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sexta-feira, 3 de março de 2017

MATERIAL BOND


        Uma breve pesquisa sobre a vida e obra de Edward Bond (dramaturgo, diretor, poeta e teórico inglês nascido em 1934) nos mostra que ele é autor de mais de 50 peças de teatro, tendo escrito longos prefácios para essas peças, além de textos teóricos com suas reflexões sobre capitalismo, violência, tecnologia e pós-modernismo.
        Curiosamente é um autor pouquíssimo encenado no Brasil. Em São Paulo, sua peça mais famosa Salva (Saved) foi montada em 1975 por iniciativa de Miriam Mehler e dirigida por Ademar Guerra e depois disso outra peça sua foi montada por Fernando Kinas em 2001 (informação constante do programa de Material Bond). E é só! A biografia de Bond comenta que apesar de ser um dos maiores dramaturgos ingleses, ele e sua obra continuam a ser bastante controversos devido à violência mostrada em suas peças, o radicalismo de sua postura em relação ao teatro moderno e suas teorias sobre o drama.
        Em função disso tudo é extremamente bem vinda esta montagem da Kiwi Companhia de Teatro onde o encenador Fernando Kinas faz colagem dos textos teóricos e das fábulas (histórias muito parecidas àquelas criadas por Brecht, tanto na forma como no conteúdo) de Bond, sempre denunciando as desumanidades geradas pelo capitalismo e pela ânsia por dinheiro, além dos horrores das guerras provocadas por tiranos e ditadores. A encenação tem grande suporte nos slides apresentados em grande tela onde prisioneiros de campos de concentração são mesclados com jovens apanhando das tropas de choque nas ruas brasileiras quando da realização de alguma manifestação e Hitler se apresenta ao lado de Alexandre Moraes revistando uma tropa. O espetáculo deixa claro que qualquer semelhança não é mera coincidência. A montagem busca a compreensão da realidade pela razão, mas não deixa de emocionar ao escancarar os desmandos aonde nossa pobre civilização chegou e ao clamar por justiça e liberdade. Busca também contemplar a questão estética com bem equilibrado espaço cênico criado por Júlio Dojcsar e iluminado por Clébio Souza.
        Fernanda Azevedo tem porte e talento para conduzir o espetáculo com a ótima colaboração do músico/ator Eduardo Contrera.
        Não podemos nos permitir as condições do caramujo que tem interrupções dos sentidos por três segundos. Alerta, sempre! Como dizia Caetano em Divino Maravilhoso: “É preciso estar atento e forte/Não temos tempo de temer a morte”
                MATERIAL BOND é espetáculo obrigatório para os dias em que vivemos. Está em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade de 02/03 a 25/03. Quintas e sextas às 20h e sábados às 18h. Grátis.


03/03/2017

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