O
PRIMEIRO MINYANA A GENTE NÃO ESQUECE... TAMPOUCO O SEGUNDO!
No ano de 2006 a Companhia Brasileira de Teatro de Curitiba apresentou em São Paulo a
peça Suíte 1 do dramaturgo francês
Philippe Minyana. Foi uma grata descoberta ver e ouvir aquele texto, uma
verdadeira partitura regida (dirigida) por Márcio Abreu tendo como instrumentos
as inflexões vocais dos atores. Escrita em 2002 a ela seguiram-se Suíte 2 e Suíte 3 nunca montadas por aqui. Instaurou-se a curiosidade de
conhecer melhor a obra do autor, mas além de pouco montadas, com exceção de Suíte 1, suas obras também não foram
publicadas no Brasil.
Agora por iniciativa de Amanda Banffy
(produtora, tradutora e atriz) nos chega Do
Amor (De l’Amour), peça escrita em 2011 por Minyana. Apresentada de forma
não linear a peça pipoca flashes da
vida do casal Cristina e Bob que esporadicamente é visitado pelo casal Milene e
Ted. As ações interpretadas são intercaladas por outras narradas. São momentos
da vida cotidiana desses quatro e de quaisquer seres que se relacionam: afetos,
discordâncias, amizade, amor, nascimento, morte, falta de dinheiro, viagens,
doenças, velhice.
A estimulante montagem de Francisco
Medeiros é marcada pela excelente trilha sonora de Dr. Morris que comanda a
movimentação e o tempo dos atores. Outra vez o texto de Minyana conduz a uma
montagem na forma de partitura que exige muita concentração por parte dos
quatro intérpretes para que o todo não saia do ritmo.
Gustavo Duque (substituido por Leonardo Antunes)/Amanda Banffy/Laís Marques/Carlos Baldim.
Foto: Marília Scarabello
Por detrás de aparente fragilidade
física, Amanda Banffy revela forte presença cênica quer quando interpreta, quer
quando narra ou mesmo em suas entradas e saídas de cena. Laís Marques inicia a
peça num tom alto e discursivo, mas no decorrer da peça alcança o tom desejado.
Carlos Baldim tem bom desempenho e talvez seja aquele que melhor revele a
fragilidade dos idosos. Mérito especial para Leonardo Antunes que com poucos
ensaios (substituiu o ator Gustavo Duque) e apenas três apresentações alcança
ótimo resultado tanto na interpretação como na complicada movimentação cênica.
Nominei cada um deles, mas cabe lembrar que como um todo o elenco é homogêneo e
harmonioso. Em certo momento os atores trocam de personagem (indicação do autor
ou do diretor?) o que acentua que aquilo que ocorre em cena pode ocorrer com
qualquer ser humano. Em conversa com os atores ao final do espetáculo soubemos
que naquele fim de semana nasceu a filha de um elemento do grupo e naquele
mesmo dia havia falecido a mãe de outro. Coisas que acontecem com você e
comigo. Coisas da vida mostradas de forma tão original por Minyana neste DO AMOR.
Os figurinos de Marichilene Artisevskis
abusam dos capotes, sobretudos e boinas indicando que a peça tem ação em
ambientes muito frios, mas penalizando os atores nestes dias tão quentes de
primavera do hemisfério sul.
DO
AMOR é um impecável exercício de teatro orquestrado por Francisco Medeiros
que pessoas sensíveis e curiosas por novas linguagens teatrais não podem
perder. Está em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade às quintas, sextas
e sábados às 20h com ingressos gratuitos. SÓ ATÉ 24 DE OUTUBRO.
12/10/2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário