domingo, 18 de maio de 2014

PEQUENAS HISTÓRIAS pelo ENGENHO TEATRAL



     O Engenho Teatral é um grupo dirigido por Luiz Carlos Moreira, criado em 1979 e que em 1993 decidiu retirar-se do circuito comercial para se dedicar a apresentações gratuitas para um público que não tinha acesso ao teatro. Construiu um teatro na forma de pavilhão de circo e com ele rodou por vários pontos da periferia da cidade até fixar-se em 2004 num belo parque dentro do Clube Escola Tatuapé ao lado da estação Carrão do metrô. O repertório do grupo tem uma forte preocupação social e contestatória em relação à voracidade do mundo capitalista, apresentando espetáculos de caráter político, mas de fácil compreensão e de forma bastante lúdica e divertida, no melhor estilo do teatro épico brechtiano. Abaixo, uma foto do teatro criado por Luiz Carlos Moreira.
 
     Curiosamente, ou melhor, compreensivelmente, a imprensa ignora local e trabalho tão importantes para o desenvolvimento de público não publicando uma linha sobre o grupo e dedicando páginas inteiras sobre a estreia de uma peça com atores globais ou sobre mais um musical da Broadway. Coisas do mundo capitalista que é justamente aquilo que o Engenho repudia e denuncia. Pois é...
     Desde outubro de 2013 o grupo vem fazendo uma retrospectiva de alguns de seus trabalhos. Já foram apresentados Cabaré do Avesso, o excelente Opereta de Botequim e agora Pequenas histórias que à História não contam. Até o final do ano ainda serão apresentados Em Pedaços e Outro$ 500. Vale a pena colocar em sua agenda uma visita ao aconchegante espaço do Engenho. Os espetáculos acontecem aos sábados e domingos às 19h e são gratuitos.
 
 
     Mas vamos ao espetáculo a que assisti ontem: Pequenas histórias... Em meio a um programa de televisão liderado por um clone de Chacrinha e às divagações de um dramaturgo/intelectual que é questionado por um coro que critica o teor de sua obra surgem os protagonistas das pequenas histórias: a velha mijona que é despejada de seu barraco (momento forte do espetáculo com uma bela composição de Irací Tomiatto), a menina que sonha em ser modelo, a fã dos ídolos televisivos, a fã do ator Dado Rolabella, o operário padrão da fábrica de sapatos, o maltrapilho alienado e drogado que cometeu um crime e tantos outros para os quais é colocada sempre a mesma questão: que sistema é esse que produz esses seres marginalizados?  Quatro dos atores desdobram-se na interpretação das várias pequenas histórias, restando para Juh Vieira representar o apresentador e o intelectual, o que não é mera coincidência. Moreira faz um espetáculo épico com muitas perguntas, deixando a reflexão sobre elas por conta do público. A saída, onde fica a saída? Pelo menos aquela do teatro é indicada por uma das atrizes ao final do espetáculo! Fica evidente que  o elenco homogêneo e vibrante tem  clara a função social do teatro e o texto e direção de Luiz Carlos Moreira garantem a reflexão sobre os desmandos da sociedade de consumo do mundo capitalista.
 
     NÂO DEIXE DE CONHECER O ESPAÇO DO ENGENHO TEATRAL. Fica muito próximo à estação do metrô Carrão e desenvolve um trabalho não só teatral, mas social e político na zona leste da cidade.
 

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