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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

ORioLear

 

Desde que a querida Sandra Corveloni me contou sobre a peça que ela estava ensaiando de autoria e com direção de Newton Moreno fiquei curioso de como seria transportar a obra de Shakespeare para a devastação da Amazonia, mas sabendo da universalidade da obra do bardo e do talento de Moreno, antevi que algo muito especial estava a caminho.

Foi muito pesaroso saber que a temporada da peça aconteceria exatamente durante o período que eu estaria fora do país. Não foi possível assistir a um ensaio e o autor gentilmente me enviou o texto para que eu tomasse conhecimento de seu conteúdo.

Se por um lado ainda não pude assistir à peça, por outro tive o privilégio de ler o texto com os trechos cortados pelo autor e as inúmeras observações anotadas, talvez para os esclarecimentos do elenco e/ou para sugestões de encenação.

Essa transposição de Rei Lear para a realidade amazônica rebatizada de “Tragédia grotesco ambiental sobre o fim e o recomeço do mundo na Amazônia” fez bem à obra.

A peça é dividida em dois movimentos.

 O primeiro acontece na(s) casa (s) grande (s) narrando de maneira realista a intenção de Seu Lear dividir seu patrimônio e a maneira como ele o faz em função das palavras de suas três filhas Goneril, Regininha (Regan, no original) e Cordélia.

O segundo se passa na floresta, na (s) tribo (s) e aí Moreno dá vazão à sua veia poética e a seu delírio criativo dando voz aos indígenas, ao rio e a toda a natureza. Neste ato a peça adquire seu maior esplendor oferecendo um prato cheio para a imaginação e a reflexão do espectador sobre os males impingidos à floresta amazônica pelo poder do dinheiro. O cenário e as explosões da natureza neste movimento necessitariam de recursos cinematográficos para seu pleno resultado. Fica a curiosidade de como o encenador resolveu essa questão.

Posso imaginar Sandra Corveloni transpirando a perversidade de Goneril, Michele Boesche como a tresloucada Regininha e Simone Evaristo interpretando tanto Cordélia como o difícil papel de Tonta (o Bobo da corte, no original shakespeariano). Leopoldo Pacheco (Lear) é o destaque nos papeis masculinos que contam ainda com Jorge de Paula (Albano), Zé Roberto Jardim (Conrado) e Ronny Abreu (Indígena).

Essas são as minhas sensações ao ler esse texto de Newton Moreno que só se realiza plenamente quando traduzido cenicamente.

 A peça está em cartaz no Itaú Cultural de quinta a sábado às 20h e domingo às 19h até 17/08.

Torço para que estenda a temporada depois da minha volta no dia 28 e agosto. 

14/08/2025

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