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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

DOM CASMURRO


                       A arte tem de ter algo que me tira do chão e deslumbra 

                                                                                      (Ferreira Gullar)

     Assisto a muitos espetáculos. Alguns não me dizem nada ou quase nada (saio como entrei), outros me dão muito sono, outros ainda me irritam e desenergizam, tem aqueles que eu gosto e são bem realizados não passando disso, mas é muito difícil acontecer a magia de eu me surpreender, ficar com os olhos arregalados, o coração palpitando e realmente ter a sensação de sair do chão com tanto deslumbramento. Só aí acontece a tão almejada magia dessa arte única chamada teatro, onde artista e público entram numa rara sintonia.

     Para minha alegria nos últimos dias essa magia aconteceu três vezes. Primeiro com a força política de Prontuário 12.528, depois com a beleza de Cão Vadio e agora com a surpresa de Dom Casmurro que eu corria o risco de não assistir, devido à pouca divulgação do espetáculo.

Rodrigo Mercadante e  Luci Salutes

     Trata-se de uma produção relativamente modesta, mas que tem o básico para ser um ótimo espetáculo: em primeiro lugar uma adaptação rigorosa e bem feita do texto de Machado de Assis (Davi Novaes), em seguida letras e músicas envolventes (Guilherme Gila), algo fundamental em todo musical que se preze, bons músicos, elenco impecável que é brilhante tanto interpretando como cantando e diretor de talento (Zé Henrique de Paula) que sabe harmonizar todos esses elementos.

Dispensa-se cenários grandiosos com escadaria, figurinos luxuosos e elenco numeroso, concentrando-se em contar a história de Bentinho e Capitu.

     Rodrigo Mercadante tem a melhor interpretação de sua carreira narrando ou interpretando Bentinho com todas nuances e dubiedades requeridas por esse personagem icônico de Machado de Assis. Um trabalho digno de ser lembrado nas listas dos melhores do ano

     Egresso da Banca dos Corações Partidos e muito bem-vindo aos palcos paulistanos Fábio Enriquez brilha como José Dias e dá um show de talento na cena sobre São Paulo.

Fábio Enriquez

     Luci Salutes compõe uma Capitu delicada e sabe dar seu recado na cena que acontece após os aplausos.

     Cleomácio Inácio como Escobar, marca mais um gol em seu trajeto, ainda curto, pelos palcos paulistanos.

     Nábia Villela enriquece todos os espetáculos em que participa, mesmo que seu papel seja pequeno, como é o caso de Dona Glória, mãe de Bentinho.

     Eduardo Leão interpreta Tio Cosme e Larissa Carneiro tem grande empatia com o público tanto como a velha prima Justina como a jovem Sancha.

     Completam o quadro os músicos Guilherme Gila, Daniel Alfaro, Felipe Parisi e Samir Alves. 

     Cabe ainda destacar a iluminação de Fran Barros que cobre de vermelho todas as cenas de ciúme e de desconfiança de traição de Bentinho.

     É com muito entusiasmo que recomendo esse espetáculo que tem lotado o Teatro Estúdio mesmo sem a divulgação merecida.

     Parabéns aos jovens idealizadores do projeto (A Casa Que Fala e Tomate Produções), o futuro do teatro paulistano está nas mãos deles. 

     DOM CASMURRO está em cartaz no Teatro Estúdio às segundas, terças e quartas às 20h. 

     CORRA PARA VER!!!

     20/11/2024


sábado, 16 de novembro de 2024

OUTONO

No Teatro do Sol as estações do ano não acompanham aquelas da natureza. Ali tudo começou no verão, foi direto para o inverno, agora está no outono e promete para breve a primavera, mas não faz mal qualquer que seja a estação ali sempre faz sol, fazendo jus ao nome,e um ar primaveril de renascimento está sempre presente.

O Grupo Gattu é isso, continuando a merecer o título de melhor acolhimento que eu lhe dei em 2017.

Tudo isso seria apenas bonito e simpático se não houvesse talento e criatividade, mas essas qualidades existem de sobra no grupo liderado pela incansável Eloisa Vitz que agora nos presenteia com um espaço reformado provido de um palco aumentado. 

Outono é o novo texto de Eloisa que pertence à tetralogia das estações do ano. 

Desta vez a dramaturga inova colocando no palco do teatro os atores fazendo cinema, diálogo oportuno uma vez que o espaço abrigará no futuro exibições de filmes, além dos espetáculos teatrais.

São várias cenas de filmagem desse novo filme intitulado Outono, essas cenas são permeadas por instantâneos da vida de cada elemento do elenco do filme.

A dramaturgia e a encenação, ambas assinadas por Eloisa, contemplam o momento de destaque de cada intérprete e mesmo dela que interpreta a diretora do filme, ao mesmo empo que tem um TOC de estar sempre se filmando no celular.

