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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

TEATRO ALIANÇA FRANCESA (★1964 ♱2023)

 

 

        Se fosse escrever sobre todos espetáculos memoráveis a que assisti no Teatro Aliança Francesa e sobre todos os excelentes artistas que pisaram naquele palco eu precisaria escrever um livro!

        Minha vida de espectador tem a idade desse teatro. Nele assisti à sua peça inaugural O Ovo e depois disso sentei numa de suas poltronas mais de cem vezes para vibrar com Rubens Corrêa (Diário de Um Louco), Marília Pêra (Fala Baixo Senão Eu Grito), Glauce Rocha (Exercício), Cleyde Yáconis (Tchin Tchin), Lilian Lemmertz (Dois na Gangorra), Eva Wilma (Black Out) e até Dercy Gonçalves (Os Marginalizados). Foi ali também que assisti a espetáculos memoráveis dirigidos por Antunes Filho (A Megera Domada, Black Out e A Cozinha) e todos aqueles do Grupo Tapa, que ocupou o teatro por 15 anos (de 1986 a 2001) dirigidos por Eduardo Tolentino de Araújo.

        Após a saída do TAPA o teatro fechou para reforma reabrindo em 2003 com uma programação irregular e pequeno movimento.

Em 2014, ao completar 50 anos, o Aliança ressurge como fênix prometendo programação digna do seu passado e a promessa foi cumprida até este 2023 quando a Aliança Francesa resolveu se desfazer do prédio e com isso o teatro será fechado no próximo domingo, dia 03 de dezembro, sem ter a chance de comemorar seus 60 anos em 2024.

Simbolicamente quem estará em cena para a última apresentação será Clara Carvalho, que tantas vezes brilhou naquele palco.

O PRIMEIRO E O ÚLTIMO ESPETÁCULO

MUITO TRISTE! 

30/11/2023 

Em tempo: Há cerca de dois anos a querida Livia Carmona e eu nos reunimos para contar a história do Teatro Aliança Francesa, encontro esse que pode ser visto no youtube.



                                                                                                                                                  

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

NOVEMBRO DE 2023

 

A correria do mês de novembro às voltas com os verbetes para as peças do Teatro Brasileiro de Comédia de 1948 a1964, fizeram com que eu pouco escrevesse sobre os dezenove espetáculos a que assisti neste mês.

Escrevi rapidamente sobre os gostosos Voz de Vó e Bossa Nova Cabaret Bar, ambos em cartaz no Teatro do SESI e mais em detalhes sobre Capiroto, Curtume, Luvas e Anéis e Pawana.

Mas é bom destacar outros importantes trabalhos vistos no mês: 

- O OUTRO BORGES – Dramaturgia de Samir Yazbek baseada no universo de Jorge Luis Borges, direção de Marcelo Lazzaratto com destaque para a impressionante composição de Marcelo Airoldi para o personagem Borges e a interpretação de Lilian Blanco como sua mãe. 

- ANA LÍVIA – Antológico trabalho de Georgette Fadel remetendo às figuras fellinianas criadas por Giuletta Masina (Gelsomina e Cabiria).

 

- MACBETH EM CORDEL – Versão rimada da tragédia de Shakespeare escrita por Lafayette Galvão e Gilberto Loureiro, dirigida com mão firme por Thiago Ledier e com excelente elenco liderado por Sergio Mastropasqua e Chris Couto.

- COMO SE FOSSE – Eu já havia escrito sobre esse excelente espetáculo dirigido por Verônica Fabrini e com ótimas interpretações de Alice Possani e Erika Cunha.

- TRAIDOR – Solo do sempre ótimo Marco Nanni, escrito e dirigido por Gerald Thomas. Visualmente belo e marcado por um tombo de Nanini que fez o espetáculo de estreia ser único e diferente de todos os outros que se seguiram. 

- ESCUTE AS FERAS – Texto instigante para um memorável trabalho de Maria Manoella.

- VIVA O POVO BRASILEIRO – Elenco excelente interpretando e cantando as belas melodias de Chico César para as letras de João Ubaldo Ribeiro. Direção impecável de André Paes Leme. Único senão: quase três horas sem intervalo! A peça também faz parte da abertura do SESC 14 BIS.

 

- AFETO – A encenação (tímida) não acompanha a ousadia (excelente) do texto, mas é muito bom testemunhar o trabalho das intérpretes e, em especial, de Maria Fanchin, uma atriz de brilho intenso.

