Páginas

sábado, 9 de dezembro de 2023

HILDA E CAIO

 

Foto de Heloísa Bortz

É bonito e estimulante, para um velho espectador, testemunhar a evolução de um jovem artista e constatar que, desse modo, nosso teatro tem o futuro garantido.

Conheci Kiko Rieser em 2011, quando fazia meu mestrado na Unesp. Sempre polêmico e radical (como eu), nossas conversas sempre pegavam fogo (ainda pegam!!) quando divergíamos sobre uma interpretação ou sobre a qualidade deste diretor ou aquele espetáculo.

Em 2013 assisti a seu primeiro trabalho profissional como autor e diretor, era uma adaptação de Dom Casmurro intitulada Capitu, Olhos do Mar. Obviamente minhas restrições ao espetáculo ocasionaram calorosas e deliciosas discussões com Kiko.

Não se trata aqui de fazer uma biografia do autor/diretor e produtor que foi se impondo no cenário teatral paulistano ao longo dos últimos anos, mas cabe lembrar que em seu currículo Caio Fernando Abreu já compareceu duas vezes em Amarelo Distante e A Dama da Noite, ambas de 2016.

No início de 2023 Kiko nos apresentou belo texto baseado na vida de Dercy Gonçalves com memorável interpretação de Grace Gianoukas e agora para fechar o ano surge Hilda e Caio em curtíssima temporada no Centro Cultural Banco do Brasil. Foi muito boa a sua ideia de explorar o filão de ficcionalizar a vida de figuras reais.

Se em Nasci Para Ser Dercy, o dramaturgo dispunha de entrevistas e relatos da artista, em Hilda e Caio ele teve que imaginar as conversas entre Hilda Hilst (1930-2004) e Caio Fernando Abreu (1948-1996) quando este se hospedou na Casa do Sol entre 1968 e 1970, anos dos mais terríveis da ditadura civil militar brasileira. O resultado obtido por Kiko é brilhante e revelam sua maturidade como dramaturgo, sabendo compor a bem urdida trama com diálogos ágeis.

As personalidades de Hilda e Caio estão ali, presentes no palco, e para isso muito contribuíram as interpretações de André Kirmayr e da sempre poderosa e iluminada Lavínia Pannunzio que só neste ano nos ofereceu quatro grandes interpretações camaleônicas. Ela foi Winnie em Dias Felizes, Rainha Gertrudes em O Dia das Mortes na História de Hamlet, Bev, a companheira de uma atriz em The Money Shot e agora Hilda Hilst, todas belíssimas interpretações, sendo duas antológicas: Winnie e Hilda.  

O sugestivo cenário é assinado por Kleber Montanheiro; o desenho de luz é de Gabriele Souza e a música tem Mau Machado como compositor. Ficha técnica exemplar graças aos produtores Kiko e Maurício Inafre.

O espetáculo Hilda e Caio dignifica quem o inspirou e traz um pouco deles para o público atual. Uma grande quantidade de jovens entusiasmados estava presente na sessão a que eu assisti.  

E o ano começou e termina com obras de Kiko Rieser em cartaz. Isso é um bom sinal!

A curtíssima temporada de Hilda e Caio (apenas 12 apresentações) no CCBB termina no dia 17/12. Sessões às quintas e sextas às 19h e aos sábados e domingos às 17h.

NÃO DEIXE DE VER! 

09/12/2023

Um comentário: