Tudo parece colaborar
para o resultado deste espetáculo, começando pela escolha desta enxuta e
palatável primeira versão de Hamlet, escrita vinte anos antes daquela
normalmente encenada entre nós (o programa da peça apresenta cuidadosa matéria
do tradutor José Roberto O’Shea sobre as três versões da mesma).
A seguir cabe
destacar a excelente tradução que é coloquial, sem ser vulgar jamais.
Depois de realizar
algumas montagens barrocas e rebuscadas demais (Cordel do Amor Sem Fim, Henrique
IV e Ubu Rei), Gabriel Villela opta por uma equilibrada direção
privilegiando as músicas bem encaixadas na trama e muito bem interpretadas pelo
elenco (méritos de Babaya Moraes e Dan Maia), o cenário pesado de J. C.Serroni
que remete às destruições ambientais tão presentes atualmente e a iluminação de Wagner Freire.
O elenco sabe dosar
emissão/entonação/impostação na medida certa oferecendo um verdadeiro presente
para os ouvidos do espectador.
O equilíbrio citado
anteriormente também está presente no numeroso elenco tanto nos papeis menores
(Breno Manfredini, Gabriel Sobreiro, João Attuy) como nos maiores: André
Hendges tem presença vigorosa como o revoltado Laertes, Ciça de Carvalho revela
a fragilidade de Ofélia , Claudio Fontana compõe um Rei Claudio bastante
semelhante a certas autoridades que nos rodeiam, as revelações de Horácio para
Hamlet são muito bem interpretadas por Ivan Vellame, certo exagero cômico
presente no Corambis de Elias Andreato não encontra eco nas interpretações
solenes do restante do elenco.
Não há como não
destacar a pequena, mas notável participação de Luciana Carnieli como a
tragicômica Rainha Gertred.
Surgindo do pó e ao
pó retornando, o Hamlet de Chico Carvalho é mais um gol na carreira vitoriosa
do ator onde voz, expressão corporal e movimento precioso de mãos se somam num
trabalho primoroso e memorável.
PRIMEIRO HAMLET está
em cartaz no SESC Vila Mariana de quinta a sábado às 21h e domingo às 18h até
16 de junho.
NÃO DEIXE DE VER
20/05/2024
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