Quando era garoto eu já olhava as propagandas das peças de
teatro no jornal que meu pai comprava (A
Gazeta) e ficava intrigado com uma frase que sempre aparecia nas peças
interpretadas por Dercy Gonçalves anunciando que o público ria a bandeiras
despregadas. Mas o que queria dizer aquilo? Imaginava que se gargalhava muito
durante o espetáculo, mas o que as bandeiras sem pregas tinham a ver com isso?
O tempo passou, a frase caiu em desuso e nunca mais ela me veio ao pensamento.
Até que ontem fui rever A Mulher do Trem
que Os Fofos Encenam estão
reapresentando para fechar com “chave de ouro” o projeto Baú de Arethuzza que recupera as tradições do Circo-Teatro.
“Morri de rir” com o espetáculo!
Fazia muito, mas muito tempo mesmo,
que eu não ria tanto e no caminho de volta a frase acima me veio à cabeça. Sim,
eu senti que “ri a bandeiras despregadas”, apesar de até ali, continuar não
sabendo o que significava a frase. Em casa, procurei no dicionário e nada
achei. O “salvador da pátria” foi o Google: a frase origina-se em Portugal e
significa -rir aberta e sinceramente como nos dias de festa-. Sim, e daí? Dei um
“riso amarelo” e pensei “até aí morreu Neves”!
Deixando de “lero-lero” abandono as frases feitas para escrever sobre o
que interessa: A Mulher do Trem.
A peça é um vaudeville
escrito no início do século 20 pelos franceses Maurice Hannequin e George
Mitchell que, alguns anos depois, estreou no Brasil pelas mãos da família Neves
(à qual pertence Fernando Neves, diretor e mentor do projeto Baú de Arethuzza).
Trata-se de uma comédia de quiproquós
originados pelo encontro do galã da peça com uma misteriosa mulher no vagão de
um trem. Um suceder de surpresas nos leva de modo muito divertido até o
hilariante desfecho.
Fernando Neves
Tudo funciona no espetáculo de Fernando Neves: a farsa é
levada ao extremo pelas máscaras, pelo gestual e pela expressão vocal dos
atores; sincroniza-se com isso a perfeita trilha musical interpretada ao piano
por um dos diretores musicais da peça (Fernando Esteves) que comenta a ação e interage com os atores. Cenário
(Leopoldo Pacheco e Marcelo Andrade) e iluminação (Eduardo Reyes) simples e
eficazes que remetem àqueles usados nos Circos-Teatro, assim como os criativos
figurinos criados por Carol Badra e Leopoldo Pacheco.
Cris Rocha compõe à perfeição a megera Dona Adelaide que
comanda a ação até um determinado ponto da peça, Paulo de Ponte-sempre hilário-
é Sr. Gusmão, o marido submisso. O galã Gustavo e a ingênua Alice são vividos
com graça por Eduardo Reyes e Erica Montanheiro. Bruno Spitaletti faz
malabarismos com seu engraçado Dr Souza, marido tão bêbado e tantas vezes (supostamente)
traído. O que dizer da movimentação e da voz de Katia Daher como a espevitada Sra.
Julieta? Só vendo, só vendo... Silvia Poggetti é a Condessa de Belmonte e sua
interpretação do Youkali Tango é única. Zé Valdir compõe o faminto e desgraçado
Sr.Felix que acaba tendo um final feliz. Deixei propositalmente por último os
pândegos criados negros interpretados com virtuosismo por Carlos Ataíde(uma
reservada Enedina) e Marcelo Andrade(um irreverente Juca). Importante lembrar
que as entradas e saídas de cena de todo o elenco são um espetáculo a parte e
responsáveis por boa parte das gargalhadas que ecoam na plateia durante todo o
espetáculo.
Marcelo Andrade (Juca)
A Mulher do Trem
faz parte do repertório dos Fofos há dez anos e mantém o mesmo frescor da
estreia. Vários atores passaram pelo espetáculo nesse período e na atual
remontagem alguns deles se alternam nos papéis com o elenco atual.
Trata-se de um dos espetáculos mais divertidos e bem
sucedidos em cartaz na cidade, ficando em temporada somente até o dia 30 de
setembro aos sábados às 21h e aos domingos e às segundas às 20h no Espaço dos
Fofos, onde o acolhimento é perfeito e de lambuja você pode tomar um copo de
vinho e comer uma gostosa tortinha de legumes.
IMPERDÍVEL! VOCÊ VAI “RIR A BANDEIRAS DESPREGADAS”
Obs: Neste comentário os lugares-comuns estão escritos entre
aspas.
O seu blog deveria fazer parte de um site jornalístico, pois os comentários são muitos úteis para quem gosta e frequenta teatro. Deu vontade de rever a peça.
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