O final da década de 1960 foi pródigo no surgimento de novos
dramaturgos brasileiros: no curto espaço entre 1968 e 1969, Antonio Bivar,
Leilah Assumpção, Isabel Câmara, Consuelo de Castro e José Vicente tiveram suas
primeiras peças (geralmente com apenas duas personagens) montadas em São Paulo.
Somam-se a eles nos anos posteriores: Carlos Alberto Soffredini, Mário Prata, Luís Alberto de Abreu, Timochenko Wehbi,
Flávio Marcio, Mauro Chaves ,Naum Alves de Souza, Mauro Rasi e tantos outros
com muitas obras importantes que caíram no esquecimento e mereciam uma revisão.
Isto sem contar os já clássicos da dramaturgia brasileira, que com exceção de
Nelson Rodrigues e Plínio Marcos, são raramente revisitados.
Louve-se então a iniciativa da atriz/produtora Ana Elisa
Mattos que fez uma pesquisa sobre a dramaturgia brasileira em busca de um texto
para a sua próxima produção. Foi encontrá-lo numa produção do ano de 1987 com o
título de Tu Dirás Que É a Morte, Eu
Direi que É a Vida, escrita e dirigida na época por José Antonio de Souza.
Rebatizada como Coração Bandoleiro e
agora com a direção de Roberto Lage a peça está em cartaz no Teatro Cacilda
Becker.
Trata-se de uma comédia corrosiva cujo mote é o poder do dinheiro
na relação das pessoas; tema sempre atual, haja vista a corrupção que grassa em
nossas terras. A montagem de Lage é bastante dinâmica: abusa dos black outs na primeira parte (devido às constantes
entradas e saídas de uma incômoda cama hospitalar), mas depois se agiliza, num
ritmo vertiginoso de história em quadrinhos. Os atores seguem esse ritmo em
interpretações nervosas e exageradas. É difícil entender a razão pela qual
falam tão alto, dando a impressão que desejam que suas vozes atinjam o público
acomodado no anfiteatro do Theatro Municipal! O volume de voz empregado pelo
elenco soa artificial e discursivo, tornando-se previsível e até irritante.
Sofrem com esse tratamento, principalmente, a atriz que interpreta Leonora
(Luciana Ramanzini, muito parecida com Renata Zhaneta) que , convenhamos, tem
uma inverossímil energia para uma quase moribunda e Marco Aurélio Campos
(Gabriel) que além de gritar suas falas abusa dos gestos de garoto rebelde a la James Dean. Os melhores momentos da
peça ficam por conta dos diálogos entre os veteranos Calixto de Inhamuns e
Maria do Carmo Soares que se falassem mais baixo renderiam muito mais, ressaltando
uma divertida cumplicidade cênica e seus respectivos tempos de comédia. O
cenário bastante limpo de Heron Medeiros
é bonito e funcional, permitindo, com o auxílio da iluminação de Wagner Freire,
a agilidade da encenação requerida pela direção.
Coração Bandoleiro
é um bom divertimento que ao longo da temporada e com alguns ajustes, pode
render muito mais.
Em cartaz no Teatro Cacilda Becker até 13 de outubro, às
sextas e aos sábados às 21h e aos domingos às 19h.
Também senti mais verdade nas cenas entre Calixto e Maria do Carmo, chegavam até mim de maneira mais verossímil.
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