Mariana Fidelis, que já havia provado em Inverno que não é só bonita, volta a brilhar como a estrela Tereza Carrasco, aliando desta vez beleza e talento.  É muito bonita e sensual sua cena diante do espelho.

LIlian Peres faz a assistente da diretora e uma espécie de confidente do elenco, tudo com muita naturalidade e simpatia.

Jailson Nunes interpreta Adalio Pinto, com a energia do macho que faz jus ao nome.

Claudio Nasci começa bem no grupo interpretando o galã Mauro Sores.

Daniel Gonzales cresce a cada papel que faz no grupo demonstrando uma bem-vinda maturidade artística como o ator Alonso Peres e até se dando ao luxo de um “quase” nu em cena.

E o que falar de nossa querida Miriam Jardim, sempre brilhando em cena qualquer que seja o papel que faça? Sua luz como Catarina Levin ilumina não só o palco, mas toda a plateia.

O cenário, aproveitando o novo tamanho do palco, e a iluminação são também de Eloisa Vitz que acumula mais de cinco funções, executadas todas com muito amor e dedicação.,

Figurinos criados por Heron Medeiros, velho parceiro do grupo.

OUTONO é um espetáculo a que se assiste com um prazer delicado e um sorriso nos lábios. Tem um final muito bem bolado que não vou revelar aqui.

Que o novo CINE E TEATRO DO SOL abrigue filmes tão bons quanto os espetáculos teatrais ali apresentados e que receba uma boa resposta não só do público da zona norte, mas de todos os paulistanos.

LONGA VIDA AO CINE E TEATRO DO SOL!!

Outono fará oito apresentações por semana (que maravilha) de terça a quinta às 19h, sexta às 20h e duas sessões no sábado e domingo às 16h e às 20h.

NÂO DEIXE DE VER!

16/11/2024



quinta-feira, 14 de novembro de 2024

CLEYDE YÁCONIS

Faltavam poucos meses para Cleyde Yáconis completar 90 anos quando ela partiu. Ela faria aniversário no dia 14 de novembro e faleceu em 15 de abril de 2013.

Hoje ela estaria fazendo 101 anos.

Uma das maiores, senão a maior atriz, que nossos palcos já teve, começou sua carreira quase por acaso no Teatro Brasileiro de Comédia, o lendário TBC, em 1950. A irmã de Cacilda Becker era responsável pelo guarda roupa do teatro e substituiu Nydia Licia na peça Anjo de Pedra, quando esta teve que se ausentar para se submeter a uma intervenção cirúrgica. De tanto conviver com o grupo nos bastidores ela sabia o texto de Nydia de cor e sua estreia foi uma grande revelação. A partir daí Cleyde foi colecionando grandes interpretações e prêmios numa carreira de mais de 60 anos.  

A Geni de Toda Nudez Será Castigada (só no Rio de Janeiro), a Mary Tyrone de Longa Jornada Noite a Dentro, a Condessa de A Louca de Chaillot, o rapaz de Péricles e a Simone de Beauvoir de A Cerimônia do Adeus são apenas algumas das personagens que Cleyde imortalizou com suas atuações.

“Haverá algum lugar no mundo onde possamos colocar nossa esperança?”, essa fala de Simone de Beauvoir em A Cerimônia Do Adeus era dita por Cleyde com tal delicadeza que até hoje se eu fecho os olhos consigo ouvi-la na voz inconfundível dessa grande atriz.

Cleyde fez pouco cinema e muita televisão, mas era no teatro que ela mostrava sua maior grandeza. 

Seu último trabalho no teatro foi A Caminho de Meca em 2008, 58 anos depois de sua estreia no TBC. 

O desprendimento e até a modéstia de Cleyde podiam ser constatados na sala da casa em sua chácara em Jordanésia (que eu tive o privilégio de visitar em 2008) onde todas as paredes mostravam só fotos de sua irmã Cacilda e nenhuma dela.


Fiz uma pesquisa recentemente e constatei como a presença feminina é preponderante nos palcos brasileiros. Tendo como parâmetro aquilo que considero uma grande atriz (talento, presença, versatilidade, personalidade) levantei o nome daquelas nascidas no século XX. Cheguei a 71 nomes e provavelmente alguns outros devem ter me escapado. Usando o mesmo critério para os atores cheguei a pouco mais que uma dezena.

Nesse universo de 71 nomes, Cleyde Yáconis ocupa um lugar muito especial. 

Que se acendam muitos spots hoje para iluminar essa grande mulher.


14/11/2024




segunda-feira, 11 de novembro de 2024

ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE

Faça uma visita â garçonnière de Oswald de Andrade na Rua Libero Badaró e aproveite para dar uma volta pelo centro de São Paulo dos anos 1920/1930, se tiver sorte você vai encontrar com Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Pagu e até São Pedro!

