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terça-feira, 29 de novembro de 2016

AINDA NÃO FOI DESTA VEZ ELIS!


O cinema e o teatro ainda estão devendo uma obra à altura de ELIS REGINA

        Em 2002 Diogo Vilela escreveu e dirigiu Elis, Estrela do Brasil, um musical apenas médio, apesar do bom trabalho de Inez Viana e do esforço de Vilela em recriar a vida e a obra de Elis.
        Em 2013 foi a vez de Dennis Carvalho dirigir Elis – A Musical com texto de Nelson Motta e Patricia Andrade. Produção mais ambiciosa tinha seu ponto alto na premiada interpretação de Laila Garin, mesmo assim carecia de maior densidade dramatúrgica.
        2016 é o ano da chegada de Elis às telas do cinema em filme homônimo dirigido por Hugo Prata onde mais uma vez o grande trunfo é a intérprete da cantora, Andréia Horta, que incorpora a personagem e mesmo sem ser nada parecida em certos momentos tem-se a sensação de estar vendo Elis. A recriação dos números musicais é impecável onde Andreia e os músicos “dublam” de maneira perfeita os originais.


        O roteiro privilegia os homens que passaram pela vida de Elis e que ganharam as boas interpretações de Gustavo Machado (Bôscoli), Rodrigo Pandolfo (Nelson Motta), Lúcio Mauro Filho (Miéle), Zé Carlos Machado (Seu Romeu, o pai), Caco Ciocler (César Mariano), Julio Andrade (Lennie Dale), Bruce Gomlevsky (Henfil), Eucir de Souza (Samuel MacDowell) e César Trancoso (Marcos Lázaro).
        O problema maior do filme é o roteiro (Luiz Bolognesi, Hugo Prata e Vera Egito). Sendo baseado numa história real já cantada e decantada em inúmeras biografias fica difícil entender o porquê de se ficcionalizar certos aspectos da vida de Elis.
        - Como mostrar Seu Romeu como aquele pai extremoso e desinteressado?
        - Ao que se sabe Elis jamais telefonou para Bôscoli em seus últimos momentos.
        - A ação passa da casa da Av. Niemayer no Rio para a casa da Cantareira em São Paulo em um piscar de olhos sem maior sedimentação, da mesma maneira como César entra na vida amorosa de Elis. Uma pena, pois a maneira como Elis assediou César e a reação que ele teve teriam dado uma hilária cena cinematográfica.
        - Um advogado aparece em certo momento do filme intermediando o contrato do espetáculo Falso Brilhante. Desaparece de cena e ao final reaparece. Era o Samuel MacDowell, último namorado de Elis (isso só fica claro para quem conhece um pouco da história da cantora). Ele realmente trabalhou com Elis e César na época do Falso Brilhante (1975/1976)?
        - No afã de ilustrar a ação com músicas do repertório de Elis, algumas vezes elas são apresentadas em momentos inadequados (Aos Nossos Filhos gravada em 1980, aparece em 1982 às vésperas da morte de Elis). Atrás da Porta é apresentada como um momento de dor pela separação de Bôscoli, quando talvez ainda nem tivesse sido composta por Chico Buarque.
        Elis é um filme que tinha tudo para emocionar, mas o faz apenas em raros momentos como os diálogos de Elis com Henfil, as observações sarcásticas e divertidas de Bôscoli e os números musicais. É pouco, não é, Elis? Uma pena.

28/11/2016




      




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