Prepare
seu fôlego para os cortantes diálogos de Race,
outra peça de David Mamet encenada pela Cia.
Teatro Epigenia sob a direção de Gustavo Paso. Apresentada com o título
original norte americano que pode significar tanto Raça como Corrida (ambos
os títulos se adéquam à trama apresentada) Race
faz parte da Trilogia Mamet proposta pela Cia. da qual já
vimos a excelente montagem de Oleanna (*) e prepara-se para estrear no Rio de
Janeiro Hollywood (Speed-the-Plow) no mês de maio.
Um
homem branco é acusado de estuprar sua amante negra. Deseja contratar uma firma
de advocacia para defendê-lo, esta firma é representada por dois advogados (um
branco e um negro) e pela assistente deles também negra. Enquanto em Olleana o espectador dividia-se em dar a
razão ora a uma e ora a outra das personagens, aqui seu raciocínio é exposto a desafio
maior, pois a cada momento a razão parece estar com cada uma das quatro
personagens. Mamet faz esse jogo de maneira brilhante e após 75 minutos de
embate a peça termina sem oferecer respostas nem desfecho para o caso, mas com
uma série de perguntas que vai tirar o sono do público. O dramaturgo não é
maniqueísta e mostra que mais que uma questão de raça, o que rege a sociedade é
a manipulação de quem está com o poder (e na peça a cada momento o poder está
nas mãos de uma das personagens). De qualquer maneira fica claro que o
autor é absolutamente contra qualquer tipo de preconceito.
A
tradução cênica de Gustavo Paso para o brilhante texto de Mamet segue a linha
do não maniqueísmo deixando o espectador à mercê dos argumentos das personagens. Paso coloca o público disposto em duas plateias divididas pelo
espaço cênico fazendo os atores representarem de perfil durante a maior parte
do tempo o que provoca efeito perturbador, pois sentimos até o pulsar das veias
das personagens. A bela trilha sonora de André Poyart remete a um ícone do
final da década de 1970, o tema do filme Shaft
de Isaac Hayes. O cenário de Gustavo Paso e os figurinos de Luciana Falcon são
bastante discretos deixando o caminho livre para a atuação dos atores.
E
que atores! Pelo próprio desenvolvimento da trama cada ator tem seu momento de
destaque. Leandro Vieira representa o simpático advogado negro, aparentemente
aquele mais desprovido de preconceito. Clóvis Gonçalves é o acusado e o faz com
as nuances necessárias à personagem. Heloisa Jorge é a jovem assistente, talvez
a personagem mais ambígua da trama e a representa de modo exemplar sabendo mostrar
energia na hora certa. Gustavo Falcão é o advogado branco arrivista e presunçoso
e tem poderosa interpretação inscrevendo-se desde já num dos melhores
desempenhos masculinos do ano; a personagem não lhe dá trégua por nenhum
instante e ele se aproveita disso para mostrar sua energia e talento.
Nesses
tempos onde o ódio e a intolerância parecem dominar as relações entre as
pessoas, Race mais que necessária, É
OBRIGATÓRIA!
E
quando falamos em preconceito com negros, homossexuais, mulheres e pobres, é
bom que não nos esqueçamos dos índios. Enquanto negros foram escravizados, índios
foram dizimados. Heranças malditas deste país que o tempo vai demorar a apagar.
LUTAR SEMPRE!
RACE
está em cartaz no Viga Espaço Cênico até 31 de maio. ABRIL: Segundas e sábados
às 21h e domingos às 19h. MAIO: de segunda a quarta às 21h. NÃO DEIXE DE VER.
(*) Leia matéria neste blog:
http://palcopaulistano.blogspot.com.br/2015/06/oleanna.html
http://palcopaulistano.blogspot.com.br/2015/06/oleanna.html
02/04/2017
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