Duvida? Então vá ao SESC Pompeia e curta você mesmo a deliciosa revista antropofágica oferecida pelo Teatro Promíscuo (grupo de teatro com 30 anos comandado por Renato Borghi e Elcio Nogueira Seixas) e dirigida com muita verve por Johana Albuquerque e que cumpre o que promete no título do espetáculo.

Renato Borghi é uma entidade de nosso teatro; com seus 87 anos e mobilidade reduzida, ele tem garra e energia em cena de um garoto de 20 anos. Com voz e presença vigorosas Renato ilumina todo o espetáculo.

E o que dizer do incrível trio formado por Regina França, Fernanda D’Umbra e Elcio Nogueira Seixas? Elcio personifica Oswald e as meninas interpretam vários personagens.

A cada novo trabalho Elcio mostra novas facetas de seu talento e aqui dá mais um exemplo que está sempre crescendo. Sua interpretação de Oswald é empolgante.

Regina França tem versatilidade para interpretar, dançar e cantar em vários momentos e Fernanda D’Umbra é no mínimo exuberante com sua voz poderosa.

O grupo é acompanhado pelos músicos Pedro Birenbaum, Nath Calan e William Guedes.

Cenários (Simone Mina), luz (Wagner Pinto) e videografia (Vic Von Poser) emolduram com muita beleza essa gostosa e alegre leitura da vida e da obra de Oswald de Andrade que Johana dirige com mão de mestre. 

 O público deglute vorazmente o espetáculo e antropofagicamente o devolve ao grupo com calorosos aplausos.

O programa impresso é uma preciosidade com várias matérias sobre o assunto tratado na peça.

ALEGRIA É A PROVA DOS NOVE está em cartaz no SESC Pompeia até 08 de dezembro com sessões de quinta a sábado às 20h e domingo às 18h.

IMPERDÍVEL!

11/11/2024


quarta-feira, 6 de novembro de 2024

CARTAS DA PRISÃO

Foto de Rafael Salvador

Você deita na cama, fecha os olhos e inicia uma imaginação erótica; elege alguém que lhe é inacessível, mas que lhe desperta muito tesão. Da conversa inicial, passando pelos primeiros toques, o tirar a roupa e finalmente o ato sexual, tudo isso vai passando como um filme onde você se excita, mas sabe que está em plena segurança. QUEM um dia já não fez isso?

Aquilo que essas mulheres fazem ao entrar em contato com presidiários é muito parecido, pois tirando o risco de alguém descobrir as cartas, a situação é bastante segura para que elas tenham devaneios de afeto, nem sempre eróticos, vindos de um macho viril à distância. Em geral trata-se de mulheres negligenciadas, mal amadas e até maltratadas por aqueles que a cercam.

É por isso que ao tomar contato com as cartas enviadas por M, discordo de Álvaro Campos, heterônimo de Fernando Pessoa, quando ele afirma que todas as cartas de amor são ridículas.

As cartas apresentadas na peça podem ser patéticas, ingênuas, absurdas, mas são dotadas de muita humanidade e jamais ridículas.

 Essa ilusão de se relacionar com um presidiário, muito provavelmente tão carente de afeto quanto ela é o âmago de toda correspondência, revelando o instinto protetor materno dessas mulheres.

Nanna de Castro soube trabalhar dramaturgicamente as cartas que tinha em mãos lhes permeando com um texto consistente e humano dando a devida humanidade que essas mulheres merecem.

Chica Portugal defende com muita sobriedade e versatilidade as diversas mulheres que teriam escrito as cartas, além de dialogar com o público sobre o assunto. Mais um belo trabalho que vem se somar às grandes interpretações femininas do ano.

Bruno Kott dirige o espetáculo com sobriedade e elegância em perfeita sintonia com as intenções da autora e da atriz que também é responsável pela pesquisa do assunto.

O cenário de Kleber Montanheiro e a luz de Marisa Bentivegna completam a beleza desse necessário espetáculo que apresenta de maneira bastante original as questões da violência contra mulher e dos relacionamentos abusivos.

CARTAS DA PRISÃO está em cartaz no SESC Pompeia apenas até 15 de novembro, de terça a sexta às 20h30

 Excepcionalmente 15/11 (feriado) o espetáculo será às 17h30

NÃO DEIXE DE VER!

06/11/2024





sábado, 2 de novembro de 2024

CÃO VADIO


Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai, quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim chegar e partir
São só dois lados da mesma viagem
O trem que chega é o mesmo trem da partida
A hora do encontro é também despedida
(Milton Nascimento/Fernando Brant)

- Tem certeza que a Suiça é pra lá? É tudo tão parecido.
- As fronteiras são uma invenção dos homens. A natureza está pouco ligando.
(cena final de “A grande Ilusão” de Jean Renoir)

     Duas de nossas melhores e mais queridas companhias de teatro adotaram a linguagem de cabaré para seus últimos trabalhos. Enquanto o mineiro Grupo Galpão se inspirou em Brecht e Kurt Weill, os curitibanos do Ave Lola buscaram o realismo mágico de Gárcia Márquez e também Shakespeare e Tchekhov. E ambas, mineira e paranaense, encheram olhos e corações de nós, paulistanos, com seus belíssimos espetáculos.

