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segunda-feira, 11 de setembro de 2023

QUANDO O DISCURSO AUTORIZA A BARBÁRIE

 

Como são frágeis as democracias latino-americanas!

Na manhã deste domingo eu relembrava muito triste o 11 de setembro de 50 anos atrás, quando um sangrento golpe militar derrubou o governo de Salvador Allende no Chile. Naquela época, a maior parte dos países latino americanos vivia debaixo de ditaduras e o governo de Allende representava uma luz de esperança para todos nós que vivíamos abaixo do equador. Mais triste fiquei ao ler uma reportagem mostrando o crescimento de grupos de ultra direita no Chile que reivindicam a volta de um governo conservador e totalitário e relembrar que também nós no Brasil, após ter sofrido com a ditadura civil-militar tivemos que engolir por quatro anos aquele ser ignóbil que foi eleito pelo povo!!

Foi movido a esse sentimento que me dirigi mais tarde ao SESC Belenzinho para assistir ao novo espetáculo da Companhia De Teatro Heliópolis e a emoção reprimida transbordou em lágrimas durante e após o espetáculo.

Desde Sutil Violento, a performatividade era uma tendência crescente nos trabalhos da companhia e desta vez o encenador Miguel Rocha radicalizou, criando um espetáculo quase sem palavras; elas aparecem aqui e acolá em falas gravadas e nas letras das canções entoadas, permeando as cenas onde os corpos mudos dizem mais do que elas; credite-se isso à excelente direção de movimento de Érika Moura.

Uma potente trilha sonora de Peri Pane e Otávio Ortega mescla trechos gravados com música ao vivo executada por Alisson Amador e Jennifer Cardoso, além de canções interpretadas em coro pelo elenco.

O chão que serve de túmulo também é aquele que fará crescer a vida e as plantas, essa é a primeira mensagem poderosa do espetáculo que inicia com um canto afro interpretado por Dalma Régia. Louve-se a cenografia de Eliseu Weidl, banhada lindamente pelas luzes de Guilherme Bonfanti. Completa a beleza visual da montagem os vídeos cuja edição é assinada por Gabriel Faustino.

Como se pode notar, Miguel Rocha mais uma vez harmoniza forma e conteúdo de maneira exemplar.

O espetáculo faz um dolorido passeio pela violência que sempre esteve presente na história desta terra desde quando os portugueses por aqui chegaram e a batizaram de Brasil culminando com a pandemia da Covid 19 que impulsionada pela negligência do governo do ignóbil vitimou mais de 600.000 pessoas.

Haja coração para suportar as cenas da violência com os escravos, das torturas sofridas pelos opositores do regime militar e da descrição de como eram algumas das vítimas da Covid 19, cena esta que encerra o espetáculo de maneira comovente.

O excelente elenco formado por Dalma Régia (poderosa como sempre!), Davi Guimarães, Walmir Bess, Fernanda Faran, Alex Mendes e Anderson Sales se incumbe das várias figuras que surgem durante o espetáculo. Por questões burocráticas, a menina Isabelle Rocha (filha de Dalma e de Miguel) não faz parte do espetáculo durante a temporada no SESC Belenzinho, mas fará quando o mesmo se transferir para a sede do grupo na Casa Mariajosé de Carvalho no mês de outubro.

Com o coração apertado e lágrimas nos olhos dei um abraço no Miguel Rocha ao final da peça, enfatizando que para mim este é seu melhor trabalho. 

QUANDO O DISCURSO AUTORIZA A BARBÁRIE está em cartaz no SESC Belenzinho até 01/10 às sextas e sábados às 20h e aos domingos às 17h

ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIO e IMPERDÍVEL.

LEMBRAR É RESISTIR! 

10/09/2023

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