Em
1973 o público paulista levou um susto com o espetáculo que estreou no extinto
Teatro Treze de Maio. Os parcos meios de comunicação da época davam uma pálida ideia
do que já tinha acontecido no Rio de Janeiro. Dzi Croquettes chegou para revolucionar, alterar conceitos e
comportamentos. O irreverente espetáculo vinha revestido do talento de seus
componentes: Lennie Dale (com suas fantásticas coreografias e presença
hipnótica em cena), Wagner Ribeiro (o criador do grupo), Cláudio Gaya, Ciro
Barcelos, Cláudio Tovar e Paulette, entre outros (eram treze no total). Eles
foram uma imensa luz no escuro túnel em que se vivia naqueles anos de chumbo da
ditadura militar. Quem viveu aquela época e viu o espetáculo pode avaliar a
importância do mesmo e o impacto que provocou. Quem viu, viu e o resto é
história, pouco documentada por sinal. A exceção é o delicado e imperdível
filme de Tatiana Issa e Raphael Alvarez realizado em 2009.
Mais
de 40 anos depois ressurge o grupo, agora liderado por Ciro Barcelos, um senhor
de 63 anos que mantém invejável energia e presença cênica.
Aqueles
que não pretendem reviver os Dzi
originais vão adorar e se divertir muito com o novo espetáculo. O talento tanto
para o artístico (dança, canto e interpretação) como para o deboche, a
improvisação e a irreverência, assim como o espírito de grupo e mesmo a época
em que surgiram tornam os Dzi Croquettes
originais incomparáveis e, mais que isso, irreprodutíveis. Os tempos mudaram,
nossa sociedade é outra (apesar de - por incrível que pareça - estar mais
conservadora e preconceituosa do que em 1973) e os novos componentes são muito
jovens e não têm a vivência dos seus antecessores, mas demonstram bastante
talento, necessitando apenas que se tornem mais irreverentes e improvisadores
nos números de plateia.
A
concepção de Ciro Barcelos na forma de esquetes de revista é bastante
semelhante àquela original e os melhores momentos ficam por conta das
intervenções de Ciro. Carmen Miranda, a dança flamenga, a coreografia à la
Lennie Dale enquanto este canta O Pato,
Maria Bethânia canta Carcará
intermediando declarações sobre a censura na época da ditadura e aquela que
para mim é a cena mais comovente da montagem: recriação da cena das borboletas
quando o grupo vem paramentado com túnicas com fotos dos antigos componentes e
Ciro faz pequeno comentário sobre cada um deles. A recriação de alguns números
é bastante fiel e bonita, como o par dançando ao som de Dois Pra Lá, Dois Pra Cá (desta vez cantada ao vivo, ao invés da
gravação de Elis), a dança de candomblé e o já citado número das borboletas ao
som da introdução de Assim Falou Zaratustra de Richard Strauss.
A
ficha técnica não especifica quem faz o que na peça. Os destaques vão para os números de dança do ator/dançarino que faz um hilário cisne e para o humor aguçado do jovem
que entre outras coisas canta Dois Pra
Lá, Dois Pra Cá. O conjunto é muito bom e os números em grupo são empolgantes.
Dzi Croquettes é uma divertida revista
musical interpretada, cantada e dançada por nove pessoas (“Não somos homens, nem mulheres.
Somos pessoas” dizem os Dzi). Festa
para os olhos e para a alma. E viva a diversidade!
DZI
CROQUETTES está em cartaz no Teatro Augusta apenas às quartas e quintas feiras
às 21h até 15 de dezembro.
20/11/2016
E o número do tango! Gostei muito.
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