     Por meio de sucessivas cenas, as mãos sensíveis e delicadas da diretora Ana Rosa Tezza costuraram a dramaturgia de um espetáculo de rara beleza estética banhado pela “iluminada” luz criada por Beto Bruel e Rodrigo Ziolkowski.

     Um elenco coeso e talentoso atua em perfeita sintonia, o grupo sempre dando apoio e harmonia para aquele que está fazendo o seu solo, enquanto os músicos comentam a ação passo a passo.

     É impossível não destacar o brilho que Evandro Santiago dá à cena com a, não menos que excepcional, manipulação dos bonecos que constituem um espetáculo à parte, merecedora de aplausos em cena aberta. 


     Evandro e Helena Tezza eram jovenzinhos quando eu os conheci em um Festival de Curitiba em meados dos anos 2010, nesses dez anos evoluíram como artistas e hoje formam o primeiro time do Ave Lola.

     Ana Rosa rege elenco, cenografia, luz, música e todo o aparato cênico com mãos delicadas, mas bastante firmes oferecendo mais um dos ótimos trabalhos desta temporada teatral que chega ao fim no próximo mês

     Cão Vadio deve oferecer uma melhor visão da costura tecida pela diretora numa segunda visita.

     A razão do título fica clara para quem for assistir à peça.


     SERVIÇO:

- CÃO VADIO está em cartaz no Teatro Estudio até 1º de dezembro com sessões às quintas, sextas e aos sábados às 20h e aos domingos às 18h.

- Ingressos: Pague O Quanto Vale (distribuídos 1h antes na bilheteria do teatro por ordem de chegada).

- Sessões com libras e audiodescrição: 07 de novembro às 20h e 17 de novembro às 18h.

- Sessão extra: 21 de novembro às 14h30.

- Palestra sobre o processo de criação da Trupe Ave Lola com libras e audiodescrição: 17 de novembro às 20h.

 * Excepcionalmente no dia 28 de novembro (quinta-feira), não haverá espetáculo.

     CORRA PARA VER, não é sempre que temos um espetáculo com esses gabaritos técnico, artístico e HUMANO em nossos palcos.

02/11/2024



domingo, 27 de outubro de 2024

JANDIRA EM BUSCA DO BONDE PERDIDO

 

Uma atriz diagnosticada com uma grave doença se conscientiza de sua finitude e escreve um texto celebrando o teatro e a vida. Simples assim.

Essa era Jandira Martini (1945-2024).

Ela mesma fez a adaptação teatral do texto e iria interpretá-lo caso não tivesse acontecido a pandemia e, posteriormente, o agravamento de seu estado de saúde. Após a sua morte a encenação ficou suspensa até que seus filhos quiseram ver a peça em cena e assim o público tem a chance de assistir a esse tocante texto que é também uma homenagem a essa grande atriz.

Marcos Caruso, parceiro profissional de Jandira, é o diretor da montagem e Isabel Teixeira foi escolhida para interpretar Jandira.

A interpretação visceral e apaixonada de Isabel vem somar-se a outras, em um ano repleto de trabalhos de grandes atrizes. Os jurados de prêmios vão ter dificuldade de escolher a melhor, pois todas são as melhores.

De maneira descontraída Isabel invade a arena do teatro e dialogando com a dinâmica iluminação de Beto Bruel e Sarah Salgado vai contando a história com pleno domínio do espaço, dirigindo-se a todas as direções onde todo o público sente-se contemplado.

O texto de Jandira é de alguém que conhece os segredos do palco e a atriz, que também domina esses segredos, realiza um surpreendente trabalho em cena, fazendo o público rir e chorar na medida certa.

Jandira, Caruso e Isabel formam o trio perfeito para contar essa tocante história.

O belo programa impresso contém matérias significativas de e sobre Jandira Martini.

Uma breve troca de ideias com Isabel Teixeira e o encontro com a grande pequenina Maria Adelaide Amaral fecharam a noite com chave de ouro.



JANDIRA está em cartaz no Tucarena às sextas (21h), aos sábados (19h) e aos domingos (17h).

