Apolo devia estar muito iluminado na
década de 1940 e com um olho na música do Brasil para ter feito nascer nestas
terras Gilberto Gil (1942), Elis Regina (1945), Chico Buarque (1944), Caetano
Veloso (1942), Maria Bethânia (1946), João Bosco (1946), Milton Nascimento
(1942), Edu Lobo (1943), Leny Andrade (1943), Gal Costa (1945), Gonzaguinha
(1945), Ivan Lins (1945) e Egberto Gismonti (1947).
Todos reverenciados pela mídia e muito
lembrados pelo público, mas tem um artista tão valoroso quanto eles que a mídia
parece esquecer e muito jovem não sabe que ele existiu.
Esse artista que a direita perseguiu
censurando quase uma centena de suas canções e proibindo muitas de suas
apresentações e que a esquerda torceu o
nariz alegando que sua música era alienada, hoje estaria fazendo oitenta anos,
infelizmente ele partiu muito antes em 1996 com apenas 50 anos.
Taiguara Chalar da Silva nasceu em 9
de outubro de 1945 em Montevideu, filho do bandoneonista brasileiro Ubirajara
Silva e da cantora de tangos uruguaia Olga Chalar.
O nome TAIGUARA em tupi guarani significa LIVRE e esse artista honrou esse nome com sua maravilhosa obra cheia de poesia, mas com o dedo apontado para as truculências da ditadura militar. Ouso dizer que ele foi o artista que na época melhor soube dosar o romantismo com a denúncia política.
“Essa pequena agora eu sei porque é
que ela me amarra
Ela tem medo do berro dos acordes da guitarra
Ela pretende fechar a minha porta com seus grilos
Ela não sabe que versos ninguém pode destruí-los
Essa pequena eu quero trabalhar e ela
não deixa
Essa pequena eu quero dar amor e ela se queixa
Ela se engana depois vem censurar minha conduta
Essa pequena não passa de uma vã...
Não tem a mente sã essa pequena”
Essa
música que faz parte do disco “Fotografias” de 1973, é só
um exemplo
da dualidade das letras de Taiguara. Há alguma dúvida quem é essa pequena?
No álbum “Ymira, Tyra, Ipy”, obra prima de 1976 que conta com a participação de Wagner Tiso e Hermeto Paschoal, o artista é mais direto na canção “Situação”:
“Não, não adianta não
A situação já está fora das suas mãos
Como é que você vai me dar
O que já e meu
Como é que você vai criar
O que já nasceu “
E fecha o disco com os versos de “Outra Cena”:
“O santo a seca o sertão
O filho morto nas mãos
Família fome facão
A grana o gado o ladrão
O pau o podre o país
Amado o medo a matriz
Só não sofreu
Quem não viu
Não entendeu
Quem não quis”
NÃO ENTENDEU, QUEM NÃO QUIS! Claro que
os milicos entenderam e proibiram o disco logo depois de ser lançado.
Mas o Taiguara romântico está presente
em tantas outras canções maravilhosas como “O Universo do Teu Corpo” (uma das
primeiras músicas a insinuar uma relação gay: “Que meu porto, meu
destino, meu abrigo São teu corpo amante, amigo em minhas mãos”), “Hoje”, “Teu Sonho Não Acabou”,
“Mudou” e tantas outras que não caberiam nesta matéria.
Está mais que na hora de resgatar a memória desse importante artista que clamou:
“Eu não queria a
juventude assim perdida”
E foi porta voz do grito dos gaúchos Arthur Verocai e Geraldo Flach na pouco conhecida (e linda!!) “Um Novo Rumo” (1968):
“Vou pra luta, agora
eu vou! Não paro não”
Enquanto houver quem ouve e canta suas canções, pode ter certeza Taiguara, que TEU SONHO NÂO ACABOU!
VIVA TAIGUARA NO DIA DOS SEUS OITENTA
ANOS!!
9/10/2025
Nenhum comentário:
Postar um comentário