E VIVA O TEATRO!! 

29/11/2023

terça-feira, 28 de novembro de 2023

PAWANA

 

Foto de Ligia Jardim

                 AWAITÉ PAWANA, algo como BALEIA À VISTA, é o brado dado dentro do navio baleeiro, pelo vigia nativo ao avistar a caça. Em questão de momentos a beleza e a placidez da paisagem se transformará em um mar de sangue e de barbárie, que só o homem é capaz de realizar.

                Essa discrepância entre a beleza da natureza e as ações do homem para destruí-la, em função de sua ganância é o tema da única peça de teatro escrita por Jean-Marie Gustave LeClézio (1940 -), vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2008.

        Para contar a história da sangrenta caça às baleias em uma idílica laguna onde elas se dirigiam para parir suas crias, LeClézio coloca em cena o capitão Charles Melville Scammon e um jovem marinheiro, cada um deles com duas narrativas, sem se cruzarem no palco.

O texto é belíssimo tanto nas narrativas singelas sobre a natureza como naquelas cruéis como a morte de Aracelly, índia que o jovem conheceu e amou e, principalmente, na descrição das caçadas sangrentas às baleias-cinzentas.

        A crueza da caça às baleias serve como metáfora para a violência do mundo atual onde guerras e a revolta da natureza destroem milhares de seres humanos. Não é à toa que LeClezio coloca na boca do capitão uma frase sobre a violenta destruição de mães e de seus filhos recém nascidos nos dias de hoje.

        De posse desse emblemático texto, José Roberto Jardim, com sua costumeira elegância, realizou o espetáculo ora em cartaz no reformado Teatro Àgora, que reabre suas portas depois de quatro anos. A pandemia e as obras do metrô não arrefeceram a garra de Sylvia Moreira e Celso Frateschi, proprietários do local.

        Celso Frateschi, com seu conhecido talento, encarrega-se das falas do capitão, enquanto Rodolfo Valente, uma grata revelação, narra as vivências do jovem marinheiro.



        Tudo funciona nesse espetáculo que beira a perfeição:

- Cenário formado por um círculo com chão coberto de pedregulhos brancos e quatro véus que vão do teto até o chão e que são incrivelmente iluminados por tons que comentam as narrativas. Essa beleza é creditada a Sylvia Moreira (cenário) e Wagner Freire (iluminação).

- Trilha sonora de Piero Damiani reproduzindo sons das baleias, ruídos marítimos e suaves melodias.

- Interpretações primorosas de Frateschi e Rodolfo

- E a mão do maestro José Roberto Jardim regendo toda essa beleza, apesar da crueza do relato.

No seu pequeno formato, Pawana é um dos grandes espetáculos do ano e merece toda a atenção e os aplausos da crítica e do público.

Ah! Leve o lenço, pois vi muita gente em lágrimas ao final do espetáculo!

PAWANA está em cartaz no Teatro Ágora até 11 de dezembro com sessões às sextas e segundas às 20h, aos sábados às 21h e aos domingos às 19h.

ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!

28/11/2023

         

       

       

domingo, 26 de novembro de 2023

LUVAS E ANÉIS

 

        São inúmeros os casos, no cinema e no teatro, de atrizes e atores que tiveram grandes momentos interpretando personagens com alguma deficiência. O caso mais emocionante que me veio à memória assistindo a Luvas e Anéis foi a peça O Milagre de Anne Sullivan encenada em São Paulo no ano de 1967 onde uma tutora com baixa visão tenta educar a menina Helen Keller, uma pessoa surdocega. As pungentes interpretações de Berta Zemel (Anne) e Reny de Oliveira (Helen) renderam muitos prêmios às duas atrizes. A peça também resultou em belo filme (1962) com Anne Bancroft (Anne) e Patty Duke (Helen).

        A escritora irlandesa Rosaleen McDonagh, cadeirante, nascida com paralisia cerebral, pertence a uma minoria étnica cigana e sofre duplo preconceito (étnico e por sua deficiência). Nessas condições, Rosaleen escreveu esse emocionante texto que mostra a difícil relação de uma garota surda com seu pai, que desconhece a língua de sinais. A moça vive o conflito de casar e ter uma vida acomodada ou de se dedicar ao boxe, esporte que adora. A peça tem como principal mote o empoderamento feminino e a luta contra os preconceitos.

