Páginas

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

ENQUANTO CHÃO


        A primeira alegria foi conhecer a sede de A Próxima Companhia, mais um grupo jovem empreendedor e apaixonado pelo teatro que com a cara e a coragem cria seu próprio espaço. O teatro fica na Rua Barão de Campinas, 529 na Barra Funda, bastante próximo à Estação Santa Cecília do metrô. Sala de espera aconchegante dotada de bar, sala de espetáculos confortável e versátil e ainda uma área bastante grande para armazenagem de cenários e figurinos formam o espaço administrado por Caio Franzolin, Caio Marinho, Gabriel Kuster, Juliana Oliveira e Paula Praia, gente muito jovem nas mãos de quem está o futuro do teatro paulistano.
        A segunda alegria veio com o espetáculo solo de Caio Franzolin Enquanto Chão, criado a partir das pesquisas acadêmicas dele com Carminda Mendes André em Tocantins e em Minas Gerais. O objetivo da pesquisa era verificar o quanto a intervenção urbana estava ameaçando a cultura popular e os locais escolhidos foram Vila Canela/TO (inundação da Vila para construção de uma hidroelétrica) e em Patrimônio/MG (especulação imobiliária – surgimento de altos edifícios). O que poderia resultar em algo árido foi transformado em sólida e poética dramaturgia assinada por Solange Dias e posta em cena com muita criatividade por Rafaela Carneiro com interpretação deliciosa de Caio Frazolin.
        Narrando parte da trama e interpretando as personagens com que teve contato em suas andanças pelos locais pesquisados o ator se mostra em plena maturidade artística, algo notável para alguém tão jovem. O público interage com o ator de maneira natural e divertida desde a montagem do cenário até um gostoso forró, com direito a café, bolo, licor de jenipapo e até tubaína. Durante o forró tive a honra de fazer um bom arrasta pé com o ator Edgar Castro.
        Nesse clima festivo, Caio Frazolin mostra aos espectadores do que é capaz a força do dito “progresso” que literalmente com escavadeiras vai demolindo culturas centenárias transmitidas oralmente de pai para filho. Assim, se divertindo, refletimos sobre esses assuntos e essa reflexão pode ajudar na mudança de rumo deste país tão sem memória.
        O espetáculo, por seu tema, dialoga com outras excelentes encenações que já passaram pelos palcos da cidade: Dezuó de Rudinei Borges, Hotel Mariana de Munir Pedrosa (de volta ao cartaz, no Sesc Vila Mariana) e Os Atingidos de José Fernando Peixoto Azevedo. Todos eles, à sua maneira, denunciam os desmandos a que os brasileiros são/estão submetidos.

        ENQUANTO CHÃO fica em cartaz só até o próximo fim de semana (21/01) com sessões sexta (21h) e sábado e domingo (19h) no Espaço Cultural A Próxima Companhia.

15/01/2018


Nenhum comentário:

Postar um comentário