Ontem assisti à performance de
Vinicius Torres Machado no TUSP. Experiência rara, e acredito única, na
trajetória de um espectador bastante calejado. Sai do teatro confuso e muito
tocado por aquela figura nua, muda e isolada do mundo.
Ao chegar em casa comecei a ler o
livreto distribuído ao fim do espetáculo que é, segundo Vinicius, “a realidade
da matéria viva que originou o espetáculo”. Li a metade do volume e já bastante
perturbado fui dormir com medo de perder o sono diante da descrição de tantas
dores físicas e morais. Na manhã deste domingo ensolarado terminei de ler e
compreendo melhor aquilo a que assisti na noite de ontem. Dilacerante!
O espetáculo remete ao mito de
Filoctetes que ficou abandonado pelos gregos na ilha
de Lemnos, após ser mordido por uma serpente e suas feridas exalarem mau
cheiro. Filoctetes passou nove anos isolado sofrendo muito com suas dores
terríveis e sua solidão. A experiência de Vinicius com as dores terríveis que a
doença lhe trouxe e a solidão pelos quartos de hospital pelos quais passou fez
com que ele se aproximasse do mito grego e desenvolvesse esse trabalho radical
sem palavras e com movimentos mínimos e até infantis quando tenta se comunicar
com a escuridão que tem pela frente e é muito doído para o espectador fazer
parte dessa escuridão.
Depois de alguns anos Filoctetes foi
resgatado pelos gregos para lutar na guerra de Troia e Vinicius “resgatou-se”
para a vida e hoje tem condições e muita coragem de apresentar esse trabalho ao
público. De alguma maneira não deixam de serem finais felizes.
O espetáculo é esteticamente muito
bonito com iluminação precisa e deslumbrante assinada por Dimitri Luppi e
Wagner Antônio.
Depois de uma hora, Vinicius cobre seu
corpo e senta-se na cadeira em que iniciou o trabalho. As meninas da produção
abrem as portas do teatro dando sinais que o espetáculo terminou, mas o público
demora a abandonar o espaço e mesmo lá fora, ainda sob o impacto daquilo que
presenciou, fica vagando enquanto recebe o livreto que complementa essa obra
tão radical e tão importante para compreendermos nossos corpos e nossas almas.
Esse precioso espetáculo fica em
cartaz só até hoje (5/10) no TUSP Maria Antonia.
CORRA!!
5/10/2025
Muito obrigada pela recomendação, Professor!
ResponderExcluirSeus textos são ótimos para minhas pesquisas sobre o teatro e, também, para aulas. :)