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segunda-feira, 28 de novembro de 2016

FÍLON – O TEATRO DO MUNDO




        É quase inacreditável a quantidade de grupos e espaços sérios que se escondem nesta nossa imensa metrópole! Sem me considerar a pessoa melhor informada sobre as atividades teatrais que acontecem em São Paulo, posso afirmar que procuro estar a par e assistir ao maior número de trabalhos que acontecem na cidade, tanto na zona central, como na periferia.
        Na última quinta-feira dose dupla de boas surpresas: o espaço da Oficina MetaCultural e o grupo do Estúdio Fita Crepe SP – Ateliê de Som e Movimento.
        A Oficina MetaCultural é um aconchegante espaço localizado na Rua 13 de Maio, 120 que oferece oficinas e dispõe de flexível espaço teatral. O café é simpático e os preços bastante justos.


        Foi ali que assisti a Fílon – O Teatro do Mundo, criação dos mentores do Fita Crepe: Kenia Dias e Ricardo Garcia. Como indica o nome do Estúdio, o grupo trabalha com a influência dos sons criados por Ricardo nos movimentos do corpo trabalhados por Kenia ou vice-versa.
        O mote do espetáculo é a história em quadrinhos homônima dos portugueses José Carlos Fernandes e Luis Henriques que por sua vez é inspirada no poema Vida na Expectativa da poetisa polonesa Wislawa Szymborska, ganhadora do Prêmio Nobel. Trata-se de trabalho experimental bastante radical, mais para ser sentido do que para ser compreendido.
        Em cena dois performers/dançarinos/atores ilustram a trama. A princípio em espaço ilimitado eles se movimentam à vontade. O chamado “ponto” (seria referência aos antigos pontos que sopravam o texto quando os atores esqueciam as suas falas?) inicia a delimitação do espaço com fita crepe (seria referência ao nome do grupo?) e a dupla não transpõe os novos espaços oferecidos. O ponto/manipulador discorre sobre tudo, oferece elementos e a dupla obedece cegamente em aparente bem estar. Ao perder seus manipuladores as marionetes ficam perdidas e despencam. O espaço lhes é devolvido com a retirada da fita crepe, mas eles já não conseguem mais sair do lugar.


        Esses seres/marionetes habitantes de Filon são interpretados de maneira visceral por Allyson Amaral e Ana Paula Lopez, presenças impressionantes na coreografia e nas expressões corporal, facial e vocal.
        Ricardo Garcia opera a luz e o som criado por ele e Kenia Dias manipula as personagens limitando os espaços, distribuindo objetos e falando com voz propositalmente fria e metálica que é emitida através das fontes de luz.
        O radicalismo da concepção de Fílon impressiona e surpreende e deve ser experimentado por quem acredita na necessária renovação da linguagem desse senhor chamado teatro.

27/11/2016
         


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