O
dramaturgo e romancista francês Laurent Gaudé escreveu Salina em 2003 e esta é a primeira montagem de um texto seu no
Brasil. A iniciativa coube ao grupo carioca Amok
Teatro liderado por Ana Teixeira e Stéphane Brodt que vem se especializando
em espetáculos épicos de caráter étnico. Em 2007 tivemos a oportunidade de
assisti-los com Savina ambientado no
mundo cigano, depois disso o grupo criou a trilogia de guerra (O Dragão, Kabul e Histórias de Família) que não foi apresentada nos palcos
paulistanos.
Salina é uma epopeia africana com
elementos de tragédia grega e essa mistura aparentemente estranha resultou em
dos mais belos espetáculos apresentados em São Paulo nesta temporada. Conta a
saga de Salina, jovem que por ser obrigada a casar com um homem a quem não ama
desencadeia terrível onda de ódio e violência. Nesse aspecto a peça me lembrou
de Abril Despedaçado, o filme de
Walter Salles de 2002 baseado no romance homônimo de Ismail Kindaré, onde
vingança gera ódio que gera morte que por sua vez gera vingança num circulo
vicioso interminável; mas em Salina
há redenção e perdão como se constata na comovente cena final onde também se
justifica o sub título da peça.
Ariane Hime (Salina) - Foto de Daniel Barbosa
A trama inicia com Salina, ainda uma jovem bonita
e graciosa que ainda “não sangrou” e termina em sua velhice , quando já “não
sangra” mais e está sofrida e desfigurada, exigindo um tour de force da atriz que a interpreta (Ariane Hime). O elenco,
formado apenas por atores negros, surgiu a partir de oficina realizada em 2014
pelo Amok Teatro. Algumas
interpretações são irregulares, sem, porém, comprometer o todo. Cumpre destacar as interpretações da já citada
Ariane Hime e de Tatiana Tiburcio, talvez a presença mais poderosa em cena com
sua potente voz e perfeita dicção.
Tatiana Tiburcio (Khaya Djimba) - Foto de Daniel Barbosa
A
partir de pesquisas realizadas pelo grupo a narrativa é permeada por cantos e
danças africanas sem jamais cair no aspecto meramente folclórico. Os coloridos
e vistosos figurinos (Prêmio Shell nessa categoria no Rio de Janeiro em 2015)
criados pela dupla de encenadores emolduram esses belos momentos do espetáculo.
Sem
maiores destaques na mídia paulistana o espetáculo cumpre temporada menor do
que um mês no Sesc Belenzinho, a qual se encerra no próximo domingo, dia 1º de
maio, o que é lastimável, pois trata-se de montagem digna que, além de
valorizar o trabalho dos atores negros (tão carentes de protagonismo na cena
teatral brasileira), conta uma bela história por meio de narrativa que mantém o
espectador preso na poltrona durante as suas três horas de duração.
Sábado
e domingo às 18h no Sesc Belenzinho. IMPERDÍVEL.
25/04/2016
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