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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

UMA NOITE COM KLEBER MONTANHEIRO



     Muito já se disse e escreveu sobre Kabarett, musical da Cia. da Revista escrito, dirigido e interpretado por Kleber Montanheiro. A montagem original é de 1999; foi remontada em 2009, tendo sido apresentada esporadicamente nesses cinco anos, fazendo sua última apresentação (esperemos que desta temporada) na noite calorenta de 27 de janeiro de 2014 e despedindo-se do simpático espaço na Praça Roosevelt (o grupo está de mudança para uma nova sede na Alameda Nothman).
     Apesar da minha intensa vida de espectador, por uma série de circunstâncias, só agora assisti ao empático trabalho de Kleber como a mestre de cerimônias Georgette. Tudo gira em torno dela sendo ela não só a mestre, mas a própria cerimônia. O numeroso elenco, apesar de um ou outro pequeno solo, serve de suporte para Georgette brilhar. E como Kleber Montanheiro brilha! Com gestual e voz perfeitos, ele tira partido de cada momento tanto do elenco como do público fazendo a apresentação fluir de maneira lúdica apesar de duração, no meu ponto de vista, excessiva do espetáculo.
     O espetáculo propõe-se a mostrar que apesar do clima divertido dentro do cabaré, lá fora a besta do nazismo de Hitler está atenta e preparando-se para o domínio total. Esse clima remete àquele do clássico filme de Bob Fosse Cabaret (1972) e atinge seu objetivo com muito mais eficiência do que o musical estrelado por Claudia Raia baseado no filme e que esteve em cartaz na cidade até o ano passado. Ao lado do prodigioso trabalho de Kleber creio ser esse o maior elogio que posso fazer a Kabarett.
     Longa vida à Cia. da Revista em sua nova sede, que espero seja tão acolhedora quanto a atual.

domingo, 26 de janeiro de 2014

DOSE DUPLA DE ESIO MAGALHÃES




     O Teatro e seu poder de nos surpreender! Eu conhecia de nome o trabalho do grupo Barracão Teatro de Campinas, mas nunca havia assistido aos seus trabalhos. Nesta semana tive a oportunidade de assistir a dois deles no CIT Ecum e fiquei totalmente boquiaberto com Esio Magalhães.

 
     Diário Baldio é uma versão muito original do jogo de palhaços Branco e Augusto. Lady - um ser (mulher? homem?) que vive num beco sujo e abandonado, mas que tem sonhos e se dá ares de uma grande dama otimista (Bom dia sol! Bom dia pássaros!)- tem seu espaço invadido por um ser fisicamente monstruoso muito ingênuo e de bom coração que ela apelida de Cotoco. Está formada a dupla: Lady com características de Branco e Cotoco com aquelas de Augusto. O jogo entre eles começa de maneira quase infantil e termina tragicamente. A situação me remeteu a uma versão clownesca de Dois Perdidos Numa Noite Suja do Plínio Marcos. A interpretação de Esio Magalhães como Cotoco é absolutamente brilhante (ele tem as pernas amarradas para se arrastar como a personagem e uma máscara que lhe cobre rosto e cabeça, restando apenas a boca e um dos olhos como recursos expressivos da face). Gabriel Boldstein tem boa atuação, mas exagera na feminilidade/frescura de Lady. Trata-se de um bem sucedido espetáculo de humor negro que renderia ainda mais se tivesse um tratamento dramatúrgico mais consistente cortando algumas cenas repetitivas e reduzindo a duração para uma hora. A peça é dirigida por Tiche Viana que sabiamente deixa Esio dar vazão ao seu talento.

 
     WWW Para Freedom foi o segundo espetáculo. Neste solo Esio Magalhães mostra que é um palhaço de mão cheia, aquele com muita humanidade que leva o público das gargalhadas às lágrimas em questão de segundos. Ele nos leva a guerras onde os aviões são de papel e as bombas de chocolate, mas mesmo assim nos faz sentir os horrores e a inutilidade das mesmas. Esta peça também se ressente de dramaturgia mais elaborada exagerando no uso do recurso do diálogo com uma personagem invisível (Willie), mas por outro lado dá margem a uma demonstração do virtuosismo clownesco do ator-palhaço. Ele faz malabarismos, come uma vela e interage de uma maneira espontânea e simpática com o público que vai para onde ele quiser.

 
     Os dois espetáculos divertem, surpreendem e nos faz pensar oferecendo uma dose dupla de Esio Magalhães. Querer mais já é gulodice!... Mas como sou guloso pretendo rever WWW Para Freedom!
     Diário Baldio está em cartaz às quartas e quintas às 21h até 20/02 e WWW Para Freedom às sextas e sábados às 21h e domingos às 20h até 23/02. Teatro CIT Ecum – Rua da Consolação 1623.
 
 
 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A ARTE DA COMÉDIA - O TEATRO É NECESSÁRIO?


