Doce pássaro da
juventude
Shakespeare (1564-1616) tinha
pouco mais de 30 anos quando escreveu a fantástica e poética Sonhos de Uma Noite de Verão. Os jovens
que ora encenam a bela adaptação de Fernanda Maia para a comédia do bardo devem
estar em faixa de idade pouco inferior.
É uma peça que respira juventude e que alimenta também os mais velhos, pois
como diz o título da adaptação, os sonhos não envelhecem.
Fernanda Maia é maga! Já disse
e repito: ela é uma espécie de Rei Midas que transforma em ouro tudo o que
toca. Já deu provas disso em todas trilhas e direções musicais que fez para o Teatro do Bardo e para o Núcleo
Experimental onde realiza respeitável trabalho em dupla com Zé Henrique de
Paula. Mais uma vez Fernanda acerta em cheio. Sua adaptação da peça de
Shakespeare é leve e concisa, respeitando, porém, a essencia da mesma tanto nas
cenas fantásticas com os elfos, como nas cômicas com o bando de atores
mambembes que respondem por engraçados nomes como Fominha, Marmelada, Chica
Frauta, Fofolete, Bocão e Nico Bunda.
A ideia de unir a peça de
Shakespeare com as músicas do Clube da Esquina não podia ter sido mais
luminosa. Aqueles fatos que quando vêm à luz devem ser acompanhados de sonoro “Eureka!!!”. As canções e suas
respectivas letras encaixam-se perfeitamente à ação da peça parecendo que foram
compostas para a mesma. Há algo melhor que Paula
e Bebeto (Milton Nascimento e Caetano Veloso) quando se fala da diversidade
sexual com a presença da mais variada formação de casais ou de trios em uma das
cenas mais bonitas da montagem?...“Qualquer
maneira de amor vale a pena”// “Nada será como antes” bradam os casais
quando se apaixonam ou se desapaixonam ...”Nada
será como antes” respondem Milton Nascimento e Ronaldo Bastos em sua obra
homônima / “Tenha fé no nosso povo que ele acorda” diz a canção Credo (Milton Nascimento e Fernando
Brant) e ela não poderia ser mais oportuna no momento em que o grupo contesta o
trágico impasse por que passa o nosso país. Poderia citar outros vários momentos
da perfeita adequação da música ao espetáculo de Fernanda, mas me limito a
apenas mais um que é o comovente final ao som daquela que no meu ponto de vista
é uma das mais belas canções compostas pelos mineiros do Clube da Esquina: O Sal da Terra de Beto Guedes.
Difícil conter as lágrimas com final tão impactante. Uma vez que se fala das
músicas nada melhor do que louvar aqueles que as executam ao vivo: Felipe
Parisi (violoncelo), Luiz Aranha (violão) e Betinho Sodré (percussão).
Cenário e figurinos de Zé
Henrique de Paula iluminados por Fran Barros emolduram com muita elegância o
espetáculo.
Inês Aranha preparou o elenco
do qual deixamos para escrever por último: mais uma vez neste ano volto a me
emocionar com o trabalho de jovens atores que se propõem a realizar trabalho
sério e consequente sem se iludir com o apelo global e o cultivo da
celebridade. É notável o rendimento dessa rapaziada egressa de oficina realizada
pelo Núcleo Experimental, alguns deles em sua primeira experiência teatral. Compensam bravamente a justificada inexperiência com a energia e o entusiasmo com que se entregam ao trabalho. O
elenco de oito atores é homogêneo e versátil, desdobrando-se na interpretação
das mais de vinte personagens exigidas pela peça. Não tenho como não destacar
os trabalhos de Luiz Rodrigues como o apaixonado Lisandro e o hilário “Muro” e
de Beatriz Amado (um delicioso Puck) que interpreta, canta e de lambuja toca
flauta muito bem! Completam o elenco: Andressa Andreatto (Helena/Fominha),
Marcos Teixeira (Demétrio/Marmelada), Miriam Madi (Hipólita/Titânia), Leandro
Oliveira (Teseu/Oberon), Tito Soffredini (Egeu/Nico Bunda) e Júlia Maia
(Hérmia/Fofolete).
Realização extremamente feliz
conjugando texto e música, Sonhos Não
Envelhecem respira juventude e alegria de viver, alertando, porém, que
vivemos em tempos sombrios e que é importante que nos munamos de energia para
enfrentar o que vem por aí. ISSO NÃO É POUCO!
SONHOS NÃO ENVELHECEM está em
cartaz no Teatro do Núcleo Experimental às quintas e sextas às 21h e aos
sábados às 16h. R$40,00. NÃO DEIXE DE VER.
19/11/2016
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