Tu sabes,
Conheces
melhor do que eu
A velha
história.
Na
primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Quem
não conhece esse texto? Escrito na década de 1960 para denunciar a ditadura
militar, torna-se extremamente atual nestes dias sombrios que o Brasil volta a
viver. Confundiu-se que a autoria desse texto seria de Maiakóvski (por conta do
título do longo poema do qual faz parte: No
Caminho, com Maiakóvski) ou de Brecht
[pelo estilo e por haver poema bastante semelhante (*) do autor alemão]. O
autor é brasileiro, nascido em Niterói em 06 de março de 1936 e se chama
Eduardo Alves da Costa. Costa é escritor e poeta e tem vários livros
publicados, inclusive um que leva o mesmo título do poema.
Acabo
de ler um delicioso livro desse autor publicado em 1994 e hoje totalmente
esgotado (sempre é possível pedir socorro à Estante Virtual!). Trata-se de Memórias de Um Assoviador, classificado
como “humor juvenil” nas resenhas literárias.
O
livro conta a saga de Rodolfo, um rapaz de 15 anos e meio, desde suas
recordações uterinas até sua “paradisíaca” aventura em Pushkar com a
companheira Renata. Politicamente incorreto (e põe incorreto nisso!) o livro é
muito engraçado ao narrar as peripécias familiares, amorosas e sexuais do auto
denominado assoviador. Se na época o livro podia provocar escândalo, imagina-se
que hoje ele seria execrado pelos moralistas de plantão, uma vez que esse ridículo
e falso pudor só aumentou nos últimos anos. Em tom sarcástico Rodolfo comenta
que o livro poderia ser adotado nas escolas: difícil naquela época, impossível
nos dias de hoje!
Ri-se
muito ao ler o livro que, como diz o próprio Rodolfo, tem alguma semelhança com
O Apanhador no Campo de Centeio de J.
D. Salinger na narrativa das memórias de um adolescente rebelde; a diferença é
que neste caso há muito humor.
Vale
a pena sair à procura deste livro. Não vai ser fácil, pois como nota o
irreverente personagem do livro: “Eduardo
escreve com mão de mestre, só que você não encontra a porra do livro em lugar
nenhum, parece até que os livros do cara são distribuídos pelo Serviço Secreto,
acho que por ser meio desligado ele acabou se tornando invisível.”.
Esse
é o Rodolfo. Esse é Eduardo Alves da Costa.
As
ilustrações que em certos momentos lembram aquelas famosas de Carlos Zéfiro são
tão irreverentes quanto o texto e são assinadas por Libero Malavoglia.
Editado
em 1994 por Schmukler Editores.
(*) Primeiro levaram os negros/Mas não me importei com isso/Eu não era
negro // Em seguida levaram alguns operários/Mas não me importei com isso/Eu
também não era operário // Depois prenderam os miseráveis/Mas não me importei
com isso/Porque eu não sou miserável // Depois agarraram uns desempregados/Mas
como tenho meu emprego/Também não me importei // Agora estão me levando/Mas já
é tarde./Como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.
07/06/2016
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