O
cinema e o teatro ainda estão devendo uma obra à altura de ELIS REGINA
Em
2002 Diogo Vilela escreveu e dirigiu Elis,
Estrela do Brasil, um musical apenas médio, apesar do bom trabalho de Inez
Viana e do esforço de Vilela em recriar a vida e a obra de Elis.
Em
2013 foi a vez de Dennis Carvalho dirigir Elis
– A Musical com texto de Nelson Motta e Patricia Andrade. Produção mais
ambiciosa tinha seu ponto alto na premiada interpretação de Laila Garin, mesmo
assim carecia de maior densidade dramatúrgica.
2016
é o ano da chegada de Elis às telas do cinema em filme homônimo dirigido por
Hugo Prata onde mais uma vez o grande trunfo é a intérprete da cantora, Andréia
Horta, que incorpora a personagem e mesmo sem ser nada parecida em certos
momentos tem-se a sensação de estar vendo Elis. A recriação dos números
musicais é impecável onde Andreia e os músicos “dublam” de maneira perfeita os
originais.
O
roteiro privilegia os homens que passaram pela vida de Elis e que ganharam as
boas interpretações de Gustavo Machado (Bôscoli), Rodrigo Pandolfo (Nelson
Motta), Lúcio Mauro Filho (Miéle), Zé Carlos Machado (Seu Romeu, o pai), Caco
Ciocler (César Mariano), Julio Andrade (Lennie Dale), Bruce Gomlevsky (Henfil),
Eucir de Souza (Samuel MacDowell) e César Trancoso (Marcos
Lázaro).
O
problema maior do filme é o roteiro (Luiz Bolognesi, Hugo Prata e Vera Egito). Sendo
baseado numa história real já cantada e decantada em inúmeras biografias fica difícil
entender o porquê de se ficcionalizar certos aspectos da vida de Elis.
-
Como mostrar Seu Romeu como aquele pai extremoso e desinteressado?
-
Ao que se sabe Elis jamais telefonou para Bôscoli em seus últimos momentos.
-
A ação passa da casa da Av. Niemayer no Rio para a casa da Cantareira em São
Paulo em um piscar de olhos sem maior sedimentação, da mesma maneira como César
entra na vida amorosa de Elis. Uma pena, pois a maneira como Elis assediou César
e a reação que ele teve teriam dado uma hilária cena cinematográfica.
-
Um advogado aparece em certo momento do filme intermediando o contrato do
espetáculo Falso Brilhante.
Desaparece de cena e ao final reaparece. Era o Samuel MacDowell, último
namorado de Elis (isso só fica claro para quem conhece um pouco da história da
cantora). Ele realmente trabalhou com Elis e César na época do Falso Brilhante (1975/1976)?
-
No afã de ilustrar a ação com músicas do repertório de Elis, algumas vezes elas
são apresentadas em momentos inadequados (Aos
Nossos Filhos gravada em 1980, aparece em 1982 às vésperas da morte de
Elis). Atrás da Porta é apresentada
como um momento de dor pela separação de Bôscoli, quando talvez ainda nem
tivesse sido composta por Chico Buarque.
Elis é um filme que tinha tudo para
emocionar, mas o faz apenas em raros momentos como os diálogos de Elis com
Henfil, as observações sarcásticas e divertidas de Bôscoli e os números musicais. É pouco, não é, Elis? Uma pena.
28/11/2016
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