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segunda-feira, 5 de agosto de 2024

MEMÓRIAS DO VINHO - PER BACCO

 

        Uma história simples e corriqueira: um pai e um filho se encontram após 20 anos de separação e após início cordial começam a trocar farpas sobre fatos do passado e a balancear o que é paixão e o que é trocar essa paixão por dinheiro.

        A paixão do pai é pelos vinhos e ele armazena o seu tesouro em uma imensa adega (qualquer semelhança com meu acervo de programas é mera coincidência, além disso o homem tem 80 anos e usa uma bengala!). O filho volta da Australia com a intenção de comercializar parte dos vinhos raros e caríssimos da adega do pai. O conflito está armado e por meio de diálogos ágeis e ações bem estruturadas a bela e criativa dramaturgia da saudosa Jandira Martini (a quem a encenação é dedicada) e Maurício Guilherme é apresentada ao público.

        Elias Andreato faz uma tradução cênica limpa focando a sua atenção no trabalho dos atores que são realmente as maiores atrações da peça. Vale-se do criativo cenário de Rebeca Oliveira que reproduz uma adega com todas as garrafas expostas em posição horizontal e uma trilha sonora com trechos do belíssimo álbum Dark Side of the Moon, do Pink Floyd. Essas músicas não têm muito a ver com o tema da peça, mas funcionam muito bem para criar o ambiente da encenação.

        Caio Blat representa com muita desenvoltura o filho irrequieto que volta depois de um longo exílio na Australia para saber como estão as finanças do pai na tentativa de realizar seu sonho de fazer cinema. A venda de títulos raros da coleção do pai poderia ser uma das soluções. O ator reage com muita naturalidade às falas do pai e coleciona mais um sucesso em sua carreira.

        Herson Capri é o debilitado e desiludido pai. Colecionou fracassos e perdas na vida e tem um segredo desabonador que só será revelado perto do final da peça. As nuances da personagem são muito bem exploradas pelo ator, que forma uma excelente dupla com Blat.

        A encenação de Elias Andreato tem a elegância e o toque de um bom vinho; essa sensação somada à química entre os atores e ao emocionante brinde ao final  da peça resultam em uma dose de imenso prazer para o espectador que sai do teatro com a alma alimentada.

        Você não precisa ser apreciador de vinho para gostar do espetáculo, mas se o for saberá curti-lo melhor.


        MEMÓRIAS DO VINHO está em cartaz no Teatro Vivo às sextas e aos sábados às 20h e aos domingos às 18h até 15vdec setembro.

        Pode curtir e saborear SEM moderação.

        05/08/2024

         

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