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sexta-feira, 25 de setembro de 2015

MORTE ACIDENTAL DE UM ANARQUISTA


DIVERSÃO E REFLEXÃO NA MEDIDA CERTA


        Pode-se imaginar uma comédia muito divertida e irreverente comentando e denunciando a morte de Vladimir Herzog ou de outros tantos presos políticos que morreram nos porões da ditadura militar? É mais ou menos isso o que o genial dramaturgo italiano Dario Fo fez com Morte Acidental de Um Anarquista, peça escrita em 1970 que teve excelente montagem brasileira em 1982 dirigida por Antonio Abujamra e tendo Antonio Fagundes no papel do Louco. Depois de quase 30 anos a peça retorna com direção de Hugo Coelho e com Dan Stulbach no papel principal. Infelizmente, continua muito atual; felizmente, porém, continua divertindo como nunca.

Capa do programa da montagem de 1982.

        Por acaso preso numa delegacia, um louco com mania de se fazer passar por outras pessoas vê a oportunidade de se travestir em juiz e assim questionar o delegado e o secretario de segurança sobre a morte de um anarquista que estava preso naquelas dependências e que foi torturado para poder confessar seu suposto envolvimento num atentado. O prisioneiro, segundo as autoridades, com medo de um rato suicidou-se se atirando pela janela ocasionando a tal morte acidental. Qualquer semelhança com casos ocorridos em dependências policiais brasileiras não é mera coincidência. Para enfrentar a chegada de uma jornalista o louco muda seu disfarce para um capitão e depois para um bispo até que é desmascarado pelo comissário que o estava interrogando no início da ação. Tudo ocorre em tom fortemente farsesco provocando gargalhadas no público durante toda a peça, inclusive no seu final impactante que não vou revelar aqui.
        Dan Stulbach aproveita para tirar o máximo de humor de todas as situações, bem auxiliado por um elenco afinado formado por Riba Carlovich como o secretario de segurança, Henrique Stroeter talvez histriônico em excesso como o delegado de polícia, Fernando Sampaio da Cia. La Mínima que aproveita seus dotes de palhaço para a personagem do subalterno comissário e Maira Chasseraux como a jornalista, acometida de afonia na noite em que assisti ao espetáculo e que o elenco aproveitou para fazer o público rir com a situação deixando a atriz à vontade e repetindo seu texto cada vez que ele se tornava inaudível. A participação de Rodrigo Geribello fazendo a sonoplastia ao vivo apenas com seus recursos vocais e um teclado é um espetáculo à parte e provocadora de muitas gargalhadas do público.
        O humor anarquista e demolidor de Dario Fo estão totalmente presentes na montagem de Hugo Coelho inclusive na introdução ao espetáculo onde o elenco recebe o público cantando uma canção e depois realiza um pequeno bate papo contando a origem da encenação que se deu nas conversas de Stroeter e Stulbach enquanto esperavam a passagem do João Gilberto no calçadão da praia do Leblon!! Tudo muito divertido, mas dando margem à reflexão e à indignação em relação ao nosso pobre país.
        MORTE ACIDENTAL DE UM ANARQUISTA está em cartaz no Teatro Porto Seguro às quartas e quintas às 21h até 10 de dezembro.

25/09/2015

        

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