Qual
o potencial de montagem de um texto literário? Essa é uma questão que sempre
surge a encenadores teatrais. É claro que dependendo da criatividade e do
talento do diretor até uma lista de supermercado pode se tornar um belo
espetáculo!
Creio
que numa primeira leitura o belíssimo texto do escritor paraense Rudinei Borges
não inspire encenadores pelo seu forte cunho narrativo e pela dificuldade em
criar o ambiente solicitado pela trama. O texto conta a história do menino
Dezuó que, assim como Rudinei, nasceu e morou em cidades ribeirinhas próximas
ao Rio Tapajós e à Rodovia Transamazônica e viu sua cidade ser destruída ao ser
invadida pelas águas devido à construção de uma hidrelétrica. Após a destruição
de seu lar, Dezuó muda-se para a cidade grande onde se sente um estranho no
ninho.
Patricia
Gifford acreditou que o texto poderia resultar em espetáculo e amparada em seu
talento e na cenografia criada por Telumi Hellen criou uma belíssima tradução
cênica do mesmo.
Em
uma plataforma circular de cerca de 3 metros de diâmetro o menino Dezuó, munido
de barro e pequenos objetos, constrói o seu vilarejo; nada no rio criado a
partir de água derramada na plataforma e mostra a destruição do vilarejo quando
a água o inunda. O ambiente urbano, quando Dezuó vai para a cidade grande, é
criado fora da plataforma em um tom cinzento e frio. O espetáculo é
essencialmente visual e sensorial e depende totalmente do ator que interpreta o
menino e narra a história. Em uma interpretação que se soma aos excelentes
trabalhos masculinos do semestre, o também paraense Edson Castro entrega-se
visceralmente à personagem lambuzando-se de barro e de água.
Somatória
dos talentos do autor Rudinei Borges (que já havia nos brindado com o poético Dentro É Lugar Longe do grupo Sinhá Zózima em 2013), da encenadora
Patrícia Gifford (da Cia. São Jorge de Variedades e mola mestra do
inesquecível Barafonda de 2012), da
cenógrafa Telumi Hellen (que participou do CPT e foi assistente de J. C. Serroni)
e do ator Edgar Castro (realizou trabalhos com a Cia. do Latão, a Cia. Livre e
a Cia. São Jorge de Variedades); Dezuó só poderia resultar nessa verdadeira
preciosidade que esteve em cartaz até a segunda feira 16/05/2016 na sede da
Cia. Livre, mas que já anuncia uma nova e curta temporada no mesmo local a
partir de 22/05, permanecendo em cartaz até 06/06, aos sábados (21h) e aos
domingos e às segundas (20h).
IMPERDÍVEL.
24/05/2016
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