PEQUENOS COMENTÁRIOS PARA UMA GRANDE SEMANA CHEIA DE
BONS ESPETÁCULOS.
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Domingo,10: HOTEL JASMIM - Diálogos
ágeis já de início prendem o espectador que vai se surpreendendo e se
simpatizando com aqueles dois seres que vivem à margem da sociedade em um
grande centro urbano. Texto bem estruturado de Claudia Barral que recebeu
direção discreta de Denise Weinberg e Alexandre Tenório com ótimas
interpretações de Eduardo Pelizzari e Daniel Farias. O texto foi contemplado na
II Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP.
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Segunda, 11: A ÚLTIMA DANÇA –
Natalia Gonzales é ótima atriz e tem o mérito de trazer a tona a figura de Simone Weil (1909-1943), intelectual francesa que se tornou operária da Renault para
escrever sobre o dia a dia exaustivo dentro das fábricas.A peça começa bem com
Natalia explicando o motivo da encenação, mas depois torna-se tão repetitiva
quanto os movimentos que a operária é obrigada a fazer nos trabalhos em
máquinas de linha de produção. Digna de nota a ambientação cênica de autoria da
atriz e de Flávio Tolezani.
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Terça, 12: TÉRMINO DO AMOR –
Partindo de conteúdo bastante comum (a separação de um casal), o autor francês
Pascal Rambert inova na forma estruturando seu texto em dois longos
monólogos.Marcantes trabalhos de interpretação de Carolina Fabri e Gabriel
Miziara. Direção de Janaína Suaudeau que dribla uma eventual monotonia dos monólogos
com a intervenção de uma bateria (Pedro Gongom).
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Quarta, 13: A DAMA DA NOITE – Um bar
é o cenário ideal para montar esses belíssimo texto de Caio Fernando Abreu e
foi num deles (Caos) que Kiko Rieser montou seu espetáculo. André Grecco faz a dama
vestido com roupas masculinas. Para mim essa personagem tem muito a ver com a “porraloquice”
da Rebordosa de Angeli, só que muito mais amarga. Foi dessa “porraloquice” que
senti falta na bela interpretação de André.
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Quinta, 14 (tarde): CARTOGRAFIA DO AFETO
– O encontro em um apartamento na Nove de Julho é antecedido e sucedido por
longas caminhadas pelas ruas da cidade com o objetivo de vivenciar o lado
andarilho do artista plástico José Leonilson. No apartamento fomos recebidos
pelo simpático Ricardo Henrique que através de conversas e pequenos jogos nos
remeteu à obra do artista desaparecido em 1993 em decorrência da AIDS.
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Quinta, 14 (noite): OITO BALAS – O
público é recebido em um cenário vermelho feito com caixas de embalagem de
garrafas e com o casal em pose antecipando as situações que estão por vir.
Trama com final impactante. Montagem expressionista de Kleber Montanheiro que
também assina a coreografia dos atores, o cenário e a forte trilha sonora.
Atuações de Carol Rainatto (também autora) e Homero Ligere.
Sexta,
15: DESCANSO DA COMPANHIA, como se
dizia antigamente!
Sábado,
16: PROJETO bRASIL – Não é fácil
escrever sobre esse instigante espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro
(Curitiba). Trata-se de 16 cenas denominadas pelo encenador Marcio Abreu de
discursos verbais e não verbais onde as mostram as mazelas desse bRASIL com
letra minúscula: preconceitos, muita violência, individualismo exacerbado. A
cor preta predomina nos figurinos, no geométrico e belo cenário e nas bexigas
pretas que ao estourarem remetem aos tiros que matam tantos inocentes no dia a
dia violento de nossas metrópoles. Para a criação do texto o grupo valeu-se de suas
próprias improvisações além de discursos de Christiane Taubira (ex-ministra de
Justiça da França) e de Pepe Mujica (ex-presidente do Uruguai). Marcio Abreu
assina o texto final.
Rodrigo Bolzan tem um dos melhores momentos
de sua sólida carreira de ator e Giovana Soar, além do imenso desgaste físico
com tombos e agressões físicas, está ótima na interpretação em libras da letra
da música Um Índio de Caetano Veloso
e, principalmente, no emocionante monólogo (discurso 15) quase ao final da
peça. Nadja Naira e Felipe Storino (músico) completam o elenco. Apesar de tudo
a peça acredita no homem. Em que homem não se sabe, mas em um homem que talvez
virá (Virá que eu vi). Eis as palavras
com que a peça se encerra:
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Depois do futuro, o fim como começo.
- Há muitos mundos no mundo.
- Sonhar outros sonhos.
- Só o homem nu compreenderá.
- Ele flutua.
Essa
semana tão intensa como espectador também foi marcada com a morte de Sábato
Magaldi, crítico e teórico de teatro que tanto marcou a minha formação. Dedico
a ele as linhas acima.
17/07/2016
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