     A arte é necessária? O teatro é necessário? Como seria um ser humano que nunca ouviu uma música e jamais presenciou uma manifestação que não fosse aquela oferecida pela vida real? Os homens antigos foram buscar a arte primeiramente na natureza (o canto dos pássaros, o ruído dos ventos) e depois nos rituais, os quais acabaram dando origem ao teatro. A indústria cultural com sua busca incessante por retorno financeiro banalizou a arte e muita coisa hoje curtida e absorvida pela maioria é puro lixo cultural (haja vista a baixa qualidade da música popular cantada nos quatro cantos do mundo, os programas televisivos que tem o limite do mau gosto em coisas como o Big Brother e a vulgaridade da maioria dos espetáculos teatrais que se intitulam “comédias comerciais”). Mas resistir é preciso e o pobre enjeitado (o teatro foi assim chamado por Oswald de Andrade) é um dos baluartes dessa resistência. Em meio a um deserto de bobagens (em artigo anterior, fiz relação de títulos de peças em cartaz que per si revelam a que vieram) ainda é possível encontrar o teatro combatente, o teatro arte, tanto nas produções dos coletivos como naquelas realizadas por grupos que se formam para um determinado espetáculo.
 
     Neste último caso insere-se A Arte da Comédia espetáculo vindo do Rio de Janeiro em cartaz no Sesc Santana. Por meio do ardiloso texto do italiano Eduardo De Filippo (1900-1984), autor da famosa peça Filomena Marturano (último trabalho da saudosa Yara Amaral, também no Rio de Janeiro), a função e a necessidade do teatro são discutidas de maneira lúdica e muito engraçada. A encenação de Sergio Módena concentra sua atenção no trabalho de atores (são 12 em cena!) com um resultado homogêneo e de alta qualidade.
Eduardo De Filippo
 
      A peça trata do tema por meio do embate entre um homem de teatro (o dono de uma companhia) e um burocrata (o novo prefeito de uma pequena cidade). Há um belo prólogo onde o homem de teatro, ainda na rua, discorre sobre o universo do teatro. Na primeira parte os dois discutem sobre a importância do teatro e na segunda entram em cena os visitantes (eles mesmos ou atores os representando?) criando-se uma pandega confusão que culmina com a chegada dos guardas que devem elucidar quem é quem. Mas serão eles verdadeiramente guardas ou atores interpretando guardas? A realidade, onde está a realidade?
 
 
     Apesar de homogêneo cabe destacar do elenco os nomes de Ricardo Blat (excelente como o homem de teatro), de Thelmo Fernandes como o prefeito e do ótimo ator que interpreta o médico Quinto Basetti que tem tempo de comédia perfeito (creio que seu nome é Alcemar Vieira – o programa não indica a relação entre ator e personagem).
 
     A título de informação cabe notar que essa peça foi montada aqui em São Paulo no ano de 1999 pela Companhia Razões Inversas dirigida por Marcio Aurélio (que é o tradutor do texto), tendo Walter Breda como o homem de teatro e Marcelo Lazzaratto como o prefeito. Os “Fofos” Newton Moreno, Fernando Neves e Marcelo Andrade faziam parte do elenco. Apesar de bastante elogiada a peça cumpriu uma curta temporada num teatro distante do circuito teatral (a sala pequena do Teatro Alfa).
     A Arte da Comédia abre auspiciosamente a temporada teatral paulistana continuando uma tendência do ano de 2013 de espetáculos que discutem o fazer teatral. Pura delícia que não pode deixar de ser assistida por todos aqueles que acreditam e amam o teatro. A peça fica em cartaz até 23 de fevereiro no Sesc Santana às sextas e sábados às 21h e domingos às 18h.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

ZESCAR 2013 - CINEMA

 
    
      Assisti a quase 200 filmes em 2013 (mais precisamente:192). Foi um ano rico em boas (e más )surpresas. Com exceção da Mostra do Billy Wilder no CineSesc, não acompanhei mais nenhuma mostra. Segue abaixo a lista dos meus Zescar (melhores) e Racsez (piores):


FICÇÃO ESTRANGEIRA:

1.       Amor

2.       Era Uma Vez na Anatólia

3.       Depois de Lucia
 
 

4.       Dentro da Casa

5.       Cesar Deve Morrer
 
 

6.       Branca de Neve

7.       As Sessões

8.       Tabu
 
 

9.       Qual É o Nome do Bebê?

10.   Antes da Meia Noite

 

Não fariam feio na lista dos melhores:

1.       Na Neblina

2.       O Filho do Outro

3.       A Caça

4.       Terra Firme
 
 

5.       Pais e Filhos

 

DOCUMENTÁRIO ESTRANGEIRO:

       Nada a destacar

FICÇÃO NACIONAL:
 
 

1.       O Som ao Redor

2.       Tatuagem

3.       Serra Pelada

4.       Chamada a Cobrar

 

DOCUMENTÁRIO NACIONAL:

1.       Mataram Meu Irmão

2.       Repare Bem

3.       A Alma da Gente

4.       Jorge Mautner – O Filho do Holocausto

 

FORA DO CIRCUITO:

