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sexta-feira, 21 de setembro de 2012

SAUDADES DE UM TEMPO MAU


      
    Assisti ontem ao filme Tropicália, dirigido por Marcelo Machado. O filme nos remete aos anos 1967/1969, época sombria e de triste memória em que o Brasil estava sob o controle da ditadura militar. Por outro lado havia uma efervescência não só na música, mas em toda a cultura brasileira: Glauber Rocha e o cinema novo; Hélio Oiticica, Ligia Clark e tantos outros nas artes plásticas; José Celso Martinez Corrêa com seu revolucionário O Rei da Vela. Explosão de criatividade e talento numa época de grande repressão. Esses dois fatos estariam interligados? O artista precisa estar sob pressão para poder criar? Essas foram algumas das questões que me surgiram ao assistir a esse belo documentário. As cenas da repressão, do menino Edson morto pela polícia no Calabouço, das passeatas que mobilizavam milhares de pessoas, da prisão e do exílio de Gil e Caetano conduzem à reflexão e também a uma tristeza muito grande. Há uma cena antológica em que Caetano Veloso canta Asa Branca (provavelmente num programa da televisão europeia, enquanto ele estava no exílio) que resume toda a desesperança que tomava conta do povo brasileiro naquela época. Em resumo, o filme nos deixa com um amargo sabor de saudades.

     Bom complemento para Tropicália é o filme Cara ou Coroa de Ugo Giorgetti, também em cartaz na cidade. Passa-se em 1971 e faz uma crítica carinhosa àquela que na época era chamada de “esquerda festiva” (artistas e intelectuais ditos de esquerda, mas que não se engajavam em nenhum movimento mais radical de combate ao regime militar e até se permitiam certos “divertimentos burgueses” como comer uma pizza ou tomar um chope). Sem maniqueísmo o filme mostra os exageros efetuados não só pela direita, mas também pela esquerda. A câmera em zoom fixa-se principalmente nas expressões faciais das personagens. Impactantes as figuras dos ativistas clandestinos, magnificamente fotografados por Walter Carvalho. Impossível não mencionar as interpretações dos veteranos Walmor Chagas e Otávio Augusto e a espontaneidade de Emílio de Mello. O filme capta o espírito da época sem se utilizar de muitos recursos físicos. Há um sopro de esperança ao final do filme, mas as palavras da crítica de teatro vivida por Juliana Galdino ressoam em nossas cabeças: “Quem viver verá onde vai dar tudo isso...”
     No aspecto puramente musical outro bom complemento para Tropicália é o documentário Uma Noite em 67 dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil.

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