No
ano de 1956 eu tinha apenas 12 anos e ainda não ia ao teatro, mas adorava
assistir aos teleteatros na recém-inaugurada televisão. Era prática comum
naquela época que os espetáculos teatrais que saiam de cartaz no domingo fossem
apresentados, na íntegra, na segunda feira no Grande Teatro Tupi. Foi ali que
este menino assistiu a Ratos e Homens
na montagem de Augusto Boal que a pouco deixara o Teatro de Arena. O curioso é que
passados sessenta anos eu ainda me lembrava da trama e da atuação de quem
representava o patético Lennie. Era um ator grandalhão que mais tarde descobri
que se chamava José Serber e que parece não ter feito mais nada no teatro. Lembro-me
de sua voz grossa e arrastada chamando pelo George, seu único esteio na vida e
também na morte! Mais curioso ainda que não me lembre de Gianfrancesco
Guarnieri interpretando o George. Anos mais tarde consegui incorporar ao meu
acervo o programa da montagem do Arena, cuja ficha técnica reproduzo abaixo.
Agora
batizada como o original de Sobre Ratos e
Homens (Of Mice and Men) a obra de John Steinbeck volta a ser encenada. A
montagem é muito bem produzida e tem a marca da delicadeza própria do diretor
Kiko Marques. O cenário de Márcio Vinicius reproduz em detalhes o estábulo da
fazenda onde vivem nossos pobres heróis e a iluminação de Guilherme Bonfanti é
belíssima mudando sua coloração em função do momento dramático. Cabe notar
também os adequados figurinos de Fabio Namatame. A montagem tem caráter
cinematográfico e não apresenta pontos mortos. Digna de nota a dinâmica cena
onde George e Lennie circulam pelos alçapões que separam os beliches.
O
veterano Luiz Serra tem boa atuação e é responsável pelos momentos
descontraídos do espetáculo. Ricardo Monastero, também idealizador do projeto,
encarrega-se com vigor da personagem de George. Gustavo Vaz, Luciano Schwab e
Tom Nunes cumprem a contento seus papéis (trabalhadores na fazenda). Cássio
Inácio (Curley, o filho do patrão) e Natallia Rodrigues (Mae, sua mulher)
pareciam indecisos na noite de estreia e suas entradas em cena me soaram
demasiadamente artificiais. E por último Ando Camargo: seu Lennie é comovedor e
o ator soube emprestar sua sensibilidade na criação de tão importante e bela
personagem da dramaturgia mundial.
A
montagem de Kiko Marques prova que o texto é um clássico e como tal permanecerá
atual enquanto houver solidariedade nestas terras cada vez mais de ninguém.
SOBRE RATOS E HOMENS está em cartaz no
Sesc Bom Retiro de quinta a sábado às 21h e aos domingos às 18h. SÓ ATÈ 17 de
abril.
18/03/2016
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