1.       Mostra Billy Wilder (CineSesc)

2.       Náufragos da Louca Esperança (Mostra de Cinema)
 
 

3.       Relançamentos: Laranja Mecânica, A Malvada, Um Corpo Que Cai.

 

PIORES DO ANO:

1.       A Espuma dos Dias

2.       Pietá

3.       A Viagem

4.       Juan e Evita

5.       O Lado Bom da Vida

6.       Elena

7.       Frances Ha

8.       Indomável Sonhadora

9.       A Parte dos Anjos

10.   Hitchcock

 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

ZESCAR 2013 - TEATRO



     Listas de melhores e prêmios por votação pela Internet onde se pode votar quantas vezes quiser (??!!) estão tão banalizados que relutei em publicar a relação do ZESCAR  de teatro de 2013. O nome ZESCAR, obviamente, é uma brincadeira com o original americano. Faço essa lista há vários anos e o ano passado foi a primeira vez que a tornei pública através do meu blog. Trata-se de uma lista totalmente pessoal e leva em conta os espetáculos aos quais assisti (foram 195 em 2013). Para não ser totalmente injusto, listo também aqueles “perdidos” que julgo terem sido importantes. Finalmente existe também o RACSEZ para os piores do ano: foram oito em 2013, dentre os 195 assistidos. Tenho fama de “bocudo” e de politicamente incorreto, então para evitar dissabores e novos inimigos não publicarei essa relação.

 
 
        
ZESCAR 2013 – TEATRO
PEÇAS:
1.       Cais ou Da Indiferença das Embarcações
2.       Jacinta (RJ)
3.       Eu Não Dava Praquilo
4.       Ausência (RJ)
5.       Cantata Para Um Bastidor de Utopias
6.       Os Canastrões (RJ)
7.       Nossa Classe
8.       Folias Galileu
9.       Hotel Fuck (POA)
10.   Morro Como Um País
 
Outros destaques:
1.       Operação Trem Bala
2.       Nada, Uma Peça Para Manoel de Barros (Brasília)
3.       Reprise de “A Mulher do Trem”
 
MUSICAIS:
1.       Quase Normal
2.       Alô Dolly
 
ESTRANGEIROS:
1.       Mãe Coragem/Pansuri  (Jaram Lee – Coréia) - Sesc
2.       Translunar Paradise (Theatre ad Infinitum – Inglaterra) - CCBB
3.       Ocupação Work Center Grotovski/Thomas Richards (Itália) - Sesc
4.       Hamlet (The Wooster Group – USA) - Sesc
5.       Ópera de Pequim - Sesc
6.       Um Inimigo do Povo ( Schaubühne – Alemanha) – Sesc
 
PROJETOS:
1.       Baú de Arethuzza (Os Fofos Encenam)
2.       White Rabbit, Red Rabbit (Sesc Vila Mariana)
 
 
 
DESTAQUES:
1.       Elenco de Cais
2.       Atores: Cassio Scapin (Eu Não Dava Praquilo), Luís Mello (Ausência), Chico Carvalho (Ricardo III)
3.       Atrizes: Andrea Beltrão (Jacinta), Cris Rocha (Conjunto dos espetáculos dos Fofos Encenam), Sylvia Prado e Camila Mota (Cacilda !!! e Cacilda!!!!), Yara de Novaes (Contrações)
4.       Apresentações de rua do grupo Buraco D’Oráculo (Ser Tão Ser e Ópera do Trabalho)
5.       Dramaturgia: Kiko Marques (Cais), Newton Moreno/Aderbal Freire-Filho/Branco Mello (Jacinta), Nanna de Castro ( Bala na Agulha)
6.       Direção: Kiko Marques (Cais), Eric Lenate (Vestido de Noiva), Zé Henrique de Paula (Nossa Classe)
7.       Trilha sonora: Umanto (Cais)
8.       Cenografia: Chris Aizner (Cais), Kleber Montanheiro (Ricardo III)
 
OS PIORES DO ANO:
 
     - CENSURADO!
 
 
    
PERDIDOS:
     - O Patrão Cordial
     - Édipo na Praça
     - Tareias
     - Colônia Penal
     - Medeia Vozes (Ói Nóis Aqui Traveis)
     - Dois espetáculos do Grupo XIX: Nada Aconteceu... e Estrada do Sul
CONCERTOS:
     - OSESP/OSM
     - Orquestra do Concertgebouw Amsterdam no Ibirapuera
     - Orquestra  Sinfônica Simon Bolivar – Venezuela – Dudamel
 
SHOWS:
     - Otros Aires (Argentina)
     - Goldherança
     - Mercan Dede Secret Tribe (Turquia)
     - Edu Lobo 70 anos
 
BALLET:
     - Nada a destacar
ÓPERA:
     - Aida
     - Cavalleria Rusticana
 
RESUMO:
                TEATRO:     158
                CONCERTO: 16
                SHOW:          12
                ÓPERA:           5
                BALLET:          4
                TOTAL:        195