Quem
já não perdeu o sono no meio da noite? Quando isso acontece surgem aqueles
pensamentos desordenados sempre negativos envolvendo pessoas queridas em
situações complicadas, o medo da morte, a saúde que pode piorar a qualquer
instante, a pessoa amada que “com certeza” irá traí-lo.
Parece
que foi em situações como essa que Jô Bilac se inspirou para escrever
FLUXORAMA ora em cartaz no Sesc Ipiranga. A peça trata do fluxo de pensamento
de quatro personagens em situações bastante distintas:
AMANDA:
Uma mulher que está perdendo gradativamente os sentidos a começar pela audição.
Seus pensamentos giram em torno de como agir para que as pessoas não percebam
suas deficiências. Juliana Galdino está absolutamente impecável no papel.
LUIZ
GUILHERME: Um homem que sofreu acidente de carro e está confinado totalmente só
nos destroços repensa sua vida e pensa na morte solitária que está por vir.
Luiz Henrique Nogueira lembrando a Winnie de Dias Felizes do Samuel Beckett.
VALQUÍRIA:
Em contraponto à imobilidade de Luiz Guilherme, esta mulher está em pleno
movimento correndo numa maratona. Pleno teatro físico com Marjorie Estiano.
MEDUSA:
Na mais longa e melhor realizada cena do conjunto, um homem está em seu
banheiro tentando se concentrar para meditação. Aqui pensamentos negativos
surgem a mil por hora em situação bastante parecida àquela de quando estamos
insones. Caco Ciocler, todo tempo em posição de ioga, tem excelente desempenho.
O
maior mérito do texto de Jô Bilac está na escolha dessas situações limites. As
falas decorrem dessa escolha e fluem bem.
Os
cenários de Daniela Thomas e Felipe Tessara formados de poucos objetos de cena
e projeções de imagens complementam a presença dos atores: mesa, cadeira e uma
moldura clássica para a deficiente auditiva; destroços de carro e floresta para
o acidentado; viaduto para a maratonista e banheiro para o candidato a
meditação. Cenários simples e perfeitos que adquirem destaque com a iluminação
de Monique Gardenberg.
A
música de Philip Glass é discreta e não acrescenta muito à montagem, assim como
os figurinos de Cassio Brasil.
Monique
Gardenberg orquestra com mão segura todos esses elementos tendo como resultado um
espetáculo harmônico e que faz pensar.
Em
muitos momentos as situações apresentadas induzem a um sorriso amargo, porém na
noite em que assisti parte da plateia gargalhou na maior parte do tempo
perturbando a melhor fruição do espetáculo.
FLUXORAMA
está em cartaz no Sesc Ipiranga às quintas e sextas às 21h, aos sábados às 19h
e 21h e aos domingos às 18h até 21 de agosto.
Fotos de Caio Gallucci
01/08/2016
Obrigado Cetra, vou assistir no proximo domingo.Recomendação sua é certeza! Esta história do publico rir, mesmo em dramas, é absurdo.Está ficando cada vez mais comum, há uma parcela de público que só procura isso!
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