Numa praia de Santos (sem data)
Abro uma exceção neste blog para escrever sobre um assunto que não trata diretamente de teatro, mas essa pessoa muito me inspirou e teve uma vida digna de ser retratada numa peça ou num filme, por isso...
Minha nonninha Agnesa
ou Nheza ou Inês ou Virginia Negri, como ela dizia que era seu nome original (ela não
tinha documentos) nasceu em Rovigo na Itália em 1871. Na primeira década do
século 20, em função da crise na Itália pré-guerra imigrou para o Brasil com o
marido e uma filha. Na longa viagem de navio, morre o marido que é lançado ao mar, desembarcando no Brasil viúva, com uma criança
(Ada), analfabeta e sem falar uma palavra em português. Foi auxiliada por
alguns parentes que já haviam imigrado para cá e foi morar e trabalhar na
lavoura em Catanduva mudando-se depois para Coqueiros (atual Arcadas) no interior de São Paulo. Lá conheceu
Moisés Bertuzzi, meu nonno, com quem
se casou e teve seis filhos: Giulietta, Cesare, Bianca, Amadeo, Severina (que morreu de meningite aos 17 anos) e Clotilde. Quando
estava grávida da última filha (minha mãe Clotilde) enviuvou novamente, tendo
que criar os seis filhos trabalhando muito e vivendo com muito sacrifício. Comia-se
polenta todos os dias, o que provocava a reação do menino Amadeo:
- Todo dia “ito” aqui! “Ito” era a polenta, única
possibilidade de alimentação para a família quase miserável.
A família Bertuzzi. Da esquerda para a direita: Giulietta, Amadeo, Severina, Nheza, Moisés, Cesare e Bianca. (Clotilde ainda não havia nascido, esta foto é anterior a 1914)
Na década de 1920, já com uma situação pouco melhor e com os
filhos criados (as duas filhas mais velhas casadas) muda-se para São Paulo. A
família vai morar na Água Branca, os outros filhos vão casando e ela passa a
morar em 1937 com a última filha a casar (minha mãe). Meu pai (José) recebe-a
de braços abertos e acredito que a partir daí ela teve uma vida mais tranquila
e bonita acompanhando a chegada dos netos e bisnetos e convivendo com os outros
filhos que sempre vinham visitá-la.
No quintal da nossa casa na Rua Joaquim Ferreira: Clotilde, eu, Lita (minha irmã) e Nonninha.(1951)
Outra na Joaquim Ferreira: Nonninha, Lita e eu. Ao fundo, o barracão meu "teatro" (1955)
Com os bisnetos Rubens, Osmar e Roberto (1958)
Foi uma pessoa muito interessante e sensível. Sábia na sua ignorância formal :nunca aprendeu
a ler, mas recitava trovinhas em italiano para os netos e sempre tinha uma
palavra ou frase para qualquer situação que se apresentasse. Muito do que sei
sobre contação de histórias e da importância da música e das palavras para a
vida recebi de nonninha e por isso sou a ela eternamente grato.
Com a neta Ariete (1958)
Morreu serenamente há 50 anos em 1964 aos 93 anos como uma
vela que se apaga lentamente. Hoje ela estaria fazendo 143 anos! Muita luz para
a Nheza!
Bonita homenagem Zé. Eu acredito que devemos agradecer todos os que vieram antes de nós e, através do trabalho árduo, abriram o caminho para nossa chegada. Viva a Noninha.
ResponderExcluirVIVA!!! Obrigado querida Nadya!
ResponderExcluirQue bonito, Zé! “A Vida de todo ser humano está ligada aos antepassados, se não agradecermos às raízes da Vida, seremos como a flor amputada do caule: por mais que seja bela e vistosa, logo murchará e secará.” Seicho Taniguchi. - Seicho-no-ie
ResponderExcluirObrigado Regina. Que frase linda! Só hoje (quase um mês depois) vi seu comentário. Beijos.
Excluirlindo! eu conheço muito a Ariete, é uma pessoa maravilhosa e vejo que isto vem de família.
ResponderExcluirmaria aparecida alves (neta de imigrantes italianos)
Obrigado Maria Aparecida. Só hoje li o seu simpático comentário. Numa coisa estamos de acordo: a Ariete é uma pessoa maravilhosa! Grande abraço.
ExcluirOlá, também sou da família, neta de Giulietta. Fiquei muito feliz , foram minhas primas Júlia e Mariana que possibilitaram o achado. Ariete, comunique-se comigo, ficarei imensamente agradecida e contente.
ResponderExcluirMuito linda sua homenagem... Sou Nádia, filha de Ademar e Tininha, neta de Giulietta e Benedito... nunca me esqueci de vocês, embora a vida tenha nos separado. Abraços saudosos...
ResponderExcluirSou neta de Amadeo, sabia Amadeu!
ResponderExcluirSou filha de Ruberth Bertuzzi.
Na infância ouvi muito carinhosamente sobre Nhesa! Tia Tide, Lita e José Cetra também .
Familia que enche meu coração de afeto e amor.
Agradeço essa sua postagem.Obrigara
Olá, sou filho mais novo do Rubens, Waldecir (tico), obrigado por nos fazer recordar tudo isso!!! Um forte abraço.
ResponderExcluirOlá, sou Rejane, filha de Ruberth, neta de Amadeu Bertuzzi. Lindo resgate histórico. Força e amor!!!!
ResponderExcluirEu sou o Wagner, filho mais velho do Rubens Bertuzzi, a lembrança que tenho do meu pai e do vô Amadeu são alegres e divertidas
ResponderExcluirO casal Jose cetra e a "tia" Tide foram meus padrinhos !!!
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