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sábado, 17 de junho de 2017

MIL MULHERES E UMA NOITE


       


        Em uma noite me referindo ao espetáculo Madame Satã escrevi “Quando, porém, a chama brilha tenho que agradecer ao universo por amar o teatro e insistir em frequentá-lo.”. Ainda não refeito dessa sensação eis que a chama voltou a brilhar na noite seguinte ao assistir a Mil Mulheres e Uma Noite, primeira incursão do grupo As Meninas do Conto no teatro adulto.
        As Meninas, que são exímias contadoras de histórias, tomaram como ponto de partida a mais célebre de suas colegas: nada mais, nada menos que Sheerazade!   Com a intenção de denunciar o mundo opressivo vivido por muitas mulheres, uniram-se a Cassiano Sydow Quilici para criar em processo colaborativo a dramaturgia que contempla não só trechos das mil e uma noites, mas também relatos contemporâneos sobre violência e abusos sofridos pelo sexo feminino. O resultado não poderia ser mais coerente.
        Diga-se que o elenco, só de mulheres, teve forte apoio masculino, não só por parte do dramaturgo, mas da sensível direção de Eric Nowinski. O encenador concebeu espetáculo itinerante que explora de maneira surpreendente os espaços do belo edifício que abriga a Oficina Cultural Oswald Andrade, criando cenas de rara beleza.
        As Meninas são excelentes atrizes e cada uma delas brilha em seu momento solo, mas não há como não destacar aquele de Norma Gabriel que é, sem exagero, arrebatador! Norma incorpora uma mulher que após vida relativamente boa envolve-se com belo jovem e por conta de incidente involuntário é torturada pelo companheiro e seus escravos transformando-se em verdadeira múmia viva. Gestos precisos, voz suave ou forte dependendo da situação, tornam a cena digna de qualquer antologia de interpretação. A atriz foi aplaudida em cena aberta!


        A direção musical e preparação vocal das atrizes é responsabilidade da nossa Midas que transforma em ouro todo trabalho que toca: Fernanda Maia. O elenco interpreta muito bem as canções coreografando-as (preparação corporal de Letícia Doreto) de maneira bela e harmoniosa. 
        Mil Mulheres e Uma Noite é longo na medida certa. Nas quase duas horas de duração percorremos os espaços, ora rindo, como na cena em que a cozinheira do palácio conta as razões pelas quais o sultão Sharyar quer assassinar todas as mulheres do seu sultanato, ora indignados, como quando somos confrontados com notícias de violência contra a mulher, e sempre encantados com a interpretação das atrizes.
        O espetáculo nos faz refletir sobre o fato que na maioria das vezes mulheres são molestadas por homens que só estão por aqui porque foram gerados e paridos por uma mulher. Assim rasteja a humanidade!
        MIL MULHERES E UMA NOITE está em cartaz na Oficina Cultural Oswald de Andrade às sextas às 21h e aos sábados às 20h até 30/06. O ingresso é gratuito e deve ser retirado uma hora antes da apresentação.

17/06/2017


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