 

27/10/2024       

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

MAGILUTH e ÉDIPO REC

 


Mais sobre o Magiluth do que sobre Édipo Rec

Conheci esse querido grupo pernambucano em 2012 no Festival de Curitiba. Era um ensaio da peça Aquilo Que Meu Olhar Guardou Para Você, peça sensível sobre memória e lembrança e me tocou particularmente a história contada por Lucas onde ele guardava o ar de uma namorada já falecida no interior de um balão bexiga. A interação com o grupo foi espontânea e bonita e a partir daí eu estive presente em todos os espetáculos que fizeram em São Paulo, sempre com um abraço fraterno ao final.

Ao longo dos anos houve alguma alteração na formação do grupo, hoje o Magiluth é formado por Bruno Parmera, Erivaldo Oliveira, Giordano Castro, Lucas Torres, Mário Sergio Cabral e Pedro Wagner, gentis, receptivos e muito carinhosos com o público. Todas essas qualidades de pouco adiantariam se não houvesse o imenso talento de cada um deles e o público responde da mesma maneira, pois gentileza gera gentileza, amor gera amor. 

Bruno e Mário

Giordano, Nash e Erivaldo

Giordano e eu

Édipo Rec 

O espetáculo é uma releitura irreverente e anárquica da tragédia de Sófocles dirigida por Luiz Fernandes Marques, o Lubi. Começa com a vitoriosa chagada de Édipo a Tebas, onde tudo é alegria e festa e nada melhor do que uma pista de dança onde os tebanos (o público) pode comemorar a vitória. A segunda parte do espetáculo se passa 20 anos depois onde a alegria dá lugar à soturna tragédia edipiana.

O espetáculo conta com a atriz convidada Nash Laila no papel de Jocasta e a peça termina brilhantemente com um monólogo de Bruno Parmera e a fala final da tragédia pelo corifeu (Erivaldo Oliveira). Cabe destacar as atuações de Mário Sergio Cabral como Creonte e de Giordano Castro (que também assina a dramaturgia) como Édipo. 

Édipo REC está em cartaz no SESC Pompeia até 26/10 de quinta a sábado às 20h.

24/10/2024

 

 

 

domingo, 20 de outubro de 2024

TRAIÇÃO

 

Acompanho o trabalho de Adriana Câmara e do Núcleo Teatro de Imersão desde 2017 quando assisti Tio Ivan na Oficina Cultural Oswald de Andrade. O espetáculo acontecia em várias salas da Oficina e era inspirado na peça Tio Vânia de Tchekhov.

Fiel a seu espírito de espetáculo itinerante, em 2023 Adriana dirige e atua em Seis Personagens a Procura de Um Autor de Pirandello nas dependências do Theatro Municipal

Agora chegou a vez de Harold Pinter e sua Betrayal escrita em 1978 e traduzida em português no singular (Traição) ou no plural (Traições), Adriana optou pela primeira opção e escolheu vários aposentos do Hotel San Raphael para fazer sua encenação. Ela comentou que acalenta montar esse texto, desde que o leu em 2000.

No meu entender esta é a encenação mais madura de Adriana tanto como diretora como atriz.

O texto de Pinter é um achado, jogando com o tempo e instigando a inteligência do espectador para montar o quebra cabeça dramatúrgico, basta dizer que a peça começa onde devia terminar e termina onde devia começar.

A encenação para apenas 14 espectadores acontece a um metro dos atores tornando o público, se não cúmplice, pelo menos testemunha do que acontece. Sente-se o respirar, o suar e o chorar dos personagens.

A peça foi montada de maneira tradicional (em palco italiano) em 1982 no Teatro FAAP com direção de José Possi Neto com Paulo Autran (ganhou o Prêmio Molière por este trabalho), Karen Rodrigues, Odilon Wagner e Arnaldo Dias. Curiosamente consta um quarto nome na ficha técnica: seria a função do narrador ou o diretor resolveu colocar o Camargo em cena?

Desta vez, além da direção, Adriana incube-se do papel da esposa Érica, tendo ao seu lado o marido Roberto (Marcelo Schmidt) e o amante Jeremias (Glau Gurgel). Os três têm excelentes interpretações naturalistas.

Dentre as nove cenas, cumpre destacar aquela onde o marido descobre que a esposa é amante de seu melhor amigo. Marcelo Schmidt tem um momento particularmente brilhante e perturbador nessa cena.

Os espectadores fazem uma viagem no tempo percorrendo   vários aposentos do hotel nos andares 14, 15 e 16.

TRAIÇÂO é mais um trabalho de fôlego da batalhadora Adriana Câmara que merece ser prestigiado. Em cartaz até 27 de outubro.

 

20/10/2024

sábado, 19 de outubro de 2024

PRONTUÁRIO 12.528

 

 

Não tenho dúvida que estamos diante de um dos melhores espetáculos do ano. Esteticamente criativo e belo na forma e contundente e muito necessário no conteúdo.

