O Engenho Teatral é um grupo dirigido por Luiz Carlos
Moreira, criado em 1979 e que em 1993 decidiu retirar-se do circuito comercial
para se dedicar a apresentações gratuitas para um público que não tinha acesso
ao teatro. Construiu um teatro na forma de pavilhão de circo e com ele rodou
por vários pontos da periferia da cidade até fixar-se em 2004 num belo parque
dentro do Clube Escola Tatuapé ao lado da estação Carrão do metrô. O repertório
do grupo tem uma forte preocupação social e contestatória em relação à
voracidade do mundo capitalista, apresentando espetáculos de caráter político,
mas de fácil compreensão e de forma bastante lúdica e divertida, no melhor
estilo do teatro épico brechtiano. Abaixo, uma foto do teatro criado por Luiz
Carlos Moreira.
Curiosamente, ou melhor, compreensivelmente, a
imprensa ignora local e trabalho tão importantes para o desenvolvimento de
público não publicando uma linha sobre o grupo e dedicando páginas inteiras
sobre a estreia de uma peça com atores globais ou sobre mais um musical da
Broadway. Coisas do mundo capitalista que é justamente aquilo que o Engenho
repudia e denuncia. Pois é...
Desde outubro de 2013 o grupo vem fazendo uma retrospectiva
de alguns de seus trabalhos. Já foram apresentados Cabaré do Avesso, o excelente Opereta
de Botequim e agora Pequenas histórias que à História não contam. Até
o final do ano ainda serão apresentados Em
Pedaços e Outro$ 500. Vale a pena
colocar em sua agenda uma visita ao aconchegante espaço do Engenho. Os
espetáculos acontecem aos sábados e domingos às 19h e são gratuitos.
Mas vamos ao espetáculo a que assisti ontem: Pequenas histórias... Em meio a um
programa de televisão liderado por um clone de Chacrinha e às divagações de um
dramaturgo/intelectual que é questionado por um coro que critica o teor de sua
obra surgem os protagonistas das pequenas histórias: a velha mijona que é
despejada de seu barraco (momento forte do espetáculo com uma bela composição
de Irací Tomiatto), a menina que sonha em ser modelo, a fã dos ídolos
televisivos, a fã do ator Dado Rolabella, o operário padrão da fábrica de
sapatos, o maltrapilho alienado e drogado que cometeu um crime e tantos outros
para os quais é colocada sempre a mesma questão: que sistema é esse que produz
esses seres marginalizados? Quatro dos
atores desdobram-se na interpretação das várias pequenas histórias, restando
para Juh Vieira representar o apresentador e o intelectual, o que não é mera
coincidência. Moreira faz um espetáculo épico com muitas perguntas, deixando a
reflexão sobre elas por conta do público. A saída, onde fica a saída? Pelo
menos aquela do teatro é indicada por uma das atrizes ao final do espetáculo!
Fica evidente que o elenco homogêneo e
vibrante tem clara a função social do
teatro e o texto e direção de Luiz Carlos Moreira garantem a reflexão sobre os
desmandos da sociedade de consumo do mundo capitalista.
NÂO DEIXE DE CONHECER O ESPAÇO DO ENGENHO TEATRAL. Fica
muito próximo à estação do metrô Carrão e desenvolve um trabalho não só
teatral, mas social e político na zona leste da cidade.
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