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terça-feira, 28 de novembro de 2023

PAWANA

 

Foto de Ligia Jardim

                 AWAITÉ PAWANA, algo como BALEIA À VISTA, é o brado dado dentro do navio baleeiro, pelo vigia nativo ao avistar a caça. Em questão de momentos a beleza e a placidez da paisagem se transformará em um mar de sangue e de barbárie, que só o homem é capaz de realizar.

                Essa discrepância entre a beleza da natureza e as ações do homem para destruí-la, em função de sua ganância é o tema da única peça de teatro escrita por Jean-Marie Gustave LeClézio (1940 -), vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 2008.

        Para contar a história da sangrenta caça às baleias em uma idílica laguna onde elas se dirigiam para parir suas crias, LeClézio coloca em cena o capitão Charles Melville Scammon e um jovem marinheiro, cada um deles com duas narrativas, sem se cruzarem no palco.

O texto é belíssimo tanto nas narrativas singelas sobre a natureza como naquelas cruéis como a morte de Aracelly, índia que o jovem conheceu e amou e, principalmente, na descrição das caçadas sangrentas às baleias-cinzentas.

        A crueza da caça às baleias serve como metáfora para a violência do mundo atual onde guerras e a revolta da natureza destroem milhares de seres humanos. Não é à toa que LeClezio coloca na boca do capitão uma frase sobre a violenta destruição de mães e de seus filhos recém nascidos nos dias de hoje.

        De posse desse emblemático texto, José Roberto Jardim, com sua costumeira elegância, realizou o espetáculo ora em cartaz no reformado Teatro Àgora, que reabre suas portas depois de quatro anos. A pandemia e as obras do metrô não arrefeceram a garra de Sylvia Moreira e Celso Frateschi, proprietários do local.

        Celso Frateschi, com seu conhecido talento, encarrega-se das falas do capitão, enquanto Rodolfo Valente, uma grata revelação, narra as vivências do jovem marinheiro.



        Tudo funciona nesse espetáculo que beira a perfeição:

- Cenário formado por um círculo com chão coberto de pedregulhos brancos e quatro véus que vão do teto até o chão e que são incrivelmente iluminados por tons que comentam as narrativas. Essa beleza é creditada a Sylvia Moreira (cenário) e Wagner Freire (iluminação).

- Trilha sonora de Piero Damiani reproduzindo sons das baleias, ruídos marítimos e suaves melodias.

- Interpretações primorosas de Frateschi e Rodolfo

- E a mão do maestro José Roberto Jardim regendo toda essa beleza, apesar da crueza do relato.

No seu pequeno formato, Pawana é um dos grandes espetáculos do ano e merece toda a atenção e os aplausos da crítica e do público.

Ah! Leve o lenço, pois vi muita gente em lágrimas ao final do espetáculo!

PAWANA está em cartaz no Teatro Ágora até 11 de dezembro com sessões às sextas e segundas às 20h, aos sábados às 21h e aos domingos às 19h.

ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!

28/11/2023

         

       

       

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