UM
DIVISOR DE ÁGUAS
Finalmente
um musical brasileiro que foge dos padrões impostos pelos espetáculos oriundos
da Broadway e que aqui foram copiados e banalizados à exaustão. Nada de
cenários suntuosos nem de cenas apoteóticas: o que vale é contar uma boa
história calcada em sólida dramaturgia e embalá-la com canções populares
brasileiras.
Todos
conhecem a “boa história”: trata-se do romance Gabriela, Cravo e Canela
escrito por Jorge Amado em 1958 e que
se popularizou via três versões para a televisão e um filme. Mais dia, menos
dia ia chegar ao teatro e esse dia chegoupelas mãos de João Falcão: sua
adaptação teatral estreou no último dia 08 de junho de 2016 no Teatro Cetip na
forma de musical. Falcão privilegiou não só a relação entre a protagonista e o
turco Nacib, mas também as tramas paralelas e os personagens secundários dando
bom panorama da sociedade baiana da época.
O
espetáculo não tem cenários e usa um mínimo de objetos de cena, valendo-se da
bela iluminação de Cesar de Ramires e de três esteiras (duas paralelas à
plateia que percorrem o palco de ponta a ponta e uma vertical no centro do
palco) para criar todas as ambientações exigidas para o desenvolvimento da
trama. As esteiras, que ele havia usado de forma exemplar em A Dona da História (1999) são aqui bastante
utilizadas e o resultado é muito bom dando sugestivo efeito do movimento dos
atores em cena.
A
trilha sonora é formada por canções brasileiras de épocas e autores diversos.
Se algumas delas soam fora do contexto (caso de Cais e O Que Será?),
outras se encaixam perfeitamente à trama (Vatapá,
Sem Fantasia, Mamãe Coragem e, é claro, as Gabrielas de Dorival Caymmi e de Tom Jobim).
O
elenco é homogêneo cantando e atuando muito bem, mas alguns destaques são
necessários: Leo Bahia (Josué) e Juliana Linhares (Glória) formam carismático
par e são responsáveis por um dos melhores momentos da peça ao interpretarem Sem Fantasia; as
alcoviteiras/fofoqueiras são vividas com muito humor por Almério e Vinicius
Teixeira; Maurício Tizumba (velho Tuísca) conduz com propriedade a narrativa da
história; Danilo Dal Farra tem presença cênica, simpatia e bela voz como Nacib
e , finalmente, Daniela Blois que estreia em teatro e já desponta como uma
estrela. Paraense que vive em Manaus, Daniela é formada em medicina e é
cantora; tem belíssimo timbre vocal e seu brejeiro e sensual gestual em cena combina
perfeitamente com a personagem. Sonia Braga que me desculpe, mas Gabriela
encontrou em Daniela sua mais perfeita tradução.
Daniela Blois - Foto de Roberto Setton
GABRIELA,
UM MUSICAL está em cartaz no Teatro Cetip às quintas e sextas (21h), sábados
(17h e 21h) e domingos (18h) até 07/08.
Até
você, que torce o nariz para musicais, vai adorar.
10/06/2016
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