Nunca é demais relembrar as consequências da colonização do Brasil pelos portugueses e quão nociva, perversa e dolorosa foi a famigerada ditadura civil militar que perseguiu, torturou e matou ou desapareceu com aqueles que lutaram por liberdade e defesa dos direitos humanos.

A dramaturgia de Cesar Ribeiro costura de forma brilhante textos de sua autoria com textos que vão desde Pero Vaz de Caminha até Luis Fernando Veríssimo. O resultado é uma dramaturgia consistente e poderosa que mantém o espectador grudado na poltrona (diga-se de passagem, desconfortável) do Núcleo Experimental.

Com nítida e saudável influência do teatro do absurdo de Samuel Beckett e da história em quadrinhos, Ribeiro abre o espetáculo com um texto magnífico de Veríssimo onde se comenta que é fácil tirar uma vida, o impossível é livrar-se do corpo/lixo. Interpretado por Clara Carvalho o texto é o primeiro soco dado no estômago do espectador.

Seguem-se cenas memoráveis como aquela com os dois pacientes (Mariana Muniz e Pedro Conrado ótimos) em um hospital (esta cena é repetida com poucas  variações, relembrando a estrutura de Esperando Godot); o caso do João, empregado de uma empresa, que a medida que o tempo passa recebe como estímulo uma redução no seu salário até ficar “dezassalariado” ,Clara Carvalho puxa João acorrentado (Hélio Cícero) numa clara referência à cena de Pozzo e Lucky em Esperando Godot; a cena com caráter épico de Pero Vaz de Caminha é interpretada  por Helio Cícero e para completar a porrada, a peça termina com depoimentos de um advogado defensor de presos políticos (Helio),uma jovem que foi humilhantemente torturada (Clara, comovente) e de Dilma Roussef (Mariana). Esta última cena tem como pano de fundo cabeças de vítimas da ditadura.

No exíguo espaço cênico do Núcleo Experimental, J.C. Serroni criou um cenário poderoso com chão de areia e que ao simples mover de uma cortina se transforma numa praia do descobrimento ou nas tumbas com as cabeças dos mortos. A belíssima luz de Domingos Quintiliano enriquece a atmosfera do espetáculo, assim como os figurinos de Telumi Hellen e o surpreendente visagismo de Louise Helene. Para completar o quadro é importante citar a excelente trilha sonora criada por Cesar Ribeiro que ora reforça e ora critica a ação.

Cesar Ribeiro soube harmonizar tantos bons elementos (dramaturgia, cenário, iluminação, figurinos, visagismo, trilha sonora e um quarteto de intérpretes poderosos) criando um espetáculo que apesar de ser doloroso, o espectador sai com a alma lavada e energizado, com vontade de mudar o estado das coisas.

Foto de Dan Pimenta

O título da peça já é carregado de ironia e indignação, pois se refere ao número da lei que instituiu a a Comissão Nacional da Verdade que, ao que tudo indica, terminou em pizza.

Ah, Brasil! De tanta beleza e de tanta pobreza!

VOCÊ que sabe das coisas vai novamente se indignar com o que é apresentado e VOCÊ que não acredita que tudo aquilo aconteceu talvez vá mudar de ideia assistindo a esse pungente espetáculo.

ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL. 

Cartaz do Teatro do Núcleo Experimental até 25 de novembro às sextas, sábados e segun das às 20h e aos domingos às 19h. 

19/10/2024

 

 

 

sábado, 5 de outubro de 2024

MEMÓRIA DO TEATRO PAULISTANO

 

Nos dias 01 e 02 de outubro o Centro de Pesquisa e Formação do SESC promoveu encontros sobre o acervo do Teatro Bela Vista formado por itens conservados por Sérgio Cardoso e Nydia Licia e hoje guardados com muito cuidado por Sylvia Cardoso Leão, filha do casal.

Participaram dos encontros Thais Gurgel (Grifo), Elisabeth Azevedo (ECA-USP), Jamil Dias (biografo de Sérgio Cardoso), Fabrício Ribeiro (SESC Memórias), Sylvia Cardoso Leão (curadora do acervo) e Pedro Carvalho (Grifo Projetos).

No primeiro encontro Thais Gurgel comentou sobre o site amabile.art.br que deve abrigar projetos culturais; Elisabeth Azevedo fez um relato sobre o teatro brasileiro desde os anos 1930 até o início do Teatro Bela Vista (1956), Jamil Dias mostrou facetas da biografia de Sérgio Cardoso e Fabrício Ribeiro falou sobre o acervo do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT). A mediação coube a Rose Silveira.[i]

Sylvia Cardoso Leão abriu o segundo encontro com uma brilhante e didática apresentação sobre a trajetória de Sérgio Cardoso e Nydia Licia desde o início das carreiras deles nos anos 1940 até o fechamento do Teatro Bela Vista em 1970. A apresentação foi ilustrada com excelentes slides.

Pedro Carvalho discorreu sobre a digitalização do acervo.

