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domingo, 4 de junho de 2023

VERDADE

 

                                                             Eu não vim pra explicar. Vim pra confundir

                                                                                                 (Chacrinha)

        Eu entendo a frase acima mais brechtiana do que muitas outras frases de Bertolt Brecht, uma vez que quando se confunde o espectador pode-se atingir o tão almejado “efeito  distanciamento” fazendo-o parar e refletir sobre o que está sendo apresentado.

        Acredito que este seja o norte do trabalho de Alexandre Dal Farra tanto como autor como diretor; seu teatro é muito mais de suscitar perguntas do que de oferecer respostas. As respostas ficam por conta de cada espectador. Se isso já estava presente em outras obras de Dal Farra, neste Verdade ele dá um passo além.

        Não creio que seja por acaso que em certos momentos o público fique em dúvida se quem está falando é alguém do exército ou seu antagonista que luta contra ditaduras, torturas e governos conservadores de extrema direita. As regras do jogo (ator com máscara ou sem máscaras) enunciadas por Alexandra Tavares no início do espetáculo são desobedecidas várias vezes durante a apresentação assim como o uso do uniforme do exército.

Também não acredito que não seja proposital o general Mourão lembrar o nosso atual mandatário em sua fala só de cuecas encima de um tablado.

Esse jogo quase dialético é para mim o grande achado do espetáculo.

Revendo a peça em melhores condições acústicas do que no porão do Centro Cultural São Paulo onde aconteceu a primeira temporada em 2022 e após ter lido o texto, pude melhor entender este trabalho do grupo Tablado SP (que já foi “de Arruar”). Poucas vezes tem-se visto em nossos palcos retrato tão impactante das Forças Armadas brasileiras e alerta importante de como elas podem agir em silêncio e de maneira dissimulada para reestabelecer governos de extrema direita no país.

É preciso estar atento e forte, parece alertar o excelente elenco da peça: André Capuano, Alexandra Tavares, Clayton Mariano, Gabriela Elias e Nilcéia Vicente interpretam vários generais, Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante e também são os narradores que vão pontuando as datas em que se passam as ações. Trabalhos de fôlego merecedores de todos os nossos aplausos.

E por último, mas não menos importante: creio estar claro que a comparação de Dal Farra com Chacrinha é um elogio! 

VERDADE está em cartaz no TUSP dentro do projeto exemplarmente denominado Teatro pós-Trauma. Temporada até 18/06 de quinta a sábado às 20h e aos domingos às 18h.

04/06/2023

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