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domingo, 17 de julho de 2016

PEQUENOS COMENTÁRIOS PARA UMA GRANDE SEMANA CHEIA DE BONS ESPETÁCULOS.


         - Domingo,10: HOTEL JASMIM - Diálogos ágeis já de início prendem o espectador que vai se surpreendendo e se simpatizando com aqueles dois seres que vivem à margem da sociedade em um grande centro urbano. Texto bem estruturado de Claudia Barral que recebeu direção discreta de Denise Weinberg e Alexandre Tenório com ótimas interpretações de Eduardo Pelizzari e Daniel Farias. O texto foi contemplado na II Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP.


         - Segunda, 11: A ÚLTIMA DANÇA – Natalia Gonzales é ótima atriz e tem o mérito de trazer a  tona a figura de Simone Weil (1909-1943), intelectual francesa  que se tornou operária da Renault para escrever sobre o dia a dia exaustivo dentro das fábricas.A peça começa bem com Natalia explicando o motivo da encenação, mas depois torna-se tão repetitiva quanto os movimentos que a operária é obrigada a fazer nos trabalhos em máquinas de linha de produção. Digna de nota a ambientação cênica de autoria da atriz e de Flávio Tolezani.


         - Terça, 12: TÉRMINO DO AMOR – Partindo de conteúdo bastante comum (a separação de um casal), o autor francês Pascal Rambert inova na forma estruturando seu texto em dois longos monólogos.Marcantes trabalhos de interpretação de Carolina Fabri e Gabriel Miziara. Direção de Janaína Suaudeau que dribla uma eventual monotonia dos monólogos com a intervenção de uma bateria (Pedro Gongom).


         - Quarta, 13: A DAMA DA NOITE – Um bar é o cenário ideal para montar esses belíssimo texto de Caio Fernando Abreu e foi num deles (Caos) que Kiko Rieser montou seu espetáculo. André Grecco faz a dama vestido com roupas masculinas. Para mim essa personagem tem muito a ver com a “porraloquice” da Rebordosa de Angeli, só que muito mais amarga. Foi dessa “porraloquice” que senti falta na bela interpretação de André.


         - Quinta, 14 (tarde): CARTOGRAFIA DO AFETO – O encontro em um apartamento na Nove de Julho é antecedido e sucedido por longas caminhadas pelas ruas da cidade com o objetivo de vivenciar o lado andarilho do artista plástico José Leonilson. No apartamento fomos recebidos pelo simpático Ricardo Henrique que através de conversas e pequenos jogos nos remeteu à obra do artista desaparecido em 1993 em decorrência da AIDS.


         - Quinta, 14 (noite): OITO BALAS – O público é recebido em um cenário vermelho feito com caixas de embalagem de garrafas e com o casal em pose antecipando as situações que estão por vir. Trama com final impactante. Montagem expressionista de Kleber Montanheiro que também assina a coreografia dos atores, o cenário e a forte trilha sonora. Atuações de Carol Rainatto (também autora) e Homero Ligere.

         Sexta, 15: DESCANSO DA COMPANHIA, como se dizia antigamente!


         Sábado, 16: PROJETO bRASIL – Não é fácil escrever sobre esse instigante espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro (Curitiba). Trata-se de 16 cenas denominadas pelo encenador Marcio Abreu de discursos verbais e não verbais onde as mostram as mazelas desse bRASIL com letra minúscula: preconceitos, muita violência, individualismo exacerbado. A cor preta predomina nos figurinos, no geométrico e belo cenário e nas bexigas pretas que ao estourarem remetem aos tiros que matam tantos inocentes no dia a dia violento de nossas metrópoles. Para a criação do texto o grupo valeu-se de suas próprias improvisações além de discursos de Christiane Taubira (ex-ministra de Justiça da França) e de Pepe Mujica (ex-presidente do Uruguai). Marcio Abreu assina o texto final.
Rodrigo Bolzan tem um dos melhores momentos de sua sólida carreira de ator e Giovana Soar, além do imenso desgaste físico com tombos e agressões físicas, está ótima na interpretação em libras da letra da música Um Índio de Caetano Veloso e, principalmente, no emocionante monólogo (discurso 15) quase ao final da peça. Nadja Naira e Felipe Storino (músico) completam o elenco. Apesar de tudo a peça acredita no homem. Em que homem não se sabe, mas em um homem que talvez virá (Virá que eu vi). Eis as palavras com que a peça se encerra:
         - Depois do futuro, o fim como começo.
         - Há muitos mundos no mundo.
         - Sonhar outros sonhos.
         - Só o homem nu compreenderá.
         - Ele flutua.

         Essa semana tão intensa como espectador também foi marcada com a morte de Sábato Magaldi, crítico e teórico de teatro que tanto marcou a minha formação. Dedico a ele as linhas acima.



17/07/2016

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