Sexta
feira. Penúltimo dia do MIRADA. Saldo bastante positivo. Cerca de 70mil pessoas assistiram até agora aos espetáculos apresentados em vários pontos da cidade e fora dela. Assisti a 16 espetáculos, nove deles já comentados neste blog. Segue uma breve resenha daqueles ainda não comentados:
YERMA é uma encenação minimalista
portuguesa do texto de Garcia Lorca que ficou comprometida ao ser apresentada
no imenso Teatro Coliseu. Apenas um ator, uma atriz e um músico com projeções
de imagens ao fundo procuram dar conta do drama de Yerma. Falhas na iluminação
também prejudicaram a apresentação.
OS B. CONSIDERAÇÕES APOLÍTICAS SOBRE O
NACIONALISMO.
Espetáculo boliviano encenado de forma naturalista que mostra uma família
burguesa decadente recordando seus dias de glória e discutindo o sentido da
vida. O tema tem algo a ver com a obra de Jorge Andrade, mas a dramaturgia está
bastante aquém do nosso, injustamente esquecido, dramaturgo. As interpretações
são apenas corretas.
O VENTRE DA BALEIA. Vindo da
Colômbia, este instigante espetáculo trata com humor negro de tema ousado e
pouco tratado pelo teatro (o tráfico de órgãos e de bebês).
Divulgação
CÁDIZ EM MEU CORAÇÃO. Espetáculo
espanhol dirigido por Pepe Bablé, um dos curadores do MIRADA. Três atrizes e um
ator contam por meio do excelente texto de Abel González Melo a história de
Dolores, uma locutora de rádio frustrada com a vida monótona que leva junto à
mãe possessiva, conservadora e proprietária de uma confeitaria cujo nome dá título
à peça. Dolores vive de recordar o passado e de idealizar o futuro por meio de
cartões postais de lugares que sonha visitar. Há ótimos momentos de metateatro
quando Dolores jovem e estudante de arte dramática busca encenar os dramaturgos
clássicos espanhóis. Belíssimo trabalho de atores.
Divulgação
MENORES QUE O GUGGENHEIM. Ótima surpresa vinda
do México. Com muito humor conta-se a história de dois amigos que após
tentativa frustrada de viver na Europa voltam para o México e sem nenhum
dinheiro pretendem montar uma peça sobre suas experiências. Juntam-se a dois
não atores e iniciam os ensaios de Os
Insignificantes, peça para a qual o autor não consegue dar um final. Mais
um espetáculo que tem o teatro como tema usando linguagem próxima àquela do
teatro do absurdo. O espetáculo transita com fluidez entre cenas muito
engraçadas e outras dramáticas como a morte da filha de um dos personagens. O
título refere-se à pequenez do homem diante da monumentalidade arquitetônica do
Museu Guggenheim em Bilbao. Os atores têm um ótimo tempo de comédia e nos
divertem muito, além de nos fazer refletir sobre a solidão do homem
contemporâneo.
NUESTRA SENHORA DE LAS NUVENS. O poético texto sobre exílio escrito pelo argentino Aristides Vargas é em boa hora revisitado pelo grupo de Natal, Clowns de Shakespeare. Relatos de exilados brasileiros foram inseridos no original dando um caráter épico à montagem. Os quatro bons atores dão conta das várias personagens. O inventivo cenário composto de nuvens ao fundo, malas e um monte do torrão natal complementam o ambiente da montagem. A peça estreou no MIRADA e ainda carece de ritmo, fato que com certeza será sanado ao longo da temporada.
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O JARDIM DAS CEREJEIRAS. Um Tchekhov
montado na medida certa: boas interpretações, cenário simples e
sugestivo, iluminação em cor sépia e direção delicada que privilegia as
palavras do belo texto do autor russo. O grande público, talvez assustado com o
palavreado e a perspectiva da longa duração do espetáculo (2h20), fez uma
verdadeira debandada na primeira meia hora, mas os que ficaram tiveram o
privilégio de assistir a um grande momento do MIRADA.
Zé, muito bom tomar contato com as peças através do seu texto. Fiquei com vontade de ver Tchekhov, em particular. O teatro agradece sua participação, e os amigos também.
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