MATERIA QUAE SERA
TAMEN (Matéria ainda que
tardia)
O
parco latim aprendido na escola nos anos 1950 e a lembrança da bandeira dos
inconfidentes mineiros levaram ao subtítulo desta matéria. É lamentável
escrever sobre um espetáculo que já saiu de cartaz, porém mais lamentável seria
simplesmente não escrever, então vamos lá: neste momento é bem possível que a arena
ao ar livre montada pelo Coletivo S.E.C.A. no Largo da Batata já não exista mais. Até o dia 31 de
agosto ela foi palco da Ópera Urbe –
Peste Contemporânea com dramaturgia e música de Carlos Zimbher e direção do
guerreiro e sempre militante de causas nobres Rogério Tarifa.
Por
meio da relação de quatro amigos a peça conta e canta fatos ligados a fanatismo
religioso, preconceito e perseguição com transexuais, negros, pobres e outras
tantas violências que ocorrem no dia a dia de uma cidade como São Paulo, as
tais pestes contemporâneas. A trama é acompanhada musicalmente por uma banda.
Pelo
tema tratado o espetáculo não poderia deixar de ser tenso, mas ao mesmo tempo é
muito bonito e poético e conta com a atuação de elenco muito afinado tanto no
cantar como no interpretar: o sempre extrovertido e naturalmente engraçado
Eduardo Mossri encanta com seu ar de Petrucchio (de A Megera Domada) interpretando Cisco, o namorado da bela Eulalia,
criada por Karen Menatti; Flavio Barollo empresta energia ao empertigado Boi;
André Cesar mostra versatilidade nas várias fases por que passa seu personagem
Mano e, finalmente, Leona Jhous que faz um discurso apaixonado e comovente ao
final do espetáculo comentando as barbáries cometidas no Brasil com os
transexuais. Rogério Tarifa, além da direção, atua com muita garra como um
corifeu, anunciando as cenas e enfatizando as denúncias nelas contidas. O
conjunto musical liderado pelo autor da peça tem ótimo desempenho e ilustra boa
parte das cenas.
Resta
saber qual o destino do teatro construído pelo grupo. O ideal seria que ele
fosse adquirido pela prefeitura e se tornasse um local fixo para eventos
teatrais e musicais que iria enfeitar e humanizar de maneira muito digna o
Largo da Batata.
Torcemos
também para que a ópera volte ao cartaz, pois cumpriu temporada muito curta e suas
importantes reflexões sobre o mundo atual precisam ser vistas por um público
maior.
05/09/2016
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