A
narrativa fragmentada tornou-se moda após o advento do teatro pós-dramático. Em
nome da pós-modernidade se usa e se abusa de certa dramaturgia (ou a falta
dela) que resulta em espetáculos dos quais se sai sem a menor ideia do que
aquele grupo quer dizer. Não importa se a trama tem começo, meio e fim ou se
ela não é linear; o que importa é o bom teatro que dela resulta.
Todo
esse preâmbulo é para comentar sobre a dramaturgia “cubista” adotada por Marina
Corazza para contar um pouco sobre Alice B. Toklas (1877-1967), a companheira eclipsada de
Gertrude Stein (1874-1946), que foi biografada pela última em linguagem parecida com essa
ora usada por Marina. Mesmo sem ter “começo, meio e fim” o texto seduz pela
poesia e pelo humor nele contido.
A
encenação de Malú Bazán privilegia a intenção da dramaturga e utiliza belamente
o Espaço Beta do Sesc Consolação. A iluminação de Nelson Ferreira tem grande
efeito cênico e as sombras criadas por ela chegam a ser arrebatadoras.
Tudo
perfeito: texto, direção, iluminação, cenário e figurinos de Anne Cerrutti. De
que valeriam todos esses predicados sem uma grande atriz para defendê-los?
Nicole Cordery mais uma vez coloca todo seu talento para viver mais uma Alice
em seu currículo (a sua personagem em Ato
a Quatro também se chama Alice). Desde a primeira cena onde vemos sua
sombra através de uma porta entreaberta chamando pelo seu cachorro Basket, Nicole nos pega pela mão e nos
conduz pela trama labiríntica que mostrará aspectos, ora dramáticos, ora
engraçados da vida de Alice com Gertrude. De quebra, podemos anotar algumas
receitas culinárias de Alice que ela passa durante o espetáculo.
O
programa da peça apresenta a linha do tempo das vidas de Alice e Gertrude e sua
leitura antes de assistir ao espetáculo pode ser bastante útil para melhor
fruição do mesmo.
ALICE
– RETRATO DE MULHER QUE COZINHA AO FUNDO mostra mais um
grande momento de jovem atriz que vem se impondo com suas boas interpretações
no palco paulistano. Está em cartaz no Sesc Consolação às segundas e terças às
20h até 30 de agosto. Vale a pena ver.
10/08/2016
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