest Lehman e direção de Robert Wise com Julie Andrews, contando com algumas novas canções compostas por Richard Rodgers.

E o resto é história, mas vale lembrar que as versões teatrais que vieram depois do filme estão mais próximas deste do que do original de 1959. 

Tudo isso para contar que dias atrás me deparei com duas fotos no Facebook. A primeira reúne o elenco do filme em 1965 e a outra mostra o mesmo grupo cerca de 50 anos depois. Bateu uma saudade imensa e deu vontade de ouvir as canções (é o que estou fazendo agora) e rever o filme com aquele fim maravilhoso da família fugindo pelos Alpes da perseguição nazista na Austria, ao som de Climb Ev’ry Mountain, fato que na realidade nunca ocorreu, mas como dizia John Ford : Quando a lenda é mais interessante que a realidade , imprima-se a lenda

E por falar em realidade, estou aqui em meu quarto olhando o céu azul de uma manhã ensolarada de domingo que caberia muito bem no cenário do filme, mas não vejo os Alpes suíços e sim a cauda de Valentina sempre presente na paisagem da janela.

Estou feliz!

23/04/2023

Um comentário:

  1. A crônica remete a um passeio pelo tempo. Fico pensando, nesse período histórico, nessas salas de cinema da cidade, nesses filmes inesquecíveis...

    ResponderExcluir