terça-feira, 24 de maio de 2016

DEZUÓ, BREVIÁRIO DAS ÁGUAS


        Qual o potencial de montagem de um texto literário? Essa é uma questão que sempre surge a encenadores teatrais. É claro que dependendo da criatividade e do talento do diretor até uma lista de supermercado pode se tornar um belo espetáculo!
        Creio que numa primeira leitura o belíssimo texto do escritor paraense Rudinei Borges não inspire encenadores pelo seu forte cunho narrativo e pela dificuldade em criar o ambiente solicitado pela trama. O texto conta a história do menino Dezuó que, assim como Rudinei, nasceu e morou em cidades ribeirinhas próximas ao Rio Tapajós e à Rodovia Transamazônica e viu sua cidade ser destruída ao ser invadida pelas águas devido à construção de uma hidrelétrica. Após a destruição de seu lar, Dezuó muda-se para a cidade grande onde se sente um estranho no ninho.
        Patricia Gifford acreditou que o texto poderia resultar em espetáculo e amparada em seu talento e na cenografia criada por Telumi Hellen criou uma belíssima tradução cênica do mesmo.
        Em uma plataforma circular de cerca de 3 metros de diâmetro o menino Dezuó, munido de barro e pequenos objetos, constrói o seu vilarejo; nada no rio criado a partir de água derramada na plataforma e mostra a destruição do vilarejo quando a água o inunda. O ambiente urbano, quando Dezuó vai para a cidade grande, é criado fora da plataforma em um tom cinzento e frio. O espetáculo é essencialmente visual e sensorial e depende totalmente do ator que interpreta o menino e narra a história. Em uma interpretação que se soma aos excelentes trabalhos masculinos do semestre, o também paraense Edson Castro entrega-se visceralmente à personagem lambuzando-se de barro e de água.
        Somatória dos talentos do autor Rudinei Borges (que já havia nos brindado com o poético Dentro É Lugar Longe do grupo Sinhá Zózima em 2013), da encenadora Patrícia Gifford (da Cia. São Jorge de Variedades e mola mestra do inesquecível Barafonda de 2012), da cenógrafa Telumi Hellen (que participou do CPT e foi assistente de J. C. Serroni) e do ator Edgar Castro (realizou trabalhos com a Cia. do Latão, a Cia. Livre e a Cia. São Jorge de Variedades); Dezuó só poderia resultar nessa verdadeira preciosidade que esteve em cartaz até a segunda feira 16/05/2016 na sede da Cia. Livre, mas que já anuncia uma nova e curta temporada no mesmo local a partir de 22/05, permanecendo em cartaz até 06/06, aos sábados (21h) e aos domingos e às segundas (20h).

IMPERDÍVEL.

24/05/2016






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