UMA
DUPLA DO BARULHO
A
peça do autor inglês Ben Jonson (1572-1637), contemporâneo de Shakespeare, já
teve duas montagens anteriores em São Paulo: em 1955 no Teatro Brasileiro de
Comédia com direção de Ziembinski e tendo o mesmo como Volpone e Walmor Chagas
como Mosca e em 1977 sob a direção de Antônio Abujamra com Laerte Morrone e
David José como a dupla central e contando ainda com Laura Cardoso e Beth
Goulart (na época com apenas 17 anos) no elenco. Não assisti a nenhuma dessas
montagens, mas duvido que Volpone e Mosca tenham encontrado intérpretes mais
acertados do que Chico Carvalho e Gabriel Miziara nesta pandega montagem de
Neyde Veneziano.
Neyde
Veneziano assume totalmente a estética da Commedia
dell’Arte acrescentando ainda uma
pitada da ironia “grosseira” de Dario Fo, do qual é profunda conhecedora, obtendo
resultado não menos que hilariante. Ri-se muito das artimanhas do Sr. Raposão e
do seu fiel (mas nem tanto!!) escudeiro Mosca na busca desenfreada de bens
materiais à custa de ludibrio, corrupção e troca de favores. Qualquer
semelhança com a situação atual do nosso triste Brasil não é mera coincidência
e a montagem deixa isso muito claro.
O
engenhoso cenário de Cássio Brasil substitui a carroça de antigamente por uma
caixa que vai se modificando á medida que a ação assim o exige. A encenadora
conta ainda com a bela iluminação de Fran Barros e a trilha de Ricardo Severo
executada ao vivo e que comenta e ilustra a ação.
A
interpretação do elenco de apoio está em total sintonia com a proposta da
encenação, mas quem brilha é a dupla do barulho. Poucas vezes temos visto em
nossos palcos tamanha cumplicidade e sintonia. Os esgares e os movimentos das
mãos e pés de Chico Carvalho somam-se aos ágeis movimentos corporais de Gabriel
Miziara dando um impar rendimento cômico. Impossível não se lembrar de duplas
geniais tanto personagens (Arlequim e seu patrão, Puntilla e Matti) como
intérpretes (Oscarito e Grande Otelo e o Gordo e o Magro).
Infelizmente
na noite em que assisti ao espetáculo a atriz Eliana Rocha não pode fazê-lo e
sua personagem foi suprimida. A personagem é uma viúva tão arrivista como todos
os outros senhores que vão visitar Volpone e sua ausência pode provocar - como
bem lembrou o produtor Ronaldo Diaféria - uma sensação que a montagem é
machista, o que, absolutamente, não é a ideia. Isso é um bom motivo para rever
a peça, o que não será nenhum sacrifício, muito pelo contrário, pois a hora e
meio de riso que Volpone provoca é irresistível.
VOLPONE está em cartaz no Teatro MUBE
Nova Cultural (ao lado do MIS) às sextas e sábados às 21h30 e aos domingos às
20h30 até 13 de março.
LEMBRETE:
Se quiser fazer uma sessão dupla para comprovar o grande talento e a
versatilidade de Chico Carvalho assista CONSERTANDO
FRANK em cartaz no mesmo teatro aos sábados (19h) e domingos (18h) também
até 13 de março.
- Consertando Frank -
09/02/2016
Zé, lendo seu texto fui ficando com mais e mais vontade de ver o espetáculo. E, como ainda não assisti Consertando Frank, terei que fazer dupla jornada. Bjs
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