Entre
o final de 2015 e o início de 2016 tive a oportunidade de ler todas as peças do
dramaturgo romeno Matéi Visniec (1966-) publicadas pela editora É Realizações. Foram 19 peças contidas
em 17 volumes. Obra instigante calcada no absurdo das situações para falar das
mazelas não só da Romênia na época da ditadura, mas também daquelas que insistem
em ocorrer hoje pelo mundo. Como bom espectador um dos títulos que mais me
chamou a atenção foi O Espectador Condenado à Morte e a sua leitura me
revelou texto muito original e rico apesar de ser um dos primeiros do autor
(escrito em 1985) e de ter final não muito convincente.
É
estimulante ver surgir companhias de teatro criadas por jovens egressos de
escolas de teatro que se comprometem a fazer teatro sério com textos
importantes, longe daquele único sonho de fazer parte da Malhação da TV Globo e,
principalmente, com resultados muito mais que satisfatórios. Foi assim com a Quintal do Aventino (Escola Célia Helena de Teatro com Mais Quero Asno Que Me Carregue Que Cavalo Que Me Derrube), com
o Teatro da Pequena Morte (Teatro Escola Macunaíma com Marat-Sade)
e agora com a Companhia Teatro da
Dispersão criada por formandos de 2014 do INDAC.
A
peça está em cartaz na sala menor do Viga Espaço Cênico e conta com
interessante ambientação cênica de César Bento em um tribunal com
características burocráticas. Os espectadores se acomodam nas 50 cadeiras
disponíveis e um deles será condenado à morte. A peça tem características de
metateatro, pois as personagens são também atores. E o espectador é um ator?
Essa brincadeira torna o espetáculo fortemente estimulante.
Poucas
vezes pode-se testemunhar tamanha homogeneidade em elenco formado por jovens
provenientes de um curso de teatro. Cada ator/atriz cria o tipo solicitado pelo
texto de maneira impecável e fica difícil destacar uma ou outra interpretação. Uma
única ressalva para o ator Rony Álvares (Juiz) que, nos momentos em que o personagem
fica nervoso, exagera nas expressões faciais e grita demais. Isso é uma pequena
observação que não invalida o belo trabalho do ator, mas que cria certo
desbalanceamento no conjunto das interpretações.
As
imagens projetadas durante a apresentação têm papel bastante importante para o
desenrolar da ação e uma falha na projeção pode comprometer o todo (fato que
quase ocorreu na noite em que assistimos ao espetáculo).
A
direção de Thiago Ledier é eficiente e discreta e faz pequenas modificações no
final enfatizando ainda mais a passividade que toma conta das massas. O
espectador acusado é passivo em não reagir às acusações que lhe são proferidas,
mas ao final todos somos espectadores passivos dos males cometidos com a humanidade.
O
ESPECTADOR CONDENADO À MORTE está em cartaz no Viga Espaço Cênico ás quartas e
quintas às 21h até 25/08.
NÃO
PERCA! TALVEZ VOCÊ SEJA CONDENADO À MORTE!
22/07/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário