OITO HOMENS NOTÁVEIS
Eu,
tu e todos no mundo
No
fundo, tememos por nosso futuro
ET e
todos os santos, valei-nos
Livrai-nos
desse tempo escuro
(Extra
– Gilberto Gil)
Vivemos
dias tensos. Um país à beira do precipício e uma avalanche de ódio e
intolerância de todos os lados. Esta sexta feira (18/03/2016) foi um dia pesado
com a perspectiva de confrontos na Avenida Paulista durante a manifestação que
iria acontecer à tarde. Foi com certa apreensão que sai de casa para me dirigir
ao Teatro Procópio Ferreira, uma vez que desceria do metrô na Estação
Consolação, em pleno olho do furacão. Na falta de ônibus desci a Augusta a pé
sendo presenteado com uma enxaqueca durante o trajeto. Foi nessas condições que
me sentei nas desconfortáveis poltronas daquele teatro para assistir ao
espetáculo.
Fazia
muito tempo que não levava tamanho banho de alegria, energia e esperança. Oito atores
/cantores/instrumentistas nos brindam com canções de Gilberto Gil
dramaturgicamente bem amarradas por Gustavo Gasparani que também dirige a
montagem. Os oito artistas fazem tudo muitíssimo bem: cantam, movimentam-se no
palco, tocam vários instrumentos e interpretam os versos e canções com humor ou
dramaticamente. Impossível não se apaixonar e se envolver com tanto talento. Impossível
também destacar este ou aquele nome porque todos são excelentes.
Gasparani
encontrou ótimas soluções cênicas para ilustrar as canções de Gil, como aquelas
de Se Eu Quiser Falar com Deus e de Refavela, para citar apenas duas. Muitas
canções são apenas citadas e outras são cantadas integralmente em um belo
trabalho do diretor musical Nando Duarte. Nota dez também para as belas
coreografias de Renato Vieira. O cenário de Helio Eichbauer e os figurinos de
Marcelo Olinto completam este bem sucedido musical que não é uma biografia de
Gil, mas um grato exemplo de musical que ilustra a obra desse grande artista,
fugindo da já desgastada fórmula do musical biográfico.
Durante
o espetáculo me emocionei até as lágrimas durante vários momentos, relembrando
de uma época em que a música brasileira era tão criativa; mas com a força
daqueles oito homens notáveis ao reviver esse passado vislumbrei uma esperança
no futuro saindo do teatro cheio de energia e acreditando que a arte, a cultura
e a educação ainda podem fazer muito por este Brasil tão desesperançado.
Tempo
rei, ó, tempo rei, ó, tempo rei
Transformai as velhas formas do viver
Ensinai-me, ó, pai, o que eu ainda não
sei
Mãe
Senhora do Perpétuo, socorrei
(Tempo Rei)
Assistindo
ao espetáculo fica claro o porquê de Gasparani ter batizado seu trabalho com o belo
subtítulo de O Poeta, a Canção e o Tempo.
Tomei
o ônibus para subir a Augusta até a Paulista de maneira bem diferente: cheio de
energia e esperança. Na Paulista ainda havia alguns jovens também esperançosos que
vieram defender seus ideais. Este Brasil ainda vai dar certo!
Ao
chegar em casa fui direto para os discos do Gil e os ouço até agora.
Veio gente me aplaudir, veio gente
vaiar
Veio gente dormir nas cadeiras
Veio gente admirar meu talento
Veio gente adivinhar meu tormento
Veio gente me xingar, veio gente me
amar
Veio gente disposta a se matar por mim
(Febril)
GILBERTO GIL, AQUELE ABRAÇO – O MUSICAL
está em cartaz no Teatro Procópio Ferreira às quintas e sextas (21h), sábados
(18h e 21h30) e domingos (18h) até 29 de maio. ABSOLUTAMENTE IMPERDÍVEL!
Vai entrar na minha lista para assistir, bom texto Cetra!
ResponderExcluirNada como arte para preencher a vida!
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