Durante os comentários Pedro falou que o programa é fonte de muitas informações, além daquelas inerentes ao espetáculo. Propagandas e fotos podem trazer informações importantes sobre usos e costumes.

Eu, concordando com ele, complementei que as pesquisas são sofisticadas, caras e de longa duração. Então como primeiro passo o ideal seria iniciar com algo mais barato e de resultado imediato que seria a digitalização de programas que já seria importante e utilíssima fonte de consulta, além de dar um grande passo em direção à tão almejada MEMÓRIA DO NOSSO TEATRO.

Comentei com o Raul Teixeira que poderíamos começar elaborando um projeto para a digitalização do meu acervo que agora pertence ao Centro de Documentação Teatral (CDT) e que abarca cerca de 80 anos das atividades teatrais em nossos palcos (dos anos 1940 até os dias de hoje).

05/10/2024

 

 

 

 

 

 

 



[i] 

segunda-feira, 30 de setembro de 2024

CORTE SECO

 

Conforme indica o título, o texto de Marcelo Oriani é um corte seco sem concessões em um assunto escabroso e grave que ocorre com maior frequência do que se imagina que é o abuso sexual infantil, praticado, na maioria das vezes, dentro de casa, por um amigo da família, ou um tio, ou o avô ou até o próprio pai da criança.

Claudia Schapira ao traduzir cenicamente tema tão difícil, o fez com uma beleza e um equilíbrio dignos de nota. Sua direção harmoniza a potente trilha sonora (Dani Nega), os excelentes efeitos de luz criados por Rodrigo Palmieri, a cenografia clean de Juliana Fernandes, os figurinos de Rosângela Ribeiro, a preparação vocal realizada por Sandra X e a fantástica preparação corporal e direção de movimento (Luaa Gabanini) das atrizes que circulam pelo espaço em sincronia e com gestual impressionante. Tudo isso a serviço da atuação das três atrizes (Camila Fernandes, Nandda Oliveira e Raquel Domingues) que interpretam visceralmente os vários personagens da peça.


 Esse equilíbrio entre todos elementos de uma encenação é o que para mim demonstra que uma direção foi bem sucedida.

A ficha técnica indica também Dani Hell (Live-DJ) e Eliana Monteiro na provocação cênica.

O autor é enfático ao escrever no programa: “Eu gostaria que essa peça não existisse, mas, se ela existe, é porque o assunto sobre o qual ela trata ainda existe”.

Tão grave quando o abuso é o silêncio daqueles (mães normalmente) que convivem com ele.

- O que aconteceu com você não é visível

- E se não é visível é como se nunca tivesse existido

E a criança convive com o trauma silenciosamente, muitas vezes até carregando um sentimento de culpa.

CORTE SECO precisa ser visto e divulgado. 

Em curta temporada no Centro Cultural São Paulo às quintas e sextas às 21h e aos sábados e domingos às 17h e 19h

ALERTA DA PRODUÇÃO:: nessa última semana não haverá sessões no domingo, por conta das eleições. As próximas sessões serão: quinta às 21h, sexta e sábado às 19h e as 21h.

 

30/09/2024

domingo, 29 de setembro de 2024

PARA MARIELA

 


 

O Sobrevento reinventa os tempos de delicadeza 

Parafraseando o Seu Bertolt: Eu vivo nas cidades nos tempos de guerra, insegurança e violência. Eu vivo num tempo sem sol.

As pessoas andam tristes, cabisbaixas e olhando para o próprio umbigo em um individualismo assustador.

Mais ou menos nesse estado de espírito percorrendo de Uber essa cidade da qual restará apenas o vento que por ela perpassa (olha o Brecht de novo) chega-se ao aconchegante Espaço Sobrevento que fica muito perto do tenebroso templo de Salomão.

Crianças circulam brincando na frente do teatro e um público bastante simples aguarda o início do espetáculo Para Mariela, concebido, dirigido e interpretado pelo casal fundador do grupo há 38 anos, Sandra Vargas e Luiz André Cherubini.

O espaço cênico foi reformulado para o espetáculo: a plateia fica em volta de uma plataforma retangular coberta de areia que será o cenário do espetáculo.

Os atores vestindo macacões, no bolso dos quais vão tirando objetos que farão parte da cena, iniciam histórias que rememoram a infância passada na zona rural de um país. Boa parte dessas histórias foi recolhida pelo grupo com as crianças bolivianas que moram nas imediações do teatro. Ao formatar casinhas com a areia da plataforma eles vão construindo uma cidade em clima que lembra uma atmosfera tchekoviana com longos silêncios e gestos lentos. Cabe notar que a grande quantidade de crianças presentes acompanha as cenas com muita atenção e em silêncio.

Os mais variados objetos vão surgindo em cena, material extremamente lúdico cuja manipulação é uma característica do teatro de objetos do Sobrevento.

