Desde
sempre as religiões monoteístas geraram mais ódio do que amor, mais guerra do
que união entre os povos, mais fratricídios do que fraternidade. Parece que o
Deus é um só, mas surgem profetas que o defendem à sua maneira e depois os
seguidores de cada um desses líderes criam dogmas segundo as suas crenças e
interesses criando as diversas religiões monoteístas devidamente documentadas,
entre outros,na Bíblia, no Alcorão e no Torah, estes, por sua vez são
interpretados de acordo com os interesses dos seguidores de cada religião. Na
defesa ferrenha e unilateral desses interesses surgem os fundamentalistas sobre
cujos estragos cometidos contra a humanidade não há necessidade de discorrer.
Colm
Tóibin é dramaturgo originário de país extremamente católico como a Irlanda e
nada mais natural que suas dúvidas e revoltas recaiam sobre a religião
dominante em seu país. Para tanto usa de excelente recurso dramático que é
colocar em cena Maria, a mãe de Jesus, alguns anos após a crucificação do
filho. Maria é um poço de revolta em relação à maneira como seu filho foi
conduzido e como ele se deixou seduzir pelo poder e pela crença que era o filho
de Deus. Maria contesta os milagres de Cristo, assim como se nega a colaborar
com o livro que está sendo escrito pelos seguidores, que segundo ela não
reproduz os fatos como realmente aconteceram.
Essa
mulher de carne e osso, muito distante da madona presente nos altares, é
interpretada por Denise Weinberg numa atuação não menos que poderosa.
Complementada pelo excelente comentário musical executado ao vivo por Gregory
Slivar Denise expõe visceralmente a revolta de Maria e em certo momento, desde
já antológico, relembra a crucificação numa das cenas mais fortes vistas em
nossos palcos nos últimos anos.
Monoteístas
convictos deverão se chocar com o espetáculo, ainda mais porque a bela cena
final quando Maria decide repousar nos braços dos deuses gregos é uma
verdadeira ode ao politeísmo.
Ron
Daniels coloca a ação em um cenário limpo formado apenas por tablado e cadeira,
além do músico com seus instrumentos. O foco é na interpretação da atriz que já
pode se inscrever entre as grandes do ano que está só começando. Que os jurados
de prêmios não esqueçam ao final do ano de incluir em suas listas esta
memorável interpretação de Denise Weinberg.
O
TESTAMENTO DE MARIA está em cartaz no Sesc Pinheiros apenas até o dia 13 de
fevereiro. Sessões às 5ªs, 6ªs e sábados às 20h30. ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!
05/02/2016
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