        Domingo Nunez e Beatriz Kapschitz Bastos da Cia. Ludens, incansáveis pesquisadores e realizadores da dramaturgia irlandesa em palcos brasileiros, têm buscado, também dentro dessa dramaturgia, peças que tratam das deficiências e nesse percurso encontraram o belo texto de Rosaleen McDonagh ora encenado no SESC Santana.

        Para interpretar a garota surda escalaram Catharine Moreira, uma performer e atriz surda e aí está toda a força e significância dessa importante montagem. E isso, por si, seria significativo, mas é muito mais do que isso porque Catharine é uma grande atriz e com seu gestual e emissão de sons comunica toda a emoção da história ao espectador, que é auxiliado por legendas projetadas em uma tela. Seu pai, vivido com o todo o talento, por Edgar Castro é o contraponto de suas ações. O ator e intérprete de libras Fabiano Campos realiza belo e discreto trabalho fazendo a interpretação das falas do pai na língua brasileira de sinais (a Libras)

        Destaque para o belo e simétrico cenário assinado por Chris Aizner constituído por dois ringues de boxe com um saco de pancadas no meio.

        Aquilo que o privilegiado espectador presencia no palco do SESC Santana é um momento, que não seja o único, onde se aliam talento, solidariedade, comunhão e muitas provas de que não há limites para a capacidade humana.

        A peça tem suas últimas apresentações neste final de semana, mas urge que estenda suas apresentações em outros locais, pois além de ser um excelente espetáculo, é uma lição de vida.

        Obrigado a todas e todos envolvidas/os por esta incrível experiência.


        P.S. Para não incorrer em erros de nomenclatura contei com a valiosa colaboração de Paula Souza Lopez que sugeriu a inclusão da seguinte frase:

“Acredito firmemente que a arte def, ou seja, a arte feita por pessoas com deficiência tem o potencial para nos tirar, como artistas, da nossa zona de conforto. O trabalho do Domingos Nunez inova ao colocar uma atriz surda e um ator ouvinte contracenando em igualdade de importância. Este trabalho impactou a própria maneira dele mesmo trabalhar.”

Obrigado, Paula!!

        25/11/2023

sábado, 25 de novembro de 2023

CURTUME, DIAS SECOS INUNDADOS DE ACÁCIA

 

        As tranças de uma menina no saguão do teatro conduzem o espectador até ela, que está a raspar um fulão de curtume com uma pedra.

        A partir daí acompanhamos a trajetória dessa personagem por meio da interpretação, sempre visceral, da grande atriz Ester Laccava.

        Na trama, densa e distópica, criada pelo jovem dramaturgo Denizart Fazio, uma mulher revela sua vida em três momentos:

-  Como menina que brinca próxima a um curtume.

- Como mulher, que ao perder o emprego de faxineira, fica angustiada por não ter o que dar de comer aos seis filhos e procura emprego no curtume.

- Como velha que conversa com sua neta, ao mesmo tempo que responde a uma investigação feita por um policial sobre a morte do dono do curtume.

        O clima denso e distópico proposto pelo autor é perfeitamente traduzido cenicamente pela diretora Ester Laccava, auxiliada pelo cenário também criado por ela, pelo ambiente de luz e imagens criado por Mirella Brandi e pela poderosa trilha sonora com músicas originais de Mueptemo, nome misterioso que já havia criado a trilha de Ossada, outro espetáculo memorável da atriz.

        Laccava, como excelente intérprete que é, lança mão de seu talento e de seus penetrantes olhos verdes para hipnotizar a plateia ao denunciar a violência praticada com as mulheres e ao revelar uma das “maneiras” de combater essa violência.

        A notar também que Ester se utiliza de recursos épicos ao narrar algumas partes da história.

        Palmas para a versatilidade da atriz!

Ester, com o autor Denizart Fazio ao fundo

        CURTUME está em cartaz no Espaço Cênico do SESC Pompeia até 15/12 com sessões de terça a sexta feira sempre às 20h30.

        NÃO DEIXE DE VER!

        25/11/2023

 

       

       

       

 

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

CAPIROTO

 

Foto de Ernane Pinho

       - Boa noite. Eu sou o Capiroto e estou aqui para lhes dizer umas verdades: parem de me culpar por todo mal que as senhoras e os senhores fazem para a humanidade e assumam suas perversidades!

       O espetáculo escrito e dirigido por Rodrigo França e interpretado por Leandro Melo poderia começar assim e o bonito é que eles provam por A mais B que o Capiroto está com a razão ao se revoltar por ser responsabilizado pelos males do mundo.