Em clima nostálgico um homem comenta sobre a vontade de ver o mar que inexiste na Bolívia, o grupo canta uma canção enquanto há um desfile de objetos que podem ser encontrados no mar.

De repente, explode uma canção boliviana que vira o jogo do clima silencioso e meditativo para um clima de festa com desfile de máscaras e tipos do folclore bolivariano. A participação das crianças da plateia é a coisa mais emocionante desse momento que cada um de nós sente um lampejo de esperança no futuro.

Certas cenas da peça me lembraram o bonito texto de Eduardo Galeano sobre um menino que não conhecia o mar e foi com o pai até ele. Ao chegar o menino deslumbrado com aquela magnitude e beleza olhou para o pai e disse: “Por favor pai, me ajude a olhar.” E é isso que o espetáculo faz, nos ajuda a sentir a vida com mais paciência e mais esperança. Viva o Sobrevento! 

PARA MARIELA está em cartaz de sexta a segunda às 20h até 14 de outubro. Ingressos grátis - reservas no email: info@sobrevento.com.br 

29/09/2024

 

 

sábado, 28 de setembro de 2024

TRÊS GRANDES ATRIZES NOS PALCOS PAULISTANOS

 

Introdução talvez inútil 

Fiz uma pesquisa recentemente e constatei como a presença feminina é preponderante nos palcos brasileiros.

Tendo como parâmetro aquilo que considero uma grande atriz (talento, presença, versatilidade, personalidade) levantei o nome daquelas nascidas no século XX. Cheguei a 71 nomes e provavelmente alguns outros devem ter me escapado. Usando o mesmo critério para os atores cheguei a pouco mais que uma dezena.

As atrizes nascidas nas duas primeiras décadas do século já partiram, mas daquelas nascidas na década de 1920 ainda temos a presença forte de Laura Cardoso, Fernanda Montenegro, Nathália Timberg e Monah Delacy.

A década de 1930 foi pródiga em trazer ao mundo grandes atrizes (19), infelizmente a grande maioria já partiu restando apenas Miriam Mehler e Suely Franco.

Da década de 1940 (8) temos as presenças de Walderez de Barros, Irene Ravache, Renata Sorrah e Juliana Carneiro Cunha.

Da década de 1950 em diante todas estão vivíssimas e brilhando em nossos teatros.

Mais três grandes momentos femininos nos palcos 

Neste ano de 2024 já tivemos grandes interpretações femininas, basta lembrar de Rafaela Azevedo (King Kong Fran), Luciana Ramanzini (Codinome Daniel), Mel Lisboa (Rita Lee), Noemi Marinho (O Vazio da Mala), Debora Duboc (Glauce), Guida Vianna e Silvia Buarque (A Menina Escorrendo dos Olhos da Mãe), Lindsay Castro Lima (Petra), Fafá Rennó e Carla Salle (Shakespeare Apaixonado).

Chego finalmente à razão desta matéria: nesta última semana do mês de setembro tivemos três monólogos com interpretações não menos que soberbas de atrizes brasileiras.

PRIMA FACIE

Débora Falabella empresta todo seu talento para a personagem de Tessa, uma advogada que defende acusados de violência sexual que é assediada e estuprada em sua casa por um colega de trabalho. O inconformismo de Tessa explode em cena na interpretação visceral de Débora. A peça foi escrita por uma mulher (Suzie Miller) e dirigida por outra (Yara de Novaes).

Cartaz do Teatro Vivo 

MONGA


Monga revela o talento e a coragem de jovem atriz cearense Jéssica Teixeira de mostrar os preconceitos com sua má formação física por meio da história de uma mulher mexicana, aquela apelidada de Monga (mulher macaco) que teve seu corpo (vivo e depois morto) explorado em circos e exposições por mais de 150 anos. Jéssica é uma grande performer, que canta, dança e interage de forma muito simpática com o público. Além de atuar, Jéssica é autora do texto e assina a direção.

Cartaz do SESC Avenida Paulista

DORA


Sara Antunes convive há algum tempo com a figura de Maria Auxiliadora Lara Barcellos (Dora), mulher destemida. guerrilheira, que pagou com a própria vida os maus tratos sofridos pela truculenta ditadura brasileira. O texto escrito pela atriz baseia-se na correspondência trocada entre Dora e sua mãe. A peça já foi apresentada virtualmente, mas encontra seu lugar certo ao ser encenada ao vivo. Em um verdadeiro tour de force Sara interpreta apaixonadamente Dora e ao mesmo tempo faz toda a complexa contrarregragem exigida pela encenação também assinada pela atriz.

Cartaz do SESC Ipiranga 

VIVA AS GRANDES ATRIZES BRASILEIRAS!

VIVAS O TEATRO! 

28/09/2024