Uma
breve pesquisa sobre a vida e obra de Edward Bond (dramaturgo, diretor, poeta e
teórico inglês nascido em 1934) nos mostra que ele é autor de mais de 50 peças
de teatro, tendo escrito longos prefácios para essas peças, além de textos
teóricos com suas reflexões sobre capitalismo, violência, tecnologia e
pós-modernismo.
Curiosamente
é um autor pouquíssimo encenado no Brasil. Em São Paulo, sua peça mais famosa Salva (Saved) foi montada em 1975 por
iniciativa de Miriam Mehler e dirigida por Ademar Guerra e depois disso outra
peça sua foi montada por Fernando Kinas em 2001 (informação constante do
programa de Material Bond). E é só! A
biografia de Bond comenta que apesar de ser um dos maiores dramaturgos
ingleses, ele e sua obra continuam a ser bastante controversos devido à violência
mostrada em suas peças, o radicalismo de sua postura em relação ao teatro
moderno e suas teorias sobre o drama.
Em
função disso tudo é extremamente bem vinda esta montagem da Kiwi Companhia de Teatro onde o
encenador Fernando Kinas faz colagem dos textos teóricos e das fábulas
(histórias muito parecidas àquelas criadas por Brecht, tanto na forma como no
conteúdo) de Bond, sempre denunciando as desumanidades geradas pelo capitalismo
e pela ânsia por dinheiro, além dos horrores das guerras provocadas por tiranos
e ditadores. A encenação tem grande suporte nos slides apresentados em grande
tela onde prisioneiros de campos de concentração são mesclados com jovens
apanhando das tropas de choque nas ruas brasileiras quando da realização de
alguma manifestação e Hitler se apresenta ao lado de Alexandre Moraes
revistando uma tropa. O espetáculo deixa claro que qualquer semelhança não é
mera coincidência. A montagem busca a compreensão da realidade pela razão, mas
não deixa de emocionar ao escancarar os desmandos aonde nossa pobre civilização
chegou e ao clamar por justiça e liberdade. Busca também contemplar a questão
estética com bem equilibrado espaço cênico criado por Júlio Dojcsar e iluminado
por Clébio Souza.
Fernanda
Azevedo tem porte e talento para conduzir o espetáculo com a ótima colaboração
do músico/ator Eduardo Contrera.
Não
podemos nos permitir as condições do caramujo que tem interrupções dos sentidos
por três segundos. Alerta, sempre! Como dizia Caetano em Divino Maravilhoso: “É preciso estar atento e forte/Não temos tempo de
temer a morte”
MATERIAL BOND é
espetáculo obrigatório para os dias em que vivemos. Está em cartaz na Oficina
Cultural Oswald de Andrade de 02/03 a 25/03. Quintas e sextas às 20h e sábados
às 18h. Grátis.
03/03/2017
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