(Paulinho na época em que se passa esta história)
Mariza
era a caçula de uma família de três irmãs. De temperamento forte, falava muito
alto, dando um tom dramático a tudo que dizia, fato que lhe valeu os apelidos
de Anna Magnani e Sarah Bernhardt dados pela mana mais velha.
Originária
da cidade de Duartina a família mudou-se para Bauru no início da década de 1940
quando a menina tinha dez anos. Foi fazer o primário no Grupo Escolar Rodrigues
de Abreu.
A
coordenadora da escola, Dona Jacy, resolveu realizar uma peça de teatro para a
comemoração do fim do ano e logo pensou em Mariza para o papel principal, haja
vista seu modo expansivo de ser. A peça chamava-se Prato de Porcelana e tinha quatro personagens: a mãe (papel de
Mariza), o pai, a filha e a empregada. A ação girava em torno das reclamações
que a zangada e falastrona mãe fazia ao circunspecto e conciliador pai pelo
fato da empregada ter quebrado alguns objetos da casa, inclusive o prato que dá
título à peça. Para o papel do pai Dona Jacy escolheu o seu sobrinho Paulinho
que, segundo Mariza, desde garoto já se revelava um ator de primeira linha.
Magrelo, ele atuava sentado numa poltrona lendo um jornal e simulando que
fumava um cachimbo. A filha e a empregada tinham papéis secundários sendo que
Mariza e Paulo se encarregavam da maioria dos diálogos.
Mariza
lembra até hoje de uma de suas falas: Ontem
quebrou a fruteira, hoje a linda
saladeira e um prato de porcelana. Criada assim nem de graça. Um dia sequer se
passa que não dê um prejuízo.
A
ação se passava durante o café da manhã e Mariza usava um penhoar que sua mãe
costurou às pressas nas vésperas da apresentação.
A
peça foi apresentada no Cine Teatro Bauru e foi aplaudidíssima pelos
entusiasmados familiares que estavam na plateia. Mariza recorda-se que os
quatro atores mirins se deram as mãos e numa reverência típica agradeceram os
aplausos. Grande dia na vida daquela menina que ainda hoje, mais de 70 anos
passados, o recorda com muita emoção.
Após
esse período nunca mais Mariza viu Paulo e anos mais tarde morando em São Paulo
soube que ele havia seguido a carreira artística (teatro e cinema).
No
ano de 1969, a convite de sua cunhada, foi assistir a Fala Baixo, Senão Eu Grito no Teatro Aliança Francesa. A peça de
estreia de Leilah Assumpção tinha como chamariz a atriz Marília Pêra. Mariza sentiu uma grande emoção ao reconhecer no
palco ao lado de Marília, o Paulo de sua infância, seu partner em O Prato de
Porcelana. Sim, era ele: Paulo Villaça!
Quando
o espetáculo terminou Mariza avistou Paulo no saguão do teatro conversando com
um senhor; muniu-se de coragem e foi se aproximando para cumprimentá-lo e para
falar do Prato de Porcelana, mas um
grupo de pessoas chegou antes do que ela, fato que a intimidou fazendo com que
se afastasse desistindo do contato. Até hoje ela se penaliza por não ter
concretizado esse encontro.
Só
ouviu falar de Paulo Villaça novamente em 1992 quando soube de sua morte.
Carinhosamente
apelidada por mim de Dona Cebolinha uma vez que foge, como o diabo foge da cruz,
de todo e qualquer prato que tenha vestígios da erva bulbosa da família das
liliáceas, hoje Dona Mariza é uma
jovial, simpática e ainda bastante extrovertida senhora de 84 anos que adora
ópera, seus netos, seus quatro filhos homens e também se entusiasma contando histórias
lindas como esta.
07/08/2015
Que história interessante. Agora ela já está registrada, dona Mariza vai ficar feliz ao saber. Nadya Milano
ResponderExcluirLegal!! Grande ator!
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