Apesar de todos os percalços, São Paulo oferece uma rica
temporada teatral neste início de primavera indo desde espetáculos de grupos
alternativos até grandes produções com astros globais. Neste segundo caso
inserem-se as surpreendentes interpretações de Tarcisio Meira em O
Camareiro (direção de Ulysses Cruz) e de Chistiane Torloni em Master
Class (direção de José Possi Neto); são produções bem sucedidas
artística e comercialmente a partir de textos convencionais já considerados
clássicos do teatro de língua inglesa. Gabriel Villela perfila-se com esses
diretores de renome nos cartazes da cidade oferecendo aquele que talvez seja o espetáculo
mais bonito do ano: A Tempestade de Shakespeare ambientada numa paisagem repleta de
objetos e canções mineiras que remetem a outro trabalho antológico do encenador
(Romeu e Julieta de 2001 com o Grupo Galpão). Chico Carvalho tem
atuação não menos que excepcional como o diáfano e etéreo Ariel (ao que eu saiba
nunca houve intérprete que incorporasse tão bem fisicamente o “espírito do ar”
criado pelo bardo inglês). Menos famoso que seus colegas acima citados, o
encenador Hugo Coelho faz divertida e eficiente montagem de Morte
Acidental de Um Anarquista(*) com interpretação irreverente de Dan
Stulbach.
Máquina
Tchekov é um instigante texto de Matéi Visniec que se junta a Ronaldo
Ciambroni e a Mário Bortolotto como um dos autores mais montados em São Paulo.
Ironia à parte, o dramaturgo romeno em boa hora tem várias de suas peças
montadas por aqui. Esta peça trata do que aconteceu com as personagens de
várias peças do autor russo em função do destino que ele lhes reservou;
descontentes com seus desfechos elas vêm tirar satisfação com seu criador em
seu leito de morte. A tradução cênica de Clara Carvalho e Denise Weimberg é
límpida e acerta esteticamente ao colocar essas personagens como espíritos
vagantes pelo ambiente.
Ao Pé
do Ouvido é uma nova experiência do Núcleo de Teatro Experimental
dirigido por Zé Henrique de Paula: atores ouvem com fone de ouvido relatos de
migrantes nordestinos e tentam reproduzir seus sentimentos por meio de voz e
gesto. Tem a marca de qualidade do talentoso grupo da Rua Barra Funda.
Tanto
Faz é uma gostosa incursão de Mário Bortolotto no universo pop de Reinaldo
Moraes. 23 atores dão conta das inúmeras personagens presentes no livro com
destaque para Eldo Mendes como o protagonista Ricardo e para o próprio
Bortolotto como o divertido amigo Chico.
Bonecas Quebradas (*) foi a grande surpresa do mês de setembro e
motivo de matéria deste blog.
Zabobrim,
O Rei Vagabundo. Mesclando elementos da Commedia Dell’Arte com a forma do circo teatro a dupla Esio
Magalhães e Tiche Vianna criou este divertido espetáculo que conta a história
de um pobre diabo que por obra de uma “genia” transforma-se em rei, mas para
não fugir do seu destino de palhaço, é um rei cheio de percalços e trombadas.
Agreste.
Revisto depois de onze anos o espetáculo conserva a beleza, a surpresa e a
frescura de quando estreou. Texto, direção e interpretações perfeitos. Montagem
clássica do teatro brasileiro.
Espetáculo criado por elementos da comunidade de Heliópolis, A
Inocência do Que Eu (Não) Sei (*)
é uma séria reflexão sobre os deficientes sistemas educacionais da “Pátria
Educadora”.
Encerrando
a resenha Incêndios (*), o pungente espetáculo do grupo mexicano Tapioca
Inn com a grande atriz Karina Gidi, que cumpriu curta temporada de duas semanas
no Sesc Pompeia. QUEM VIU, VIU!!
(*) Vide matérias sobre
essas peças neste blog consultando o marcador pelo título das mesmas.
30/09/2015
Este seu blog é uma boa referência. Eu, particularmente, adoro os textos do Matéi Visniec e a montagem de Máquina Theckov deixa muitas questões em nossos espíritos.
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