O texto é quase didático (sem jamais ser chato) ao mostrar como a sociedade e as religiões criaram mitos que se prestam a perpetuar o poder daqueles que já o detém, mantendo os oprimidos como eternos humilhados, ofendidos e servis, como tão bem já demonstrou Dostoievski.    

 O tema é árido, mas a encenação assinada pelo próprio autor é tratada com leveza e até certo humor, para isso muito contribui a excepcional interpretação de Leandro Melo que dirige com muita elegância as acusações diretamente ao espectador sem agredi-lo, mas fazendo-lhe refletir sobre os fatos. Colaboram também para a grandeza da encenação o cenário de Clebson Prates, a iluminação de Pedro Carneiro, a trilha sonora de João Vinicius Barbosa e a importante arte digital de Akueran.

Foto de Adriano Escanhuela

       Quem já viu Leandro Melo nos diversos musicais em que participou (ele acaba de interpretar Lennie Dale em Elis – A Musical que estava em cartaz na Sala Nydia Licia do Teatro Sérgio Cardoso) sabe do seu talento como dançarino e cantor, mas só irá descobrir a sua potência e versatilidade como intérprete ao assistir Capiroto.

       É lastimável elogiar e querer recomendar um espetáculo quando ele já saiu de cartaz (quarta-feira, dia 08/11, foi a última apresentação), mas fica o alerta: se voltar ao cartaz, não perca CAPIROTO, um dos mais instigantes espetáculos apresentados nos palcos paulistanos neste ano.

Descubra de onde vêm os males que afligem nosso planeta e deixe o diabo em paz!

 

10/11/2023

      

 

domingo, 5 de novembro de 2023

A VOVÓ E A BOSSA NOVA no TEATRO POPULAR DO SESI

 

Dois espetáculos gostosos de assistir estão em cartaz no palco do Teatro do SESI, com o fim de alguns percalços que parecem ter sido praga do injustiçado Osmar Rodrigues Cruz, que tanto fez por aquele espaço e hoje está completamente esquecido.

VOZ DE VÓ é espetáculo infanto juvenil (mas que agrada a qualquer idade) escrito e dirigido por Sara Antunes que trata da memória e a perda dela por uma vó (Clarisse Derziê Luz) que não consegue encontrar sua casa. Seus netos Tito e Bento (em dois tempos: crianças e adultos) acompanham a saga da vovó à procura da casa.

Delicadamente interativa a peça encanta crianças e adultos com os músicos/atores Gui Calvazara (Bento) e Demian Pinto (Tito) e a deliciosa participação dos meninos Benjamin (Bento) e Antônio (Tito), filhos de Sara e de Vinicius de Oliveira.

Produção caprichada com excelente direção de arte de Analu Prestes.


BOSSA NOVA CABARET BAR é o espetáculo adulto que ocupa o palco do Teatro do SESI com muita música e muito humor. É a volta do Circo Grafitti após 15 anos. É um musical na forma das antigas revistas (tem até vedete fazendo número de plateia!) com músicas da bossa nova permeadas por esquetes de humor que introduzem a música que vem a seguir.

O elenco é ótimo e canta muito bem. Os músicos também são ótimos. Direção musical primorosa de Pedro Paulo Bogossian, que também é o pianista do grupo.

Rosi Campos encarrega-se da maior parte dos textos falados, mas também se sai bem cantando (sua interpretação de Eu e a Brisa é muito bonita, apenas prejudicada pelo figurino de Julieta para cena que ela faz a seguir).

Helen Helene em retorno muito bem-vindo aos nossos palcos brilha quando dá vazão ao seu lado humorístico.

 

Voz de Vó e Bossa Nova Cabaret Bar são espetáculos bastante apropriados ao público para o qual o Teatro Popular do SESI pretende se dirigir. Para a formação de público é importante apresentar espetáculos de fácil entendimento, sem, porém, abrir mão da qualidade tanto da forma como do conteúdo e esses dois espetáculos cumprem totalmente esses quesitos.

 

VOZ DE VÓ está em cartaz até 17/12 com sessões às quintas e sextas (11h e 15h) e sábados e domingos (15h);

 

BOSSA NOVA CABARET BAR está em cartaz até 04/02/2024 de quinta a sábado (20h) e domingos (19h)

 

Ingressos gratuitos para os dois espetáculos.

05/11/2023