Um
ano se passou. Minha neta, a pequena
Laura, já anda e articula suas primeiras frases e é grande a minha curiosidade
de como será a sua reação aos espetáculos do Teatro Para Bebês que tanto a encantaram quando tinha oito meses.
Na ocasião também assisti ao espetáculo Sala
de Estar e ao escrever sobre esses dois momentos do grupo intitulei a
matéria Tempos de delicadeza no Espaço Sobrevento.
Pois
é, um ano se passou. O Teatro para Bebês está de volta e o grupo apresenta seu
novo espetáculo adulto: SÓ.
Só é uma reflexão poética sobre a
solidão construída dramaturgicamente a partir de improvisações dos atores junto
aos objetos que compõem a cena (o programa da peça indica os objetos que cada
ator usou para construir a sua cena). O grupo, bastante conhecido pelas suas
pesquisas com Teatro de Animação e de Bonecos, volta-se agora para o Teatro de
Objetos, radicalizando esta proposta neste belo espetáculo onde os atores
desenvolvem as ações sem se expressar verbalmente, mas apenas se relacionando
com os objetos que inundam o espaço cênico (malas, sapatos, trem, navio,
cadeiras, árvores e muito mais).
Estar
só ou ser só? Em vários momentos a questão é posta para o espectador, de forma
subjetiva, mas muito eficiente. Uma cena síntese da peça surge logo no início
quando uma mulher que carrega - literalmente - as dores do mundo nas costas
(uma igreja cheia de penduricalhos) revela que o motivo de sua tristeza é a
perda de um ente querido em um naufrágio. A encenação desse naufrágio com o uso
de uma camisa azul e de um naviozinho de brinquedo é para mim a maior
demonstração da potência cênica do Teatro de Objetos.
A
trilha sonora de Arrigo Barnabé e a iluminação de Renato Machado comentam todo
o espetáculo e têm papel importantíssimo na ação. Poucas vezes se viu em teatro
tamanha harmonia e sincronia entre essas três ferramentas do fazer teatral.
Assim
como os atores, os objetos entram e saem de cena, mas após a cena final onde
parece haver um encontro dos solitários debaixo de uma árvore, a iluminação pontua
todos os objetos usados durante o espetáculo. O público abandona o espaço
circulando pelos objetos e encantado com tanta beleza.
Só é mais um belo e sensível trabalho do
Grupo Sobrevento tratando da condição humana. Numa época em que o celular
parece ser o único objeto importante para o cidadão é importante lembrar que há
muitos outros objetos e, principalmente, seres humanos à nossa volta. Parabéns ao
Luiz André Cherubini, à Sandra Vargas (diretores) e a todo o elenco do espetáculo.
SÓ
está em cartaz no Espaço Sobrevento aos sábados às 18h e 20h e aos domingos às
18h até 20/09.
TEATRO
PARA BEBÊS será apresentado no mesmo espaço nos domingos de agosto às
11h e 14h.
O
Espaço Sobrevento fica na Rua Cel. Albino Bairão, 42 a algumas quadras do metrô
Bresser-Moóca. Os ingressos são gratuitos e estão disponíveis meia hora antes
nas bilheterias. TeL: 3399-3589.
13/08/2015
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